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Venezuela não trouxe nada positivo ao Mercosul, diz Macri

"O Mercosul é uma ferramenta que foi de avançada em seu tempo e hoje perdeu todo esse impulso com o qual começou, mas continua sendo válida", disse presidente


	Macri: "o Mercosul é uma ferramenta que foi de avançada em seu tempo e hoje perdeu todo esse impulso com o qual começou, mas continua sendo válida", disse presidente
 (Marcos Brindicci/Reuters)

Macri: "o Mercosul é uma ferramenta que foi de avançada em seu tempo e hoje perdeu todo esse impulso com o qual começou, mas continua sendo válida", disse presidente (Marcos Brindicci/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 28 de setembro de 2016 às 18h34.

Buenos Aires - O presidente argentino, Mauricio Macri, recebeu correspondentes do Estado de S. Paulo, da Folha de S. Paulo e de O Globo em sua residência oficial na manhã desta quarta-feira. 

Na entrevista, motivada pela visita do presidente Michel Temer a Buenos Aires na segunda-feira, Macri afirmou que a Venezuela "não acrescentou nada positivo ao Mercosul".

Além disso, disse que deseja que os venezuelanos possam se manifestar nas urnas, no referendo revogatório que a oposição pretende convocar ainda para este ano para decidir se o presidente Nicolás Maduro mantém ou não o mandato. Macri comentou também as mudanças políticas no Brasil, ressaltando que respeita o processo institucional do País e dizendo que ele pode sair fortalecido do quadro atual.

O novo presidente do Brasil virá a Buenos Aires, o senhor foi o primeiro em reconhecer seu governo, outros governos. Como avalia a situação do governo do Brasil na região? Pode dificultar o funcionamento do Mercosul, da Unasul? Acha que outros governos deveriam reconhecer o governo Temer?

Macri: Nós sempre respeitamos o processo institucional que seguiu nossa república irmã do Brasil. Não consideramos que tenhamos que expressar nenhuma opinião a respeito, porque acreditamos que tudo foi parte de um processo institucional que continua adiante.

O Brasil atravessando um processo crítico de repensar a forma de fazer política, do qual considero que o Brasil sairá fortalecido. Disse isso cada vez que fui ao país.

É um processo institucional que vai potencializar todas as qualidades do Brasil. Espero que no dia 3 de outubro, com a visita do presidente Temer ratifiquemos a vocação de dar impulso ao Mercosul.

Hoje temos um grande desafio pela frente que é o acordo com a União Europeia (UE). Isso deveria nos estimular a realmente dar uma maior fluidez ao Mercosul, com Uruguai e Paraguai e acho que existe vocação de ambas as partes, espero.

Espero porque o Mercosul é uma ferramenta que foi de avançada em seu tempo e hoje perdeu todo esse impulso com o qual começou, mas continua sendo muito válida.

Continua sendo muito importante para o Brasil e para a Argentina, que nos integremos, antes de nos integrar com o mundo. Espero que o coloquemos firme na agenda.

Em relação ao Mercosul, o bloco poderia pedir à Venezuela que realize o referendo revogatório ainda neste ano? O chanceler José Serra mencionou uma proposta argentina neste sentido.

Macri: Já me expressei publicamente, o povo venezuelano tem direito a expressar-se, sobretudo diante da violação sistemática dos direitos humanos cometida pelo governo de Nicolás Maduro.

Ainda não o vejo como parte da agenda no Mercosul, vamos ver no dia 3 de outubro quando falemos com o presidente Temer sobre o assunto.

Falta de apoio do Uruguai?

Macri: Não, ainda não se colocou uma posição assim como Mercosul. A Argentina a adotou como país, individualmente.

Mas a Argentina tem uma proposta?

Macri: Não fizemos nenhuma proposta nesse sentido.

E na segunda-feira?

Macri: Veremos, vamos falar em profundidade. Acho que tudo o que possa ser feito para ajudar os irmãos venezuelanos deve ser feito, estou aberto a todas as alternativas possíveis que permitam que haja referendo e assim ver se finalmente são realizadas eleições antecipadas na Venezuela.

Viu Maduro na Colômbia?

Macri: Estivemos no mesmo espaço físico, mas não o vi.

Não trocaram palavras?

Macri: Não.

O presidente de Peru, Pedro Pablo Kuczynski, disse que há que pressionar a Venezuela porque é muito perigoso o que pode acontecer se a Venezuela não resolver a crise política. O sr. concorda que há que aumentar a pressão? Como se faria isso?

Macri: Ao máximo possível. De toda maneira que for possível. Não é fácil a situação. Estou muito preocupado porque tomei posições claras em relação ao tema, mas o único que se vê de longe é que cada dia os resultados estão piores.

Sinto que o governo de Maduro radicaliza suas posições em vez de gerar uma abertura ao diálogo. Não tenho claro como vai evoluir o assunto.

Acredita que até 1º de dezembro a Venezuela poderia cumprir as normas do Mercosul ou inclusive seria mais conveniente ao bloco que as coisas fiquem como estão?

Macri: Na minha opinião, o ingresso da Venezuela não acrescentou nada positivo ao Mercosul. Assim que o Mercosul seguiria adiante de uma forma mais fácil sem a Venezuela de hoje que com a Venezuela de hoje.

Se refere às condições econômicas ou mais às questões democráticas?

Macri: Primeiro, ao não respeito às normas democráticas e segundo ao sistema econômico, que está em colapso na Venezuela.

Estaria então mais inclinado para que Venezuela baixasse de status de membro associado, como é Bolívia e Chile.

Macri: A Venezuela não cumpriu os requisitos que tinha que cumprir para ser um membro ativo do Mercosul. Se em 1º de dezembro não os cumpre, deixa de pertencer ao Mercosul.

Com relação à Venezuela e a outros assuntos de política externa, eventualmente a chanceler Susana Malcorra baixa um pouco o tom de suas declarações. Ocorreu com Malvinas, Venezuela, Mercosul. Há um ruído entre os dois?

Macri: Nenhum. Ela é a chanceler e eu sou o presidente. Me dou o direito de me expressar com claridade absoluta sobre o que penso e a chanceler faz a tarefa diplomática.

O que sentimos os argentinos é que temos que ser solidários com os venezuelanos. Na época da ditadura na Argentina, um dos países mais abertos a receber exilados argentinos foi a Venezuela. Devemos aos venezuelanos uma defesa irrestrita de seus direitos, que hoje são violados por um governo que atropelou as instituições democráticas.

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