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Venezuela inicia saída da OEA em plena intensificação da crise

Em um fato sem precedentes na OEA, a Venezuela anunciou na quarta-feira sua saída da organização

Venezuela: o processo de retirada, que demora 24 meses, começará quando a Venezuela apresentar uma carta de denúncia (Stringer/Reuters)

Venezuela: o processo de retirada, que demora 24 meses, começará quando a Venezuela apresentar uma carta de denúncia (Stringer/Reuters)

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AFP

Publicado em 28 de abril de 2017 às 10h44.

Última atualização em 28 de abril de 2017 às 12h05.

O governo da Venezuela começa nesta quinta-feira seu processo de retirada da Organização de Estados Americanos (OEA), em meio a uma crescente pressão internacional e a uma onda de protestos que em um mês deixou quase 30 mortos.

Em um fato sem precedentes na OEA - Cuba foi expulsa em 1962 -, a Venezuela anunciou na quarta-feira sua saída da organização em função de o Conselho Permanente da instituição ter convocado uma reunião de chanceleres para avaliar a grave crise política que sacode o país.

"Tenho orgulho de dizer (...) que tomei a decisão de retirar nossa pátria da OEA, de libertar nossa pátria do intervencionismo (...). Estamos livres da OEA e jamais voltaremos!" - afirmou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, chamado de ditador pelo secretário-geral da OEA, Luis Almagro.

"Não reconhecemos qualquer reunião, qualquer decisão da OEA (...). A OEA, pro caralho! Luis Almagro, pro caralho! Fora OEA da Venezuela! A Venezuela se respeita e vamos nos fazer respeitar" - afirmou Maduro diante de uma concentração de mulheres chavistas em torno do palácio presidencial de Miraflores.

"Hoje é um dia de vitória para a Venezuela. Hoje amanhecemos mais livres, mais independentes", declarou a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez.

"O entreguismo de alguns países da nossa região terá um alto preço", disse a chanceler, ao chamar de "comparsas de Judas os que pretendem a intervenção".

A Venezuela pediu à Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) uma reunião para o dia 2 de maio, quando segundo Rodríguez se combaterá o "bullying diplomático" da OEA.

O processo de retirada, que demora 24 meses, começará quando a Venezuela apresentar uma carta de denúncia contra a OEA ao secretário-geral Luis Almagro.

Maduro enfrenta há um mês uma onda de protestos que exige eleições-gerais e que provocou violentos confrontos entre as forças de segurança e manifestantes, que já deixaram 28 mortos e centenas de feridos e detidos.

"É a pior decisão que o governo pode tomar e confirma que é um governo derrotado", reagiu o presidente do Parlamento de maioria opositora, Julio Borges.

Maduro afirma que a "direita venezuelana faz terrorismo para provocar o caos", como parte de um plano com os Estados Unidos para derrubá-lo e propiciar uma intervenção estrangeira.

O presidente americano, Donald Trump, declarou nesta quinta-feira que a Venezuela está uma "bagunça" e que fica "muito triste" pela situação do país.

A Eurocâmara pediu a Bruxelas que analise "outras medidas para restabelecer a plena democracia" na Venezuela e condenou "a repressão brutal" às manifestações.

A oposição realizou nesta quinta-feira uma sessão extraordinária do Parlamento em um estádio de Caracas, na qual pediu à comunidade internacional que exija do governo Maduro a antecipação da eleição presidencial, prevista para dezembro de 2018.

Ao acusar Maduro de romper "a ordem constitucional", o Poder Legislativo solicitou ativar os "mecanismos que a Constituição permite para a celebração de uma eleição presidencial antecipada ainda em 2017".

Os deputados pediram aos governos da América Latina e do Caribe, assim como a organismos como Nações Unidas, Organização dos Estados Americanos (OEA) e Mercosul, que pressionem Maduro para que estabeleça "de maneira imediata um cronograma eleitoral integral" que inclua as eleições de governadores e prefeitos este ano.

Para o dia 1º de Maio, sempre marcado por protestos chavistas, a oposição convocou uma "grande passeata", exatamente um mês após o início dos protestos.

Os seguidores do chavismo também protestaram nesta quinta-feira, se concentrando nos arredores do Palácio presidencial de Miraflores, no centro de Caracas.

Os protestos começaram depois que o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) assumiu, no fim de março, as funções do Legislativo, único dos poderes controlado pela oposição, embora tenha voltado atrás após forte reação internacional.

Para acalmar os ânimos, Maduro, que tem mandato até janeiro de 2019, diz querer eleições, mas se refere às regionais, que em 2016 foram adiadas ainda sem data prevista, descartando uma antecipação, como querem seus críticos, das presidenciais de dezembro de 2018.

A oposição chama Maduro de ditador e avalia que sua saída do poder é a única solução para a profunda crise política e econômica do país que tem as maiores reservas de petróleo do mundo.

Mais de 70% dos venezuelanos, segundo pesquisas privadas, reprovam a gestão de Maduro, cansados da escassez de alimentos e remédios, e de uma inflação que segundo o FMI chegará a 720,5% neste ano, a mais alta do mundo.

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