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Venezuela em compasso de espera de embate sem fim entre Guaidó-Maduro

O país está afundando na crise econômica, com inflação que pode chegar a 1.000.000% este ano, e com queda de 35% no PIB, de acordo com o FMI

Guaidó e Maduro: Venezuela vive há seis meses entre presidente autodeclarado, Juan Guaidó, e presidente eleito, Nicolás Maduro (Alexander MARTINEZ/AFP)

Guaidó e Maduro: Venezuela vive há seis meses entre presidente autodeclarado, Juan Guaidó, e presidente eleito, Nicolás Maduro (Alexander MARTINEZ/AFP)

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AFP

Publicado em 2 de agosto de 2019 às 15h37.

Última atualização em 2 de agosto de 2019 às 15h39.

Seis meses depois de se autoproclamar presidente em exercício, o líder oposicionista Juan Guaidó pode repetir à exaustão que o presidente Nicolás Maduro vai deixar o poder ainda este ano, mas os militares ainda apoiam o governo e uma invasão militar estrangeira parece cada vez menos provável ante o desencanto nas fileiras da oposição e nas ruas.

Para tentar ressuscitar essa esperança, Juan Guaidó encoraja os venezuelanos a não "se renderem". "Nós vamos chegar lá!", promete.

Menos de mil pessoas compareceram em 23 de julho para participar do evento parlamentar, realizado em uma praça de Caracas, seis meses após a proclamação do oponente de centro-direita.

"Não temos a impressão de que vamos ver uma mudança, mas no meio dessa imprecisão, um desfecho pode ocorrer a qualquer momento", afirma o analista político Luis Salamanca.

Enquanto isso, o país está afundando na crise econômica: a inflação pode chegar a 1.000.000% este ano, e o PIB deverá cair 35%, de acordo com as últimas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Além disso, novas sanções da administração de Donald Trump se multiplicaram nos últimos meses.

Em particular, foi imposto um embargo ao petróleo, além de sanções aos integrantes de mais alto escalão do governo, sem que isso forçasse a queda de Nicolás Maduro.

Sinal da deterioração da situação, Maduro autorizou em abril o envio de ajuda humanitária da Cruz Vermelha, uma concessão na posição irredutível de um governo que sempre negou a existência de uma crise no país.

Em meio a esse panorama sombrio, Juan Guaidó, que também preside o Parlamento, a única instituição do país mantida pela oposição, continua, apesar de tudo, sendo a melhor esperança dos críticos do poder.

Apesar de uma lenta erosão, a lacuna permanece clara: os números mais recentes do instituto de pesquisa Delphos situaram em 53% o nível de confiança dos venezuelanos em Guaidó, contra 12% para Maduro. Em maio, esses números foram de 59% e 15%, respectivamente.

"Várias rodadas a mais"

Guaidó, que também é reconhecido como presidente interino por mais de 50 países, incluindo os Estados Unidos, não conseguiu trazer o Exército para seu lado.

"Maduro e Guaidó são forças frágeis. A força real está do lado dos militares. É o que mantém Maduro no poder e pode desalojá-lo rapidamente. Os Estados Unidos de Donald Trump são os únicos a representar um problema sério para o governo", afirma Peter Hakim, do "think tank" Inter-American Dialogue, de Washington.

O ex-chefe de Inteligência da Venezuela, general Cristopher Figuera, que fugiu para os Estados Unidos depois de participar da rebelião, assegura que o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, também pretendia participar do movimento, antes de recuar no último momento.

Ao mesmo tempo, o líder da oposição concordou em enviar delegados para conversas com o governo com mediação da Noruega.

Para Hakim, a única solução pacífica será o Exército dar as costas ao presidente e que Washington aceite que os militares e alguns dos atuais líderes participem de uma transição, que deve incluir uma ampla anistia.

A possibilidade de uma intervenção militar de Washington parece estar cada vez mais distante.

"É muito improvável que Trump, a 15 meses de uma eleição, arrisque a ira de seus partidários apoiando uma intervenção armada", afirma o juiz Paul Hare, da Universidade de Boston.

Sem esquecer que o tempo está se esgotando para Guaidó: em janeiro próximo, sua presidência rotativa à frente do Parlamento termina e é nessa presidência que ele se baseia para se intitular legalmente como chefe de Estado interino.

"Guaidó é a única carta forte da oposição contra Maduro, que está tentando ganhar tempo e parece ter êxito nisso", adverte Luis Salamanca, para quem não há "vencedor nem perdedor".

"Maduro e Guaidó estão contra as cordas e abraçados, seja porque estão cansados, seja porque temem um golpe errado, mas ainda há vários 'rounds' nesse combate", completou Salamanca.

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