Kashiwazaki-Kariwa: mais de 6.000 funcionários circulam pela maior usina nuclear do mundo para manter instalações que não vendem nem um quilowatt de eletricidade há quatro anos (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 15 de setembro de 2016 às 18h05.
Todos os dias mais de 6.000 funcionários circulam pela maior usina nuclear do mundo para operar e manter instalações que não vendem nem um quilowatt de eletricidade há mais de quatro anos.
O zumbido da planta da Kashiwazaki-Kariwa, da Tokyo Electric Power Co. Holdings, se ouve todos os dias em todo o Japão, onde concessionárias de energia elétrica empregam milhares de funcionários e gastam bilhões de dólares esperando autorização para reiniciar as operações comerciais.
Com apenas três dos 42 reatores do país em funcionamento, elas apostam que um governo nacional comprometido com a energia nuclear será capaz de convencer as autoridades locais e uma opinião pública cautelosa que não acredita que foi feito o suficiente para garantir a segurança após a pior crise desde Chernobyl.
“Apesar dos gastos operacionais dos reatores que não geram energia continuarem sendo altos, as concessionárias preferem mantê-los abertos enquanto houver alguma chance de reativá-los”, disse James Taverner, analista da IHS Markit com sede em Tóquio.
“As concessionárias de energia elétrica já realizaram grandes gastos nas usinas para cumprir os novos padrões de segurança e os custos de desativação são consideráveis”.
Custos
As nove maiores concessionárias regionais gastaram mais de 1,5 trilhão de ienes (US$ 14,6 bilhões) em suas plantas nucleares no ano encerrado em março, segundo cálculos da Bloomberg com base nos últimos balanços. No mesmo período, essas usinas foram responsáveis por apenas 1,1 por cento da eletricidade do país.
O custo de operar as instalações nucleares do país era um pouco mais alto antes do desastre ocorrido em Fukushima em março de 2011, de cerca de 1,7 trilhão de ienes por ano, quando a energia atômica respondia por cerca de 30 por cento do mix energético do Japão.
A Tokyo Electric, também conhecida como Tepco, estima que reiniciar um dos reatores mais novos da Kashiwazaki-Kariwa – conhecida como KK – aumentaria a receita líquida em até 10 bilhões de ienes por mês.
Para aumentar a confiança na segurança de suas instalações, a Tepco, que tem sede em Tóquio, gastou 470 bilhões de ienes em barreiras contra enchentes, um quebra-mar de 15 metros de altura e um reservatório do tamanho de 30 piscinas olímpicas para fornecer água se a bomba de um reator parar de funcionar.
Ceticismo
A opinião pública japonesa é cética. A reativação dos reatores nucleares conta com a oposição de 53 por cento dos japoneses e o apoio de apenas 30 por cento, segundo uma pesquisa nacional realizada neste ano pelo jornal Mainichi.
Tribunais e governos locais são alguns dos maiores obstáculos para a reativação de mais reatores, fato que afeta a meta do primeiro-ministro Shinzo Abe de chegar a cobrir 22 por cento das necessidades de energia do país com energia nuclear até 2030.
Neste mês o Goldman Sachs reduziu sua meta de preços para as ações de seis concessionárias japonesas por causa do risco de demora na retomada das operações ou de novas paralisações.