Tabaré Vázquez: "o processo (de julgamento político) foi um processo legal (...), mas o resultado do processo foi injusto" (Andres Stapff/Reuters)
Da Redação
Publicado em 5 de setembro de 2016 às 14h26.
O chanceler do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, anunciou nesta segunda-feira uma reunião do presidente Tabaré Vázquez com o colega brasileiro, Michel Temer, em função da Assembleia Geral da ONU em Nova York.
"Efetivamente, vai haver uma reunião entre os presidentes Temer e Vázquez" durante a Assembleia Geral das Nações Unidas que acontecerá este mês nos Estados Unidos, informou o ministro depois de uma reunião de gabinete, em declarações reproduzidas pelas rádios locais.
O anúncio acontece depois da emissão por parte de Vázquez de um polêmico comunicado após o impeachment da presidente Dilma Rousseff na semana passada, e a posse de seu vice Michel Temer como presidente até 2018.
"O governo do Uruguai considera uma profunda injustiça a destituição de Rousseff", assinalou a chancelaria em um comunicado emitido na quinta-feira, no qual não cita o novo presidente brasileiro.
O comunicado cita ainda a "legalidade evocada" da destituição de Dilma do poder no julgamento político realizado na quarta-feira passada no Senado brasileiro.
Nin Novoa participou na semana passada de uma comissão parlamentar bicameral na qual, segundo informaram fontes participantes no encontro à AFP, expressou que seu país reconhece o governo de Michel Temer como legítimo, e nesta segunda fez questão de reiterar esta posição, depois de duras críticas da oposição ao teor do comunicado.
"O Uruguai reconhece o governo Temer", enfatizou Nin Novoa, afirmando que "o processo (de julgamento político) foi um processo legal (...), mas o resultado do processo foi injusto", voltou a insistir.
O texto do comunicado e a postura ante o ocorrido no Brasil provocaram divisões dentro da Frente Ampla, esquerda, no poder, que tem setores ligados ao PT brasileiro e que classificaram de "golpe de Estado parlamentar" o processo de destituição de Dilma Rousseff.
O Uruguai passou por momentos de conflito nas últimas semanas com o Brasil, seu segundo sócio comercial depois da China, e sócio no Mercosul, justamente pela transferência da presidência do bloco comercial para a Venezuela.
Montevidéu concluiu seus seis meses frente ao grupo, deu por concluída sua gestão e, sem ato de transferência, a Venezuela assumiu a representação rotativa do Mercosul, que o Paraguai, Brasil e Argentina não reconheceram.
Desde então, a Venezuela convoca reuniões de coordenação nas quais participam apenas o Uruguai, e a Argentina, Brasil e Paraguai se reúnem em encontros nos quais também estão presentes representantes do Uruguai.
Neste sentido, Nin Novoa diz que o Uruguai tem o "objetivo de salvar o Mercosul", e que o governo Temer, o argentino Mauricio Macri e o paraguaio Horacio Cartes "estão na mesma sintonia" em termos de acordos de livre comércio, enquanto que a "Venezuela está por decisão própria fora destas negociações", entre outros, com a União Europeia.
O Mercosul exibe uma profunda fratura e desde que acabou a presidência uruguaia, no fim de julho, não houve reuniões com os cinco sócios presentes.