Bento XVI comenta caso do "VatiLeaks": o julgamento não põe fim às investigações sobre o roubo de documentos e nem exclui a possibilidade de Gabriele ter tido cúmplices (Andreas Solaro/AFP)
Da Redação
Publicado em 28 de setembro de 2012 às 14h16.
Cidade do Vaticano - Tudo pronto no Vaticano para o julgamento do ex-mordomo do papa, Paolo Gabriele, de 46 anos, acusado de roubo com agravantes de documentos reservados do papa Bento XVI, um processo que já se transformou no mais midiático da história da Igreja.
No meio de uma grande expectativa, o julgamento começará na manhã deste sábado no Escritório Judicial, localizado em um edifício próximo à Basílica de São Pedro. Por enquanto, ainda não há uma previsão de quanto tempo essa sessão durará.
Segundo fontes do Vaticano, espera-se que este julgamento dure poucos dias, já que todos desejam "resolver o mais rápido possível esse tema que só trouxe problemas".
O julgamento se abre como muitas dúvidas, já que é a primeira vez que o Estado da Cidade do Vaticano enfrenta um processo penal desta envergadura.
Anualmente, o Vaticano realiza cerca de 30 julgamentos, mas todos de menor escala, já que se trata de ladrões de carteiras e pequenos roubos ocorridos na Praça de São Pedro e na basílica vaticana.
Além de Gabriele, que é conhecido como "Paoletto" e pode ser condenado a até quatro anos de prisão, também será julgado o técnico informático Claudio Sciarpelletti, de 48, que é acusado de participação e pode pegar uma pena de até até um ano.
"Será um julgamento justo", assegurou Giovanni Giacobbe, promotor do tribunal de apelação do Vaticano, que ressaltou que o papa, como chefe do Estado da Cidade do Vaticano, pode exercer em qualquer momento sua prerrogativa de perdoar o mordomo. No entanto, como esse perdão não foi anunciado até agora, o mais provável é que o julgamento não tenha interrupções neste sentido.
Apesar de "Paoletto" já ter se declarado culpado, isso não influenciará a decisão dos juízes, já que quem assume a culpa pode estar, na realidade, dando cobertura para outras pessoas.
O Tribunal estará formado por Giuseppe della Torre, como presidente, Paolo Papanti Pelletier e Venerando Marano.
O juiz será o "Promotor de Justiça" do Vaticano, Nicola Piccardi, enquanto a advogada de defesa de Gabriele é Cristiana Arru.
Tanto Gabrieli como Sciarpelletti podem não comparecer ao processo, se ambos estiverem representados por seus respectivos advogados. Mas, segundo a imprensa local, eles deverão estar presentes.
Fontes da família do ex-mordomo disseram que Gabriele está muito preocupado pela repercussão que o caso pode gerar aos seus três filhos, que continuam vivendo no Vaticano.
Gabriele, que se encontra sob prisão domiciliar, segue cobrando seu salário mensal, confirmaram à Agência Efe fontes do Vaticano.
O julgamento começará com o relatório do juiz relator e depois discursará a defesa. A continuação seguirá de acordo com a decisão do promotor, sendo que a conclusão depende dos discursos dos defensores dos acusados, que, como contempla a Justiça vaticana, são sempre os últimos a discursar.
No caso de ambos serem condenados à prisão, os acusados cumprirão suas penas em prisões italianas, já que o Vaticano não tem uma penitenciária, apenas celas de segurança.
Durante o julgamento poderão ser chamadas várias testemunhas, já que a investigação cita eventuais cúmplices que se ocultam sob as letras "X" e "W".
Também não se descarta a possibilidade de convocação do secretário particular do papa, Georg Gänswein, responsável pelo escritório do qual Gabriele roubou e copiou os documentos vazados à imprensa e publicados no escandaloso livro "Sua Santidade".
Segundo o promotor do tribunal de apelação do Vaticano, o julgamento, que é publico, não permitirá a entrada de câmaras de televisão, rádios, gravadoras, telefones e outros aparelhos de comunicação.
O julgamento não põe fim às investigações sobre o roubo de documentos e nem exclui a possibilidade de Gabriele ter tido cúmplices.
Gabriele admitiu ter cometido o delito e, segundo os documentos do processo, o acusado afirmou ter atuado "por uma ordem" do Espírito Santo para acabar com o mal e a corrupção no Vaticano, além de defender o papa.