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Uma em cada 5 pessoas na América Latina já sofreu extorsão sexual

Relatório da Transparência Internacional revela, primeira vez, casos de corrupção que envolvem assédio sexual

Protesto na Cidade do México: mulheres costumam ser mais vítimas de extorsão sexual (Carlos Tischler/NurPhoto/Getty Images)

Protesto na Cidade do México: mulheres costumam ser mais vítimas de extorsão sexual (Carlos Tischler/NurPhoto/Getty Images)

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AFP

Publicado em 23 de setembro de 2019 às 10h21.

Última atualização em 23 de setembro de 2019 às 10h33.

Uma em cada cinco pessoas sofreu extorsão sexual na América Latina e no Caribe, segundo a organização Transparência Internacional, que enfatiza que a corrupção avança e destrói os direitos dos cidadãos perante autoridades impassíveis e ineficientes.

O Barômetro Global da Corrupção, um relatório anual preparado a partir de entrevistas com 17.000 cidadãos de 18 países da América Latina e do Caribe, mostra que mais da metade dos cidadãos acredita que a corrupção está piorando em seu país e que seus governos fazem trabalho ruim para combatê-la, pecam por falta de integridade e laxismo.

Por exemplo, de acordo com a ONG, 91% dos venezuelanos "argumentam que seu governo está fracassando no combate à corrupção", assim como 79% dos panamenhos, 72% dos dominicanos e 54% dos brasileiros.

Como novidade, o relatório da Transparência Internacional quis explorar este ano a questão de gênero na corrupção e concluiu que muitas mulheres são forçadas a prestar favores sexuais para ter acesso a serviços públicos, como assistência médica e educação.

Segundo o documento, um em cada cinco cidadãos sofreu extorsão sexual ou conhece alguém que já passou por essa situação, e 71% dos entrevistados disseram que é um fenômeno que ocorre pelo menos ocasionalmente.

Os países com a maior proporção de casos notificados foram Barbados (30%) e Guatemala (23%). No Brasil foi de 20%.

Diante dessa situação, a organização pediu aos líderes políticos que "reconheçam e abordem as formas de corrupção que afetam principalmente as mulheres" e a aplicar o Compromisso de Lima sobre corrupção, adotado em 2018.

Subornos e compra de votos

No total, 85% da população da América Latina e do Caribe classificam a corrupção como "um grande problema", enquanto apenas 13% a consideram um problema menor.

No Brasil, a porcentagem chega a 90%.

"Os cidadãos têm o direito de denunciar a corrupção e esperar que os políticos atuem de maneira íntegra", disse Patricia Moreira, diretora geral da Transparência Internacional.

A organização também investigou os subornos quando se trata de ter acesso a serviços básicos, como atendimento médico ou a realização de um documento de identidade, por exemplo.

Do número total de pessoas pesquisadas, mais de uma em cada cinco (21%) pagou suborno para obter esses serviços.

A Venezuela é o único país de todos os observados, onde a maioria dos cidadãos, 61%, disse ter recebido pedido de subornos, segundo o relatório.

E essas práticas opacas ganham força em tempos de eleições, onde a compra de votos é uma prática comum em grande parte dos países pesquisados.

Segundo a Transparência Internacional, um em cada quatro dos entrevistados recebeu suborno durante as eleições nacionais, regionais ou locais.

Um hábito que geralmente é combinado com ameaças para que o eleitorado vote de uma certa maneira.

No México, uma em cada duas pessoas recebeu suborno em troca de seu voto e uma em cada quatro foi ameaçada de represálias.

Desconfiança

A Transparência Internacional adverte que essas práticas corruptas fazem com que os cidadãos percam a confiança nas instituições.

"Muitas vezes, presidentes, parlamentares e outros líderes políticos agem em favor de seus próprios interesses, às custas dos cidadãos aos quais devem estar a serviço", denunciou Delia Ferreira Rubio, presidente da Transparência Internacional.

Assim, na Venezuela, onde 87% dos entrevistados disseram que a corrupção havia aumentado em seu país nos últimos anos, 90% dos cidadãos afirmaram ter pouca ou nenhuma confiança na Justiça e na polícia.

No Brasil, onde a pesquisa abrange os três primeiros meses do governo de Jair Bolsonaro, o texto aponta que, "nos últimos oito meses, o quadro anticorrupção do Brasil sofreu uma série de golpes".

"O presidente (Jair) Bolsonaro tentou aumentar o escopo de informações confidenciais para reduzir a transparência e não deu muita atenção às acusações de corrupção contra membros de seu gabinete", insiste o texto.

Na Colômbia, El Salvador, Guatemala, Panamá e Peru, acontece o mesmo: 90% da população afirmou não confiar nessas instituições.

Além disso, 53% dos entrevistados acreditam que o cargo de presidente ou primeiro-ministro e o Parlamento são as instituições públicas mais corruptas.

Cinquenta e quatro por cento dos brasileiros apontaram que o quadro piorou nos últimos 12 meses; por outro lado 82% acreditam que podem fazer a diferença para reverter essa situação.

Represálias

O problema, lembra a ONG, é que a grande maioria dos cidadãos não conhece seus direitos. A este fato, soma-se o medo de represálias se denunciarem casos de corrupção, algo que acontece com 73% dos entrevistados.

Em alguns países, também há dúvidas sobre a eficácia das denúncias.

Enquanto no Brasil 57% da população acredita que a denúncia pode servir para que medidas sejam adotadas, na Venezuela apenas 19% acredita que pode ser eficaz.

Mesmo assim, 77% dos cidadãos argumentam que denunciar os fatos pode influenciar positivamente a luta contra a corrupção. Neste sentido, a Transparência Internacional insta os governos a "canalizar energia positiva" para "empoderar a população".

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