Cientistas questionam vacina da Rússia contra covid-19: "dados estranhos" (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 11 de dezembro de 2020 às 12h15.
Última atualização em 11 de dezembro de 2020 às 12h18.
A produção e distribuição de uma vacina contra a covid-19 vai mudar o cenário geopolítico, segundo Thiago de Aragão, mestre em relações internacionais pela Universidade Johns Hopkins. Na avaliação dele, que também é pesquisador do Center for Strategic and International Studies, nos Estados Unidos, a busca por um imunizante contra o coronavírus trouxe ainda um elemento interno, em que populações criaram aversões à vacina de alguns países.
“Estamos vendo em muitos países, aqui nos Estados Unidos também, algo que nunca existiu antes que é um posicionamento a favor ou contra a uma determinada vacina por conta da sua origem. Muitos brasileiros já tomaram uma vacina chinesa e nunca se deram conta ou pararam para pensar sobre a origem”, disse ele durante entrevista ao canal UM BRASIL, uma iniciativa da FecomercioSP, a qual EXAME teve acesso, com exclusividade.
Ele ainda explica que as negociações para vender a vacina trazem novos elementos nas relações internacionais. Aragão cita o caso da Arábia Saudita, que tem um histórico de relações com os Estados Unidos, e que vem aumentando o comércio com a China.
“A Rússia fabricando a Sputnik V, além dos objetivos emergenciais internos, ela observa a sua oportunidade de colocar a sua vacina em países que estão dividido entre EUA e China. Seria uma oportunidade da Arábia Saudita conseguir uma solução neutra”, afirma.
A distribuição ainda pode deixar tensões mais amenas, como as disputadas territoriais do Mar da China. Para o especialista em relações internacionais, a vacina coloca na mesma mesa países muito diferentes e que estão em tesões comerciais ou militares.
“A vacina traz novas conversas de interesses de cooperação entre países que não necessariamente se comunicavam em algumas esferas. Estamos vendo essas relações voltarem e eles de alguma forma começa a cooperar”, explica.
Ele ainda diz que a Índia é um país que desponta com grande importância na corrida da vacina contra a covid-19 por dois fatores: grande mercado consumidor e pode servir de ponto de distribuição para toda a Ásia, justamente por ser um polo tecnológico farmacêutico.
“A distribuição da vacina não é feita de uma única vez, precisamos de um tempo para imunizar. E uma vez que um país vira o fornecedor de uma determinada região, ele sabe que aquele fluxo vai continuar. E este fluxo continuando, tem uma relação de dependente e fornecedor. E isso pode abrir outros fluxos de importação ou exportação”, avalia.
Veja a entrevista na íntegra: