Mundo

Um mundo com menos carbono em 2050 é possível, diz relatório

Estudo mostra pela primeira vez como 15 dos países mais poluidores, entre eles a China e os Estados Unidos, podem se "descarbonizar" até 2050

Foto de 26 de fevereiro de 2014 mostra poluição na Praça da Paz Celestial, em Pequim, China (©afp.com / MARK RALSTON)

Foto de 26 de fevereiro de 2014 mostra poluição na Praça da Paz Celestial, em Pequim, China (©afp.com / MARK RALSTON)

A

AFP

Publicado em 9 de julho de 2014 às 12h12.

Última atualização em 1 de abril de 2019 às 18h21.

Paris - Algo de concreto na mesa de negociações sobre as mudanças climáticas: um relatório, entregue nesta terça-feira ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, mostra pela primeira vez como 15 dos países mais poluidores, entre eles a China e os Estados Unidos, podem se "descarbonizar", ou seja, reduzir a concentração de carbono de suas atividades, até 2050.

A comunidade internacional estabeleceu como meta limitar o aquecimento a 2°C para evitar os efeitos catastróficos das mudanças no clima, mas "muito poucos países levaram a sério o que isto implica", destacou o "Projeto de Diretrizes de Descarbonização Profunda" (DDPP) em seu primeiro informe.

Os esforços atuais de redução dos gases de efeito estufa, entre os quais o dióxido de carbono (CO2) respondem por 76%, são muito marginais.

Para respeitar este teto de 2°C, além do qual "há um risco extremo para o futuro do bem-estar da humanidade", falta uma "transformação profunda dos sistemas energéticos e de produção, da indústria, da agricultura...", insistiu o informe.

Além disso, trinta instituições e grupos de pesquisa de Brasil, África do Sul, Austrália, Alemanha, Canadá, China, Coreia do Sul, França, EUA, Índia, Indonésia, Japão, México, Reino Unido e Rússia, que respondem por mais de 75% das emissões de gases de efeito estufa do mundo, se revezaram no desafio de responder à seguinte pergunta: o que falta fazer para em 2050 termos uma chance de estar a caminho da trajetória de 2ºC, sem emitir mais que 1,6 tonelada de CO2, em média, por pessoa, contra 5,2 toneladas, hoje?

Esta iniciativa, do Instituto do Desenvolvimento Sustentável (Iddri) e da Rede de Soluções do Desenvolvimento Sustentável, criada pela ONU, com vistas a apresentar cenários ambiciosos na mesa, esperando desta forma erguer o nível das ambições para a conferência do clima, em Paris, que deve conduzir a um acordo de redução dos gases-estufa envolvendo todos os países.

- Jogo de blefe -

"As negociações são um jogo de blefe. Quase ninguém vê o que faltaria fazer para estar nesta trajetória, porque dizem que os outros não fariam. Aqui, dizemos: 'Faremos todos, sem desculpas'", explicou à AFP o encarregado do projeto, Emmanuel Guérin.

O balanço: em 2050, as emissões de CO2 vinculadas ao consumo de energia (que não contam com o desmatamento e outras emissões da agricultura) poderiam ser reduzidas em 45% com relação a 2010 (de 22,3 bilhões de toneladas para 12,3 bilhões de toneladas), com uma redução de 56% por habitante.

A despeito das realidades muito diferentes, três grandes áreas se impõem: a eficácia energética, o que significa fazer melhor com menos energia (design dos carros, materiais de construção, etc), gerar energia elétrica sem carbono (fontes renováveis, nucleares, armazenamento de carbono, etc) e usar combustíveis menos poluentes (eletricidade, biomassa, etc).

A maior parte dos ganhos estão nos setores de produção de energia (-85% em 2050), residencial (-57%), transporte de passageiros (-58%). Ao contrário, descarbonizar o transporte de frete e a indústria parece mais difícil (+13% para o primeiro e apenas -14% para a segunda).

Este resultado não está completamente no curso dos 2°C, mas "já é muito substancial", destacou o informe.

Segundo Emmanuel Guérin, uma nova virada de mesa vai permitir homogeneizar os cenários, na medida em que alguns integram as tecnologias que ainda não estão operacionais, como a captura e o armazenamento de carbono. O mesmo vale para os carros elétricos, que alguns veem como o futuro do carro, enquanto outros ainda são reticentes.

"Vamos ver as hipóteses que todo o mundo pôs sobre a mesa e questionar se não há algo que possamos harmonizar, o que significa ir além para alguns", explicou Guérin.

Ban Ki-moon será o anfitrião, em 23 de setembro, em Nova York, de uma cúpula sobre o clima para dar um impulso político às negociações internacionais sob a égide da ONU.

O informe definitivo do DDPP será apresentado durante 2015. O documento levará em conta o aspecto financeiro das ações para pôr em andamento no horizonte de 2050, assim como a questão do financiamento.

Acompanhe tudo sobre:Aquecimento globalClimaEfeito estufaEmissões de CO2Meio ambiente

Mais de Mundo

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde

Cristina Kirchner perde aposentadoria vitalícia após condenação por corrupção

Justiça de Nova York multa a casa de leilões Sotheby's em R$ 36 milhões por fraude fiscal

Xi Jinping inaugura megaporto de US$ 1,3 bilhão no Peru