Cerca de 5% dos escombros do terremoto foram removidos (Joe Raedle/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 7 de janeiro de 2011 às 14h29.
Porto Príncipe - Devia ser a ocasião para começar do zero, uma oportunidade para 'conjurar a maldição haitiana', como dizem seus habitantes, mas passado um ano do terrível terremoto de 12 de janeiro, o país continua mergulhado no caos e agora também pela cólera.
Eram 16H53. Os estudantes saíam dos colégios, os vendedores fechavam suas lojas, os haitianos regressavam paulatinamente para suas casas quando o movimento brusco interrompeu sua rotina.
Um longo e terrível terremoto de magnitude 7, o pior desastre natural nos últimos 30 anos no mundo, atingiu o país mais pobre da América.
Mais de 220.000 mortos e 300.000 feridos, incluindo milhares de pessoas que tiveram membros amputados. Um milhão e meio de pessoas sem teto. Um Estado aniquilado. O PIB inexistente. A sede da presidência e a sede da missão da ONU desabadas.
"Goudou Goudou", o monstro divino, como os haitianos chamaram o terremoto, colocou o país de joelhos.
Em poucos dias, centenas de socorristas, seguidos por um exército de jornalistas, chegaram ao Haiti. Os Estados Unidos enviam 20.000 soldados para organizar a ajuda e evitar que o país de idioma francês mergulhasse na anarquia.
Somas de dinheiro sem precedentes foram prometidas. Em março, em Nova York, uma conferência internacional fez subir para 10 bilhões a promessa de ajuda para reconstruir um país modelo.
Mas, in loco, a Comissão interina para a Reconstrução do Haiti, que administra os fundos, não consegue atuar e os campos de refugiados improvisados se perpetuam.
Porto Príncipe ainda dá a impressão de ser um grande acampamento de refugiados, segundo a Anistia Internacional.
As pessoas vivem em condições precárias e as mulheres enfrentam uma ameaça pior, o risco de serem estupradas, segundo o organismo.
"Um ano depois do terremoto, apenas 5% dos escombros foram removidos ", lamenta, por seu lado, a organização humanitária Oxfam.
Citando a ONU, a Oxfam acrescenta que apenas 42% dos 2,1 bilhões de dólares prometidos para 2010 foram desembolsados.
Apesar de haver mais de mil associações atuando no país, os projetos estão paralisados.
"O Haiti é uma república das ONG", afirma o chefe da missão da ONU, Edmond Mulet. Entretanto, persistem os problemas estruturais que havia antes do terremoto: a falta de um cadastro atrasa a construção dos 150.000 abrigos prometidos.
Passado o terremoto e quando se sentia relativamente a salvo da temporada de furacões, o Haiti pensou que podia se dedicar à campanha de sucessão do presidente René Preval, mas surgiu um novo desastre: a cólera.
Erradicada há mais de um século na ilha, a doença que ataca os pobres reapareceu em outubro no centro do país e rapidamente se propagou para a capital. Até o momento, mais de 3.300 pessoas morreram.
Apesar da violência contra os capacetes azuis - acusados de importar a doença do Nepal, segundo uma investigação internacional - as eleições foram realizadas em 28 de novembro.
Apesar da vigilância internacional, houve denuncias de fraude no dia da votação. A notícia da exclusão do pleito do popular cantor Michel Martelly enfureceu seus seguidores e os protestos se tornaram violentos.
A divulgação dos resultados finais foi adiada de forma indefinida, e ninguém sabe se o segundo turno - previsto para 16 de janeiro - será realizado.
Uma das muitas perguntas para as quais, no Haiti, não há respostas.