Picher: crise de saúde ambiental foi provocada por anos de escavação irrestrita e acúmulo de resíduos da mineração. (Seph Lawless ©)
Vanessa Barbosa
Publicado em 3 de abril de 2016 às 14h02.
São Paulo – “Se o mundo terminasse hoje, ele se pareceria com esta cidade”. É assim que o fotojornalista Seph Lawless descreve o lugar mais tóxico dos Estados Unidos, a cidade de Picher, em Oklahoma.
A cidade prosperou como nunca na primeira metade do século 20, como parte do cinturão de mineração do país. De sua terra saiu a maior parte do chumbo que abasteceu a artilharia americana durante as duas grandes guerras, e zinco suficiente para galvanizar a construção dos subúrbios americanos.
Quando o negócio definhou, em 1970, as empresas de mineração se mudaram de lá. Nos anos seguintes, Picher mergulhou na decadência econômica, que veio acompanhada de uma crise de saúde ambiental provocada por anos de escavação irrestrita e acúmulo de resíduos da mineração.
Mas foi só em 2006 que Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos ordenou a evacuação dos moradores remanescentes. Três anos depois, a administração local foi totalmente dissolvida. Atualmente, Picher é uma cidade fantasma com cenário pós-apocalíptico.
“Um lembrete constante do que acontece quando a humanidade não respeita a natureza e o meio ambiente”, diz Lawless, que tem uma paixão especial por fotografar lugares abandonados e a decadência urbana. Seu objetivo é bem claro: mostrar ao mundo cenários escondidos e esquecidos que ninguém que ver.
No caso de Picher, ele conseguiu acessar áreas restritas da cidade e captar imagens absolutamente desoladoras. Suas fotos foram reunidas em um novo trabalho intitulado '” O Prelúdio: A cidade mais mortal na América”.
Em entrevista à EXAME.com, o fotógrafo, que se identifica com um pseudônimo, por segurança (“é contra a lei invadir a maioria dos lugares onde vou”), conta que não foi difícil entrar na cidade tóxica.
“Isso é parte do problema. A área deveria ser melhor protegida para impedir o acesso do público. Eu podia sentir pequenas partículas do material tóxico batendo no meu rosto enquanto o vento soprava. Às vezes, eu podia até mesmo sentir o gosto”, relata.
No caminho de acesso à cidade, ele encontrou apenas placas com avisos do perigo e sinais de interdição, além de árvores caídas, mas isso não representou um obstáculo. Ao chegar nas imediações de Picher, ele precisou abandonar o carro e seguir a pé.
Segundo ele, a terra era tão perigosamente fina que poderia desabar a qualquer momento. Se o chão era uma ameaça, o horizonte extrapolava os riscos. Serras enigmáticas cercam a paisagem fantasma. “Esses montes de areia que aparecem nas fotos são resíduos tóxicos da mineração”, explica.
Através de imagens como essas, ele busca oferecer um “diagnóstico para alguns dos verdadeiros males do meu país e, finalmente, alguns dos problemas do mundo”, resume.
Ao ser questionado sobre uma possível visita ao Brasil para registrar a tragédia ambiental de Mariana, provocada pelo rompimento de uma barragem cheia de resíduo tóxico de mineração da Samarco, Lawless respondeu: “Eu ouvi sobre isso e gostaria de fotografá-lo trazendo mais consciência global para o problema. É uma tragédia para a região que mais pessoas precisam ver e aprender”.
Para conhecer mais do trabalho do fotojornalista, acesse seu site, Instragam, Twitter ou Tumblr.