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União Europeia busca imagem de unidade sobre ataques aéreos na Síria

O Conselho da União Europeia expressou apoio ao ataque dos EUA, França e Reino Unido contra a Síria e pediu diálogo com a Rússia para resolver o conflito

Síria: "Sem a Rússia, é impossível resolver este conflito", disse diplomata alemã (Matthew Daniels/ REUTERS/Reuters)

Síria: "Sem a Rússia, é impossível resolver este conflito", disse diplomata alemã (Matthew Daniels/ REUTERS/Reuters)

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AFP

Publicado em 16 de abril de 2018 às 10h56.

Os países da União Europeia se limitaram, nesta segunda-feira (16), a manifestar sua "compreensão" com os recentes ataques aéreos ocidentais na Síria, defendendo o diálogo com a Rússia para conseguir chegar a um acordo político nesse país em guerra.

"O Conselho [da UE] entende que os ataques aéreos seletivos de Estados Unidos, França e Reino Unido (...) foram medidas específicas adotadas com o único objetivo de impedir que o regime sírio continue utilizando armas químicas", indicaram em uma declaração conjunta os chanceleres dos 28 países europeus.

Nos últimos dias, os europeus expressaram seu apoio aos recentes bombardeios como uma resposta ao suposto uso de armas químicas em 7 de abril por parte do governo sírio contra o bastião rebelde de Duma, situado perto de Damasco.

A ação não convenceu completamente todos os países. Alguns, como Itália e Luxemburgo, também membros da Otan, apontaram uma "intervenção cirúrgica (...) única", nas palavras do chanceler luxemburguês, Jean Asselborn, ao chegar à reunião em Luxemburgo.

Pela manhã, as declarações da chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, deixavam transparecer o clima de divisão. Sem nomear explicitamente os ataques aéreos, ressaltou, sobretudo, a posição comum da UE sobre a Síria: "um impulso ao relançamento do processo político liderado pela ONU".

E, para conseguir isso, os europeus reconhecem o papel fundamental que os principais aliados do presidente sírio, Bashar al-Assad, devem desempenhar.

"Sem a Rússia, é impossível resolver este conflito", disse o chefe da diplomacia alemã, Heiko Maas, antes de entrar na reunião.

Bloqueios russos

Aliado-chave de Damasco, a Rússia já bloqueou várias resoluções sobre a Síria no Conselho de Segurança da ONU. A última aconteceu há cinco dias para pedir que o ataque químico seja investigado.

O bombardeio de Reino Unido, França e Estados Unidos ressalta que "há uma linha vermelha em um certo momento que não se pode ultrapassar", afirmou o chanceler belga, Didier Reynders, sobre o suposto ataque químico que deixou mais de 40 mortos.

Reynders criticou o papel do bloqueio da Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas, já que "normalmente se deveria investigar rapidamente, obter provas e mostrar que podem ser adotadas medidas contra um país".

A relação com Rússia e Irã, outro aliado do presidente Assad, também faz parte da reunião dos ministros europeus das Relações Exteriores. Inicialmente, a pauta do encontro se concentraria no envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal e de sua filha em solo britânico.

Esse assunto também divide uma UE que quer mostrar unidade frente à Rússia. Ao todo, 19 de seus 28 membros decidiram expulsar diplomatas russos de seus territórios, a resposta mais forte dos europeus a esse ataque, pelo qual responsabilizam a Rússia de Vladimir Putin. Moscou nega qualquer envolvimento.

 Solução com Assad?

Os recentes acontecimentos na Síria trouxeram esse conflito de novo à ordem do dia e, nesse sentido, os europeus consideram fundamental a participação de Moscou e de Teerã para encontrar uma solução política no país.

"Espero que a Rússia tenha entendido agora que, após a resposta militar (...), devemos somar nossos esforços para promover um processo político na Síria que permita uma saída da crise", indicou no domingo o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian.

Embora o ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, tenha dito nesta segunda que os bombardeios não buscam mudar o governo na Síria, a UE vislumbra uma futura solução política sem Bashar al-Assad. Ele lidera o país desde 2000, após suceder ao pai, Hafez, no poder desde 1971.

Para Heiko Maas, "ninguém pode imaginar que alguém que usa armas químicas contra seu povo possa ser parte dessa solução".

Já a chefe da diplomacia europeia vinculou o futuro apoio econômico da UE a quando "o processo político estiver firmemente em marcha sob o patrocínio da ONU".

Um funcionário europeu de alto escalão foi ainda mais explícito, há alguns dias, vinculando a ajuda financeira internacional à reconstrução da Síria. O tema será tratado na segunda conferência de doadores na próxima semana em Bruxelas, para uma "transição" no país.

 

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