Mulheres de burca no Afeganistão: uso da vestimenta deve se tornar obrigatório (SAJJAD HUSSAIN/AFP via Getty Images/Getty Images)
Carla Aranha
Publicado em 17 de agosto de 2021 às 11h42.
Última atualização em 17 de agosto de 2021 às 15h21.
Dois dias depois da tomada de poder pelo Talibã no Afeganistão, as lojas que vendem burca, vestimenta que cobre as mulheres dos pés à cabeça -- e em geral acompanha um véu preto -- estão lotadas. Sob as leis do Talibã, o uso da roupa é obrigatório. Enquanto boa parte do comércio permanecia fechado nesta terça, 16, em Cabul, a capital, os vendedores de burcas conseguiam fazer negócio, segundo a rede CNN. Outros lojistas preferiram aguardar um pouco mais, temerosos de eventuais represálias do Talibã, antes de abrir as portas, relatou a emissora de televisão. As universidades também esvaziaram, de acordo com a agência de notícias Bloomberg.
Para muitas mulheres no Afeganistão, especialmente as mais jovens, a burca é uma novidade com a qual elas não estão acostumadas. Agora, com a volta do Talibã ao poder, preceitos rígidos da lei islâmica deverão ser novamente respeitados.
Nesta terça, 16, um pequeno grupo de mulheres ensaiou um protesto na capital Cabul. Apesar das promessas do Talibã em evitar ondas de repressão, há o forte temor de que as mulheres sejam proibidas de trabalhar e estudar, como já aconteceu no passado. Em locais que já foram governados por organizações fundamentalistas, como o Iraque, que esteve sob domínio do Estado Islâmico entre 2014 e 2017, mulheres não podem sair de casa sem a presença de uma figura masculina e, mesmo assim, só têm permissão para fazer compras básicas e ir ao médico.
First protest of women in Kabul.#Afghanistan
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Para aquelas que não estão acostumadas, também não é fácil usar a burca. No verão, quando as temperaturas atingem facilmente mais de 35 graus Celsius, a roupa pode virar um tormento. "As mulheres acabam sendo despersonalizadas, já que geralmente só parte do rostos e os olhos não precisam estar cobertos", diz a arqueóloga iraquiana Layla Ameri, de Mossul, no Iraque.
Em cidades como Herat, a terceira maior do país, as alunas foram dispensadas das aulas na universidade e nas escolas. "Estou profundamente preocupada com mulheres, minorias e defensores dos direitos humanos. Poderes globais, regionais e locais devem fornecer ajuda humanitária urgente e proteger refugiados e civis", disse a ativista paquistanesa Malala Yousafzai, que foi baleada pelo Talibã em 2013 por frequentar a escola.
Sob as regras de grupos extremistas, também não há muita liberdade para os homens e menos ainda para a comunidade LGBT+, sujeita a punições e à morte. "Em Mossul, houve casos de pessoas empurradas do alto de prédios", diz Ameri.
Os artistas também costumavam ser perseguidos, assim como profissionais de áreas consideradas não essenciais, como história e filosofia. "Por isso, muita gente fugiu, como foi o caso de minha família", afirma Ameri.