Apoiadores com cartazes de Abdel Fattah al-Sisi celebram na praça Tahrir, no Cairo (Amr Abdallah Dalsh/Reuters)
Da Redação
Publicado em 29 de maio de 2014 às 19h10.
Cairo - O ex-chefe do Exército egípcio Abdel Fattah al-Sisi venceu com grande folga a eleição presidencial nesta quinta-feira, mas o baixo comparecimento às urnas ameaça privá-lo da legitimidade de que precisa para consertar a economia e enfrentar a insurgência islâmica.
Sisi conquistou 93,3 por cento dos votos, informaram fontes judiciais, depois que a maioria deles terminou de ser contada após os três dias do pleito. Seu único adversário, o político esquerdista Hamdeen Sabahi, teve 3 por cento, enquanto 3,7 por cento dos votos foram declarados nulos.
Mas a participação dos eleitores, menor do que a esperada, despertou dúvidas sobre a credibilidade de um homem idolatrado por seus apoiadores como um herói que pode trazer estabilidade. As apostas são altas para Sisi em um país no qual as manifestações de rua ajudaram a depor dois presidentes em três anos.
Na série de entrevistas que deu à televisão antes da votação, muitos egípcios sentiram que Sisi não formulou uma visão clara de como irá lidar com os problemas do Egito, em vez disso conclamando a população a trabalhar duro e ser paciente.
Ele apresentou planos vagos para remediar a economia, que sofre com a corrupção, o alto desemprego e um déficit orçamentário crescente, agravado por subsídios aos combustíveis que podem custar quase 19 bilhões de dólares no próximo ano fiscal.
“No geral, o baixo comparecimento tornará mais difícil para Sisi impor as reformas econômicas dolorosas que as instituições internacionais e os investidores estão exigindo”, disse a analista da consultoria IHS Jane's, Anna Boyd, sediada em Londres.
Os investidores querem que Sisi corte os subsídios de energia, imponha um regime de impostos claro e ofereça diretrizes para a direção da taxa de câmbio.
O comparecimento foi de cerca de 46 por cento dos 54 milhões de eleitores do Egito, disse o governo, menos que os 40 milhões de votos ou 80 por cento dos eleitores que Sisi pediu na semana passada.
Também foi menos que os 52 por cento da eleição presidencial vencida em 2012 por Mohamed Mursi, líder islâmico e membro da Irmandade Muçulmana que Sisi depôs no ano passado na esteira de protestos de rua contra o seu governo.
Uma visita da Reuters pelas seções eleitorais indicava a pouca participação. Muitos egípcios disseram que os eleitores ficaram em casa por causa da apatia política, da oposição a outro militar como presidente, do descontentamento com a supressão de liberdades entre a juventude liberal e dos pedidos de um boicote por parte dos islâmicos.
“Estas eleições foram uma encenação, uma farsa”, afirmou Mahmoud Ibrahim, de 25 anos, morador do distrito de Imbaba que não votou. “O comparecimento foi baixo, mas a mídia irá mentir ao povo, tudo por causa daquele homem”.
Sabahi admitiu a derrota, mas rejeitou os números oficiais da votação, que viu como muito altos, classificando-os como “um insulto à inteligência dos egípcios”.
Sisi foi adulado por muitos depois de derrubar Mursi, cujo único ano de governo foi maculado por alegações de que ele usurpou o poder e lidou mal com a economia.
Sisi ainda enfrenta a tarefa de reprimir uma insurgência islâmica armada e eliminar qualquer ameaça da Irmandade Muçulmana que, como força política mais bem-organizada do país, venceu todas as eleições desde a queda do presidente Hosni Mubarak em 2011.