O Conselho Nacional de Secretários de Saúde dos Estados (Conass) afirmou em nota nesta sexta-feira que não exigirá a apresentação de uma prescrição médica para vacinar crianças contra a Covid-19 (Paul Hennessy/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)
Fabiane Stefano
Publicado em 7 de agosto de 2021 às 15h01.
Última atualização em 7 de agosto de 2021 às 15h05.
A Flórida se tornou, nas últimas semanas, um dos focos da pandemia de covid-19 nos Estados Unidos, com um forte aumento de infecções, inclusive entre crianças e adolescentes, motivo de preocupação alguns dias antes do início do ano letivo.
O estado do sudeste do país registrou na sexta-feira (6) seu recorde diário de casos desde o início da pandemia em março de 2020 (22.783), segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Como em outros estados do sul, como a Louisiana, a variante Delta - mais contagiosa - se espalhou rapidamente na Flórida entre a população não vacinada, que inclui muitos menores de idade.
A situação provocou a retomada do debate sobre a necessidade de proteger crianças e adolescentes antes da volta às aulas e gerou uma disputa política entre governadores republicanos e o presidente, o democrata Joe Biden.
Sara Medina está ciente do debate. Na quinta-feira, ela foi com seu filho de 12 anos, Jayden Noel, à FTX Arena em Miami, arenada do time local da NBA, para que ele fosse vacinado.
"Eu queria que meu filho fosse vacinado porque espero que ele volte para a escola em breve, e só quero ter certeza de que ficará bem", contou a mãe de 33 anos.
Até recentemente, o impacto da covid-19 em menores de 18 anos, a população menos exposta às formas graves da doença, era pouco discutido. Mas isso está mudando.
Cerca de 72 mil crianças e adolescentes contraíram a doença nos Estados Unidos entre 22 e 29 de julho, um número cinco vezes maior do que no final de junho, informou a Academia Americana de Pediatria na terça-feira. Quase 20 mil desses casos ocorreram na Flórida, de acordo com dados estaduais.
Apenas 1% dos menores infectados precisa de internação, diz Marcos Mestre, diretor do Hospital Infantil Nicklaus de Miami. Mas o contágio pode causar complicações para crianças e adolescentes com problemas de saúde, como diabetes ou excesso de peso, explica.
Essas complicações levaram a Flórida a liderar o número de hospitalizações pediátricas por covid-19 nos Estados Unidos, atualmente 143, à frente do Texas.
"É verdade que as crianças não adoecem como os adultos", lembra Mobeen H. Rathore, diretor do Departamento de Doenças Infecciosas e Imunologia Pediátrica da Universidade da Flórida. "Mas também adoecem, também são hospitalizadas, também entram na UTI e morrem de covid".
O especialista recomenda imunizar todas as crianças com mais de 12 anos de idade, enquanto os Estados Unidos não autorizam vacinas contra a covid-19 para menores dessa idade.
Diante da repercussão da pandemia, os CDC agora recomendam que alunos, professores e outros funcionários nas escolas usem máscaras, estejam ou não vacinados, para impedir a propagação.
Essa mensagem contrasta com a do governador da Flórida, Ron DeSantis, que assinou uma ordem executiva na semana passada para impedir que as escolas obrigassem seus alunos a usar máscaras.
O político republicano ameaçou retirar os fundos estaduais aos distritos escolares que não cumprirem sua ordem, provocando resistência de várias escolas.
Após dias de incerteza, o Departamento de Saúde da Flórida autorizou na sexta-feira as escolas a exigir o uso de máscaras em suas instalações.
Mas, na tentativa de agradar a todos, também deu permissão aos alunos para ignorarem a obrigação caso os seus pais assim desejem.
O debate transcendeu os limites da Flórida e chegou até a Casa Branca. Na terça-feira, Biden criticou DeSantis e outros governadores republicanos que se opõem às máscaras nas escolas.
"Se não vão ajudar, saiam do caminho", disse ele durante uma entrevista coletiva.
"Se mexer com os direitos na Flórida, vou ficar no caminho", respondeu DeSantis ao presidente na quarta-feira.
Alheia à disputa política, Sara Medina está contente, acima de tudo, que seu filho possa finalmente retornar a uma educação presencial após um ano "louco".
Jayden Noel concorda com sua mãe. "No ano passado, tivemos que ficar em casa o tempo todo e começava a ficar chato".
Em relação às máscaras, ele acredita que "é importante" usá-las, "para que todos fiquem seguros".
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