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Venezuela mobiliza aparato militar ante ameaças de Trump

O treinamento foi convocado por Maduro, após a advertência dos EUA de que, se necessário, poderia intervir militarmente na crise

Um membro das Forças Armadas Bolivarianas aponta o rifle durante treinamento em Caracas, Venezuela (Andres Martinez Casares/Reuters)

Um membro das Forças Armadas Bolivarianas aponta o rifle durante treinamento em Caracas, Venezuela (Andres Martinez Casares/Reuters)

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AFP

Publicado em 26 de agosto de 2017 às 18h42.

A Venezuela mobilizou neste sábado (26) aviões, tanques e milhares de soldados e civis armados em exercícios militares ordenados pelo presidente Nicolás Maduro diante da "ameaça" militar e das sanções financeiras anunciadas pelo governo de Donald Trump.

Segundo Maduro, o "Exercício Soberania Bolivariana 2017" ocorrerá em todo o país até domingo. O treinamento foi convocado pelo presidente há duas semanas, após a advertência de Washington de que, se necessário, poderia intervir militarmente na crise política e econômica venezuelana.

"O povo e FANB (Força Armada Nacional Bolivariana) assumem a defesa do território e da soberania", tuitou Maduro.

A primeira jornada incluiu práticas de franco-atiradores do Exército, da Marinha, da Guarda Nacional e das Milícias. No domingo (27), serão realizadas manobras de combate, disse o ministro da Defesa, Vladimir Padrino.

Rodeado de soldados em uma zona montanhosa de Macarao, Padrino declarou que a ação será de "grande proveito para a defesa do país" em face da "agressão do império".

Participam dessa mobilização cerca de 200.000 soldados da FANB, junto com 700.000 milicianos, reservistas e civis.

Mísseis antiaéreos

No passado, Maduro já havia convocado exercícios similares, diante do que denuncia como um complô dos Estados Unidos para invadir a Venezuela e se apoderar de sua preciosa reserva petrolífera.

Aproximadamente 600 policiais motorizados, acompanhados do mesmo número de milicianos, desfilaram por uma avenida central de Caracas, portando um tipo de "míssil antiaéreo", como descreveu o ministro do Interior, general Néstor Reverol.

Também na capital, centenas de milicianos com roupas camufladas e chavistas vestidos de vermelho fizeram, debaixo de chuva, uma "marcha anti-imperialista". O destino era o principal complexo militar do país.

Na sexta-feira, um decreto assinado pelo presidente Trump - o primeiro que afeta o país, e não apenas indivíduos venezuelanos - proibiu negociar nova dívida emitida pelo governo da Venezuela e sua empresa petroleira estatal, a PDVSA.

Maduro qualificou tal ação como uma "agressão brutal", que poderia resultar em uma possível intervenção militar americana.

Padrino ressaltou que a FANB, à qual Maduro tem dado grande poder econômico e político, apoia "todas as medidas para compensar o bloqueio financeiro", que busca "asfixiar a Venezuela".

Em 11 de agosto passado, Trump advertiu que a "opção militar" estava na mesa, ainda que, desde então, funcionários do alto escalão de seu governo tenham negado essa possibilidade.

A embaixada de Washington em Caracas recomendou aos americanos residentes na Venezuela que se protejam das manobras, alertando para o risco da participação de civis armados.

Propaganda

O presidente justifica os exercícios como um enfrentamento aos Estados Unidos. Já a especialista em assuntos militares Rocio San Miguel os qualifica como "simples propaganda", que é do que Maduro precisa.

Internamente, "para aumentar o preço (a se pagar) de qualquer deslealdade na FANB, assunto que preocupa o serviço de Inteligência", e, externamente, "para reafirmar o discurso anti-imperialista que encontra solidariedade" regional, comentou San Miguel, em conversa com a AFP.

No início de agosto, cerca de 20 homens - entre eles três oficiais - atacaram uma estratégica guarnição militar localizada em Valencia e roubaram armas. Os líderes da operação, na qual dois dos alçados morreram, foram detidos.

Maduro também "precisa fazer crer que a Rússia, seu principal fornecedor de armas, constitui um aliado em matéria de defesa, elevando o custo americano por qualquer intervenção militar", assegurou San Miguel.

A pressão internacional contra Maduro aumentou depois da instauração da Assembleia Constituinte, promovida por ele, e que rege o país como um "suprapoder". Os Estados Unidos e uma dezena de governos latino-americanos classificaram-na como um passo firme rumo a uma "ditadura".

Sanções

Em meio às tensões, os Estados Unidos aplicaram as primeiras penalidades econômicas contra o país. Sanções individuais já haviam sido impostas a Maduro e a outros funcionários da Venezuela, acusados de quebrarem a "ordem democrática" e "violarem os direitos humanos" durante as manifestações opositoras que deixaram pelo menos 125 mortos entre os meses de abril e julho.

"É uma declaração de guerra econômica frente a qual não podemos responder de maneira convencional", argumentou neste sábado o ministro das Comunicações, Ernesto Villegas.

Maduro convocou as empresas americanas que compram petróleo venezuelano para uma reunião urgente em Caracas. Também forma convocados os que possuem bônus da dívida venezuelana, dos quais 62% - disse - pertencem aos Estados Unidos.

De acordo com o presidente, a Venezuela possui um "mercado seguro" para comercializar os 800.000 barris diários de petróleo que envia aos Estados Unidos, de uma produção total de 1,9 milhão.

O mandatário pediu à Suprema Corte e à Assembleia Constituinte que levem à Justiça casos de dirigentes da oposição, acusando-os de contribuírem para a imposição das sanções.

Nicolás Maduro se referiu, particularmente, ao presidente do Parlamento, Julio Borges. Nos últimos meses, o opositor viajou aos Estados Unidos e a outros países do hemisfério em busca de apoio contra o governo.

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