Polícia da Venezuela atira gás lacrimogêneo em manifestantes da oposição durante tumultos em Caracas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
Da Redação
Publicado em 9 de abril de 2014 às 16h25.
Caracas - O governo da Venezuela convidou formalmente nesta quarta-feira o cardeal Pietro Parolin, considerado o número dois na hierarquia do Vaticano, para mediar as conversas com a oposição, na esperança de conter a violência que já matou dezenas de pessoas nos piores no país distúrbios em uma década.
Em uma carta, o governo do presidente Nicolás Maduro pediu que Parolin, ex-enviado à Venezuela e atual secretário de Estado do Vaticano, seja nomeado "testemunha de boa fé" para um diálogo com o qual as duas partes finalmente concordaram depois de dois meses de protestos.
Um porta-voz do Vaticano confirmou a disposição da Igreja de mediar, mas não deu maiores detalhes.
A coalizão de oposição da Venezuela havia indicado que o atual enviado do Vaticano, Aldo Giordano, participaria das primeiras conversas formais, que devem começar na quinta-feira em Caracas. Os dois funcionários da Santa Sé são italianos.
Parolin, que representou o Vaticano na Venezuela entre 2009 e 2013, é um diplomata de carreira frugal e avesso à publicidade e, de acordo com aqueles que o conhecem, é a antítese de seus antecessores mais recentes.
O governo e a coalizão opositora Mesa de União Democrática (MUD) tiveram um primeiro encontro preliminar na terça-feira, concordando em iniciar um diálogo formal sobre problemas que vão do crime e das questões econômicas à detenção de manifestantes.
Entretanto, manifestantes radicais não estão contentes com as conversas, dizendo que não deveria haver diálogo enquanto um dos líderes dos protestos, o ex-prefeito Leopoldo López, e outros continuarem na prisão.
"Não acreditamos em um ‘diálogo' que o regime pretende ser um show político... nossa organização não irá chancelar nenhum diálogo com o regime enquanto a repressão, o aprisionamento e a perseguição de nosso povo continuarem", disse o partido Vontade Popular, de López.
Com as Forças Armadas aparentemente ao seu lado, e a oposição incapaz de atrair os milhões que esperava, o presidente Nicolás Maduro não parece estar ameaçado.
Mas ele enfrenta um desafio considerável para remediar algumas das causas da crise, como a maior inflação das Américas, falta de produtos básicos, um setor privado hostil e índices de violência que estão entre os mais altos do mundo.
Centenas de pessoas foram feridas e presas desde que os protestos começaram. Os mortos, que chegam a 39 de acordo com o governo, incluem apoiadores de Maduro, oposicionistas e membros das forças de segurança.
Maduro, um ex-motorista de ônibus de 51 anos, fez da preservação do legado socialista de seu padrinho e antecessor, Hugo Chávez, o princípio central de seu governo. Mas oposicionistas dizem que ele está arruinando a Venezuela por se ater a um modelo fracassado e autoritário.
Chanceleres d União de Nações Sul-Americanas (Unasul) estão mediando as conversas.