Deputada opositora Maria Corina Machado discursa durante protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2014 às 22h39.
Washington - A deputada opositora venezuelana María Corina Machado não conseguiu fazer suas denúncias nesta sexta-feira perante a Organização dos Estados Americanos (OEA), que evidenciou mais uma vez sua "divisão" em relação à situação na Venezuela, que torna "difícil" qualquer ação, nas palavras do secretário-geral do organismo, José Miguel Insulza.
Durante mais de oito horas de debate fechado à imprensa no Conselho Permanente da OEA, os países aliados da Venezuela fizeram uso de uma série de recursos de procedimento para impedir o discurso de Machado, que só pôde falar durante alguns segundos no final.
"Transmiti meu agradecimento ao governo do Panamá e a garantia e o compromisso que lutaremos até vencer", disse a jornalistas a própria Machado, que foi à sessão credenciada como representante alternativa do Panamá e se sentou na cadeira do embaixador, Arturo Vallarino.
"A mensagem ficou ainda mais clara transmitida com os fatos que com minhas próprias palavras", acrescentou em referência às muitas tentativas para evitar que discursasse. "Falei sobre a Venezuela com minhas palavras e com meu silêncio", ressaltou.
Machado tentava em seu discurso de hoje projetar um vídeo sobre a "repressão" nos protestos que a Venezuela vive desde o dia 12 de fevereiro, além de pedir à OEA que ative a Carta Democrática Interamericana, segundo explicou em entrevista coletiva prévia.
Concretamente, a opositora venezuelana buscava solicitar à OEA que convocasse uma reunião de chanceleres, emitisse uma resolução de condenação para pedir a libertação dos "presos políticos" e a "cessação da repressão", e enviasse à Venezuela uma missão liderada pelo ex-presidente da Costa Rica, Óscar Arias.
No entanto, desde o início da sessão, topou com impedimentos de procedimento, que começaram com uma votação para fechar à imprensa a sessão e repetir assim o esquema empregado durante as duas sessões sobre a Venezuela do início de março, algo que se alcançou por 22 votos a favor, 11 contra e uma abstenção.
Os obstáculos prosseguiram com a eliminação da agenda do ponto dedicado a tratar a crise venezuelana, o que se conseguiu com 22 votos a favor, três contra e nove abstenções; e continuaram com uma tentativa frustrada de encerrar a sessão e longos debates sobre qual era o tema que Machado pretendia abordar em seu discurso.
"Esta foi uma sessão rara, porque na realidade se esteve o dia todo em discussões de procedimento", disse Insulza a jornalistas.
O secretário-geral da OEA reconheceu que "nestes dias aconteceram coisas que nunca tinham acontecido antes", em referência à insistência em fechar a sessão à imprensa, mas ao mesmo tempo ressaltou que "as divisões persistem no interior do hemisfério a respeito a este tema, e isso torna muito difícil qualquer ação".
"A OEA pode ser eficiente se todos os países-membros ou a grande maioria estiverem de acordo em uma determinada linha de conduta. Mas se existem as discussões que existem hoje dia, nem a OEA nem a Celac, nem a Unasul, nem nenhum organismo pode ser eficaz porque são organizações de Estados, não são supranacionais", ressaltou.
"Os ânimos estão muito acirrados (...) mas a OEA não existe nem para pôr nem para tirar governos", destacou, insistindo que o organismo avançou em seu ponto de consenso: fazer "um chamado efetivo ao diálogo".
Por sua parte, o embaixador venezuelano na OEA, Roy Chaderton, considerou a sessão como "uma ratificação que a maioria de países (da OEA) apoiam a democracia e Estados Unidos e Canadá os golpistas", assegurou em declarações a jornalistas.
Apesar de, após o golpe de Estado de Honduras em 2009, ter cedido seu assento a Patricia Rodas, chanceler do derrubado Executivo de Manuel Zelaya, Chaderton ressaltou que existe uma diferença porque a ex-ministra "era uma funcionária de um governo que a Venezuela reconhecia" enquanto Machado é uma parlamentar.
"Tem mil espaços para falar, tem nada menos que o apoio do império e do subimpério, que é o Canadá", opinou Chaderton, que disse que pediu que a sessão fosse fechada "para evitar o circo".
Enquanto isso, a representante americana perante o organismo, Carmen Lomellín, considerou "muito triste que nesta organização ocorra isto, porque esta é uma organização que foi estabelecida com os princípios da democracia e dos direitos humanos, e é uma violação dos direitos humanos não permitir a uma pessoa, seja quem for, que se expresse perante os Estados-membros".
Lomellín propôs nesta sexta-feira que o Conselho Permanente convide a Unasul a enviar um relatório à OEA "imediatamente" depois que a missão de chanceleres desse organismo visite a Venezuela para facilitar o diálogo nesse país, onde incidentes de violência durante os protestos deixaram um saldo de 31 mortos e mais de 450 feridos.