A ONG uruguaia Movimento Saúde para Todos alegou nesta terça-feira que os responsáveis dos hospitais tinham conhecimento do que acontecia (Angelika Warmuth/AFP)
Da Redação
Publicado em 20 de março de 2012 às 20h16.
Montevidéu - A sociedade e o governo do Uruguai cobram explicações convincentes e buscam apurar responsabilidades no caso dos chamados 'anjos da morte', os enfermeiros acusados das mortes de pelo menos 16 pacientes em unidades de terapia intensiva.
Após a comoção de domingo quando foram presos os enfermeiros dos hospitais Maciel e da Associação Espanhola de Montevidéu por esses crimes - além de uma terceira pessoa acusada de acobertá-los -, associações de pacientes, funcionários de hospitais e o governo uruguaio buscam uma resposta sobre o incidente.
Por enquanto, além das investigações internas anunciadas imediatamente pelos hospitais envolvidos, a Justiça pretende interrogar autoridades hospitalares e médicos que assinaram as certidões de óbito das vítimas para saber se estavam cientes do que estava acontecendo e se tomaram alguma medida para evitá-lo.
Esta decisão se deve à denúncia da enfermeira que denunciou as mortes à polícia. Ela disse que, antes de levar o caso às autoridades, contou a seus superiores o que acontecia, mas, segundo sua versão, estes não fizeram nada a respeito.
A ONG uruguaia Movimento Saúde para Todos alegou nesta terça-feira que os responsáveis dos hospitais tinham conhecimento do que acontecia.
Alfredo Manitto, um dos porta-vozes da organização, disse à Agência Efe que um caso como esse 'deve ter muito mais de um cúmplice' e que certamente 'houve coisas que foram vistas por alguém mais', inclusive pelos médicos que assinaram as certidões de óbito.
'Os mecanismos de fiscalização não são cumpridos e todos, funcionários e pacientes, têm a responsabilidade de denunciar as coisas que veem, pois isso tinha sido visto e era de conhecimento público', denunciou Manitto.
Ao tempo, as investigações em curso buscam documentar o número exato de vítimas que, segundo o ministro do Interior, Eduardo Bonomi, será 'sem dúvida' muito maior que o confessado até agora pelos réus, suspeitos de agirem há vários anos.
Fontes ligadas ao Judiciário do Uruguai disseram à Efe que, embora os réus tenham confessado 16 assassinatos (cinco e onze cada um) nos interrogatórios de domingo, quando lhes foram mostradas fotografias, 'em ambos os casos os enfermeiros reconheceram ter perdido a conta'.
Numa primeira tentativa de explicar o ocorrido, as autoridades do Ministério da Saúde Pública (MSP), lideradas pelo ministro Jorge Venegas, deram uma entrevista coletiva na qual sublinharam que as mortes foram 'crimes' impossíveis de serem previstos.
Segundo esta versão, os enfermeiros davam drogas aos pacientes para matá-los durante as frequentes emergências em uma unidade de terapia intensiva (UTI) nas quais 'o atendimento de saúde prevalece sobre a fiscalização'.
'A fiscalização não falhou. O que falhou é que havia pessoas que, em vez de cuidarem dos pacientes, estavam planejando como roubar medicamentos para depois utilizá-los', disse Leonel Briozzo, diretor de Saúde do Ministério.
As autoridades apontaram a possibilidade de 'utilizar câmeras que funcionem como caixas-pretas de avião' para evitar casos como este.
Para impulsionar as investigações do caso, a Organização Pan-americana da Saúde (OPS-OMS) e as autoridades do MSP decidiram contratar um especialista para assessorar em temas de segurança para os pacientes e outro que colabore nas auditorias às unidades de cuidados especiais determinadas pelas autoridades.
Os dois enfermeiros permanecem presos, à espera da apresentação formal das acusações contra eles, o que deve ocorrer nas próximas horas. Seus advogados já disseram que a estratégia da defesa é enfatizar a possibilidade de os réus sofrerem problemas psiquiátricos.
A advogada do réu J.A.A, Inés Mazziotti, que também é amiga pessoal do enfermeiro, reconheceu que seu cliente é 'quase indefensível', pois confessou os crimes e se mostrou muito arrependido.