Bandeira do Vaticano (Bloomberg / Victor Sokolowicz)
Da Redação
Publicado em 4 de outubro de 2015 às 14h57.
O sínodo ou assembleia de bispos que será inaugurado no domingo no Vaticano abordará os mesmos temas delicados que geraram, há um ano, uma forte controvérsia dentro da Igreja católica, uma batalha que marcará família católica do século XXI.
Comunhão aos divorciados que se casam novamente
A questão que mais agita os debates é a permissão de comunhão para os divorciados que se casam novamente ou que vivem uma nova união.
Este assunto suscita um debate de caráter teológico complexo, quase inexplicável para uma parte dos crentes, que não compreendem por que não se pode comungar nesta situação, como se o divorciado em uma nova união fosse um "adúltero" imperdoável.
A chamada "indissolubilidade" do casamento divide a opinião de conservadores e progressistas, que chegaram a pedir modificações na doutrina para que esses católicos recebessem permissão à comunhão.
Com uma decisão astuta, o papa Francisco simplificou em setembro os procedimentos legais para a anulação do casamento e é possível que em alguns anos os casos se reduzam significativamente em todo o mundo.
Homossexualidade
Oferecer uma palavra oportuna aos casais católicos do mesmo sexo é um dos pontos em que os participantes concordaram no último sínodo.
Mas, reconhecer o "valor moral" que existe entre esses casais ainda provoca discórdia.
O sínodo vai condenar sem dúvida as leis que legalizam o casamento gay, bem como a chamada "teoria do gênero".
Outro fenômeno muito atual que será abordado é o da família monoparental e a disseminação das barrigas de aluguel.
União estável
Uma das novidades do sínodo de 2014 foi o reconhecimento como um fenômeno muito comum entre os católicos, sobretudo entre os mais jovens, da convivência. Não é mais condenada. Há propostas para que haja um incentivo à convivência estável antes de um casamento católico, de maneira que o casal esteja consciente e certo de que se trata de uma união para sempre.
O cisma branco e o cisma vermelho
Há dois setores, muito mobilizados e identificáveis: os ultra-conservadores e os progressistas.
Entre os dois sobrevive uma maioria com posições mais moderadas, matizadas segundo o assunto, com uma tendência em geral conservadora.
"O campo alemão", liderado pelos cardeais Walter Kasper e Rainhard Marx, tem o apoio de teólogos progressistas alemães, suíços, americanos. Prelados europeus, canadenses, australianos, asiáticos e latino-americanos se identificam com esse movimento.
Outro grupo de prelados é hostil a qualquer mudança na doutrina, especialmente os do sul do planeta, como os africanos, apoiados pelos americanos, italianos e poloneses.
É uma batalha de alto nível entre os que defendem a mudança e aqueles que se opõem fortemente a ela.
O papa Francisco deverá elaborar com base nos debates um documento papal, que geralmente não reflete a vontade da maioria.
Assim foi com Paulo VI com o tema da pílula anticoncepcional em 1968. Enquanto o papa condenava seu uso em sua encíclica, a maioria dos católicos do mundo aderiu ao "cisma estendido" do cardeal Kasper
O que é um sínodo
O inventor do sínodo foi Paulo VI, há 40 anos, em 1965.
Do grego, "caminhar juntos", a assembleia convida os bispos de todo o mundo a estudar os problemas da Igreja e aconselhar o papa. Não tem poder legislativo.
Este é um dos momentos mais democráticos introduzidos na instituição milenar, já que todos podem expressar livremente as suas opiniões. Enquanto decorre a portas fechadas, os jornalistas são informados por um porta-voz sobre as discussões.
No final dos debates, o Papa, que costuma frequentar as reuniões, recebe um relatório, com base no qual faz uma exortação apostólica.
Quarenta cardeais, 166 bispos, 22 de rito Oriental, 17 pares de leigos, 23 especialistas religiosos, 25 chefes de ministérios da Cúria (governo central) e representantes de outras confissões cristãs irão participar.