Primeira carga de ajuda humanitária enviada pelos EUA para atenuar a crise vivida na Venezuela chegou à cidade colombiana de Cúcuta (Marco Bello/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 8 de fevereiro de 2019 às 09h35.
Última atualização em 8 de fevereiro de 2019 às 09h36.
Caracas - A primeira carga de ajuda humanitária enviada pelos Estados Unidos para atenuar a crise vivida na Venezuela chegou nesta quinta-feira, 7, à cidade colombiana de Cúcuta, na fronteira entre os dois países. O carregamento de 50 toneladas, levado por caminhões, não cruzou a fronteira em razão da recusa do presidente Nicolás Maduro, que considera o envio um pretexto para uma intervenção americana no país.
O ministro da Defesa do Brasil, general Fernando Azevedo e Silva, afirmou em entrevista ao Estado, que o Brasil descarta a possibilidade de ingressar em solo venezuelano para realizar ações humanitárias, como o envio de mantimentos e medicamentos, ou apoiar uma intervenção militar. "Não tem posição de intervenção", afirmou o ministro. "Não recebi nenhum sinal político do Ministério das Relações Exteriores e da Presidência da República para realizar ajuda humanitária individualmente. Vamos ajudar por meio dos organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos."
Segundo o general, o risco de aumento de confrontos internos é hoje a principal preocupação dos militares brasileiros em relação à situação da Venezuela. O temor é que a degradação do quadro político leve a um impacto imediato na fronteira, com aumento do fluxo de refugiados busca de ajuda no Brasil. Ele afirmou que, apesar disso, o governo Jair Bolsonaro não cogita fechar a fronteira.
Juan Guaidó, líder opositor que se autoproclamou presidente da Venezuela no mês passado, disse que, se Maduro não permitir a entrada da ajuda humanitária, ele pretende convocar "centenas de milhares de pessoas" para a fronteira para pressionar o governo pela entrada de medicamentos e de alimentos no país. "Nosso objetivo é garantir o acesso dessa população a esses insumos. Isso significa mobilizar centenas de milhares de venezuelanos em territórios próximos aos pontos de entrega", disse Guaidó ao diário uruguaio El País.
Neste cenário, a Guarda Nacional Bolivariana teria de lidar com os mantimentos acumulados no lado colombiano e protestos do lado venezuelano da fronteira. Nos últimos dias, Guaidó tem dito que um dos objetivos da operação é estimular rupturas dos militares com Maduro.
"Faço um chamado às Forças Armadas: em poucos dias, vocês poderão escolher se estão do lado de alguém cada vez mais isolado ou se acompanharão os milhares de venezuelanos que precisam de comida e de remédios", escreveu Guaidó, também no Twitter.
Segundo analistas, a estratégia opositora colocará Maduro diante de uma escolha: negar a ajuda, aumentado ainda mais seu isolamento internacional, ou aceitá-la, concedendo uma vitória política à oposição. Nas duas opções, ele sairia enfraquecido.
"É uma situação similar à expulsão de diplomatas da embaixada americana: se ele interromper ou impedir a entrada da ajuda, atacando os comboios americanos, seria um ato hostil. Se ele permite a entrada da ajuda, reconhece que está debilitado politicamente", disse ao Estado Luis Vicente León, do Instituto Datanalisis. "A estratégia da oposição é colocá-lo cada vez mais perto de perder apoios e de reconhecer a própria debilidade."
Nesta quinta-feira, os EUA cancelaram os vistos de membros da Assembleia Constituinte da Venezuela, eleita com poderes legislativos, que substituiu a Assembleia Nacional, controlada pela oposição. "Estamos revogando vistos de membros da Assembleia Constituinte ilegítima", disse Elliot Abrams, enviado para a Venezuela do secretário de Estado, Mike Pompeo.
Em entrevista à Fox Business, Pompeo acusou o Hezbollah, movimento xiita libanês aliado ao Irã, de ter um papel importante na desestabilização da Venezuela. "As pessoas não percebem que o Hezbollah tem células ativas, que os iranianos estão afetando o povo da Venezuela e toda a América do Sul. Temos a obrigação de reduzir esse risco para os EUA." Segundo ele, a questão será debatida na semana que vem na conferência em Varsóvia, Polônia, sobre o Oriente Médio.