A história dos mineiros chilenos será a imagem do ano de 2010, segundo o The Times (Andrew Yates/AFP)
Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2011 às 23h45.
Copiapó - Eles ganharam fama, viagens e presentes, mas um ano depois do acidente que os manteve presos por 69 dias sob a terra, muitos dos 33 mineiros resgatados no Chile ainda lutam contra dois fantasmas: a insônia e as dificuldades para sobreviver.
Depois de deixarem as entranhas da mina, através de uma ambiciosa operação, os mineiros receberam tratamento médico e psiquiátrico. Só sete ainda continuam fazendo terapia, mas vários se queixam do trauma deixado, o que se manifesta em sintomas como irritação, pesadelos, ansiedade e dores no corpo.
"Embora a gente não queira, está latente essa lembrança, e daí vêm os pesadelos e as dores de cabeça... É uma sensação estranha nas pernas, que me dá vontade de me levantar e sair correndo, como um desespero", disse à Reuters Mario Gómez, o mais velho do grupo.
Ele contou que, dentro da mina, uma das coisas das quais mais sentia falta era da sua cama. Mas, agora, só consegue dormir duas horas, e acorda às 3h todo dia.
"Acho que todos nós, os 33, estamos com esse problema, muitos dizem que estão bem, mas parece que não estão tão bem. É um processo longo, do qual vai custar muito sair. O trauma que sofremos é forte demais", disse Gómez, que ainda recebe ajuda psicológica.
Alguns dos mineiros ganham dinheiro dando palestras. Outros foram convidados a programas de TV em vários países, como é o caso de Edison Peña, fã de Elvis Presley, que disputou a maratona de Nova York e cantou no programa de David Letterman.
Todos visitaram lugares como a Disneyworld e a Terra Santa, ganharam presentes e receberam ofertas milionárias para contar sua história em livros e filmes de Hollywood.
Mas eles dizem que não ganharam dinheiro com o drama, que vários estão desempregados, e que não se sentem totalmente reintegrados à sociedade.
Sobrevivência
Em Copiapó, cidade mais próxima do local do acidente, dois dos operários resgatados, Darío Segovia e Osmán Araya, montaram há três meses bancas para a venda de verduras em uma praça.
"Sou só um mineiro a quem coube uma desgraça e que tem passado muito mal, dinheiro não existe, não tenho grana, o que tenho é vontade de trabalhar e seguir em frente", disse Segovia.
Alguns metros à frente, Araya também tenta deixar para trás o passado de mineiro. A mulher dele, Angélica, que o ajuda na venda de frutas e verduras, diz que seu marido está diferente desde que saiu da mina. Mas ele ri e diz que não é pelo acidente, e sim pelo cansaço da vida de feirante.
"É um trabalho bem sacrificado, levantamos às 5h da manhã. Tem dias bons e ruins, mas recompensa os gastos. Pelo menos nos serve para sobreviver", disse.
Para celebrar o primeiro aniversário do acidente, os mineiros participaram de uma cerimônia religiosa, com música e com uma imagem da Virgem da Candelária, padroeira da categoria.
O presidente Sebastián Piñera -- que teve uma alta na sua popularidade depois do resgate, mas agora está com baixíssimo nível de aprovação -- entregou presentes aos mineiros na cerimônia.
Piñera foi insultado por pessoas da plateia que se manifestaram favoravelmente a reformas na educação, pleiteada por enormes manifestações estudantis, e contra a construção de uma usina termoelétrica na região.