Aquarius: navio com pouco mais de 100 refugiados teve que mudar de rota por conta do estado do mar (Karpov / SOS Mediterranee / handout/Reuters)
AFP
Publicado em 14 de junho de 2018 às 18h44.
Autoridades e equipes de emergência preparavam seu dispositivo em Valencia, Espanha, para receber os mais de 600 migrantes a bordo do navio "Aquarius", alguns deles doentes e esgotados, mas sua chegada estava atrasada devido ao mau tempo no Mediterrâneo.
A Cruz Vermelha Espanhola anunciou em comunicado que "mobilizará nas próximas horas em Valência" suas equipes de emergência, integradas por mais de 70 pessoas que "oferecerão atendimento de saúde, psicossocial e insumos básicos" aos 629 migrantes rejeitados por Itália e Malta.
As equipes da Cruz Vermelha "também farão a identificação de menores desacompanhados e de mulheres grávidas, ou com crianças de pouca idade, que precisarão de apoio especial e assessoramento", acrescentou.
O navio pode chegar no domingo a esta cidade do leste da Espanha, dados os problemas que estão tendo na travessia. Nesta quinta-feira (14), o "Aquarius", com pouco mais de 100 refugiados, e os dois navios italianos que o acompanham transportando os outros, tiveram que mudar de rota por conta do estado do mar.
"O 'Dattilo', barco da Guarda Costeira italiana que guia o nosso comboio, decidiu mudar de itinerário. O 'Aquarius' navegará ao longo da costa leste de Sardenha para evitar o mau tempo e preservar os passageiros doentes e esgotados de uma situação insustentável", indicou no Twitter a ONG francesa SOS Mediterrâneo, que fretou o "Aquarius".
Segundo indicou à AFP a ONG Médicos Sem Fronteiras Espanha, nos navios vão migrantes de 26 nacionalidades: 23 africanas e três asiáticas (Afeganistão, Bangladesh e Paquistão).
"Estão com um alto nível de estresse", comentou o presidente da MSF Espanha, David Noguera, detalhando que viajam seis grávidas, 123 menores desacompanhados e 11 crianças de menos de cinco anos.
Os preparativos continuam por parte das autoridades locais e do governo socialista espanhol de Pedro Sánchez, que ofereceu acolher o navio após vê-lo parado a 30 milhas náuticas da costa maltesa pelo rechaço de Itália e Malta de abrir seus portos.
O Executivo diz agir por razões "humanitárias", mas também indicou que os que forem imigrantes econômicos se expõem a ser expulsos, como ocorreu com outros milhares que chegaram nos últimos anos à costa espanhola.
O ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, indicou nesse sentido que nas entrevistas com cada migrante "decidirão se é uma pessoa suscetível de proteção, ou não", e afirmou que "não vamos tratar de maneira diferente as pessoas que vêm no 'Aquarius'".
No caso dos que puderem ser expulsos, a incógnita está em saber qual será seu destino. Os sete centros onde costumam reter estes migrantes à espera de sua devolução estão saturados, segundo apontam o próprio governo e várias ONGs.
A vice-presidente do governo, Carmen Calvo, disse que certos migrantes suscetíveis de expulsão poderiam, contudo, ir para esses centros. Não obstante, apontou que os menores de idade "ficarão em Valência" por enquanto.
O caso do "Aquarius" também provocou uma crise diplomática entre Itália, transbordada pela chegada contínua de migrantes da Líbia, e França, que criticou o governo de Roma, do qual a extrema direita faz parte, por não abrir seus portos a este navio.
Nesta quinta-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, tentava apaziguar as tensões com a Itália, afirmando que nunca teve a intenção de ofender Roma ao criticar sua decisão de rejeitar o barco de resgate de migrantes.
De Valência, Carmen Calvo disse que a Espanha não tem problemas com França nem com Itália e que, neste caso, agiu "como a Constituição nos obriga" e "como parte da Europa".
Atualmente, a Espanha é a terceira via marítima de entrada de migrantes em situação irregular na União Europeia, ficando atrás de Itália e Grécia.
Ao longo de 2018, mais de 9.300 migrantes em situação irregular chegaram à costa da Espanha, mais que o dobro do que no mesmo período de 2017, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Até 10 de junho, 244 pessoas morreram nesta tentativa, frente a 61 no ano passado nas mesmas datas.