"Coletes amarelos" protestam contra o governo Macron em Paris (Charles Platiau/Reuters)
AFP
Publicado em 15 de novembro de 2019 às 09h35.
A cada sábado, Georges Louis, vestido com um colete amarelo, se manifesta em Paris junto a um grupo de apoiadores irredutíveis, decido a seguir com a luta contra a política de Emmanuel Macron, no aniversário de um ano da pior crise de sua presidência.
"O fato de que continuamos nas ruas é uma prova de que há graves problemas nesse país", afirma esse "colete amarelo", enquanto percorre com passo decidido a capital franceses de norte a sul, junto a centenas de manifestantes.
Esse movimento inédito, que colocou em xeque o governo de Macron há exatamente um ano, mostrou o profundo descontentamento das classes mais baixas na França pela perda do poder de compra, a alta dos impostos e a desigualdade social. Apesar disso, nos últimos meses os protestos perderam a força.
"Claro que não é comparável às primeiras mobilizações, mas continuamos aqui", afirma, impetuoso, esse homem de 45 anos que lidera a manifestação.
Dos 282.000 "coletes amarelos" que se mobilizaram em 17 de novembro de 2018, no primeiro dia de ação nacional, apenas poucos continuam, um "núcleo duro" que não está disposto a abandonar a luta.
Segundo Louis, "muitos deixaram de se manifestar quando o governo suspendeu a alta do preço dos combustíveis", um dos motivos do início das manifestações.
"Era uma reivindicação de muitos 'coletes amarelos', principalmente de zonas rurais e regiões afastadas de Paris", diz esse homem que tragalha em restauração.
O diesel devia subir 6,5 centavos e a gasolina, 2,9 centavos em 1 de janeiro de 2019, mas o executivo suspendeu a medida que incendiou o país com o fim da tentativa de apaziguar a cólera popular.
Na mente de todos os franceses ficaram as imagens de saques e violência nas Champs-Elysées, uma das principais avenidas parisienses. E o governo queria evitar a todo custo que momentos assim se repetissem.
"Mas muitos deixaram de vir às manifestações por mede da repressão policial, por medo de perder um olho ou uma mão", diz esse "colete amarelo".
No último ano, segundo um contagem feita pelos manifestantes, 23 pessoas perderam um olho após serem atingidos por balas de borracha e outros cinco tiveram as mãos amputadas na explosão de bombas de gás lacrimogêneo.
Mesmo assim, segundo as autoridades, por volta de 2.500 manifestantes e 1.800 policias ficaram feridos e 11 pessoas morreram, principalmente em acidentes de trânsito durante os bloqueios das estradas, desde o início do movimento.
Os últimos "coletes amarelos" esperam um novo impulso no primeiro aniversário da mobilização porque para muitos as causas que conduziram aos protestos há um ano não desapareceram.
Os manifestantes citam entre elas a "desigualdade crescente", a "má distribuição da riqueza" e a "falta de conexão entre os políticos e o povo".
"As pessoas continuam descontentes. Os trabalhadores, os aposentados, os jovens e famílias inteiras dizem ao governo 'Já basta!'", diz Inda Bigot, uma "colete amarelo" de 42 anos.
"Nem Macron nem nenhum outro político conseguirão fazer desaparecer esse despertar cidadão. Agora só falta um detonador para que os que são conscientes de tantas injustiças saiam às ruas", diz essa mãe de dois filhos, atualmente desempregada.
O movimento, cujo nome faz referência ao colete amarelo fluorescente obrigatório em todos os veículos de estrada na França, contempla também novas formas de mobilização para o segundo ano de protestos.
Até agora, esse coletivo apolítico que nasceu nas redes sociales se manteve longe dos sindicatos, mas foi chamado para unir-se a eles em uma grande mobilização nacional, em 5 de janeiro de 2020, contra uma explosiva reforma da aposentadoria que está sendo preparada por Emmanuel Macron para a segunda metade de seu mandato.
Também começa a ser sentida uma solidariedade com outos mobimentos que nascem além das fronteiras francesas, e nas últimas manifestações foram vistas bandeiras do Chile e do Líbano, países que vivem ondas de protestos.
"Os povos do mundo estão despertando", diz Carlos López, um "colete amarelo" chileno, exiliado político na França, de 71 anos.
Segundo Laurent Jeanpierre, professor de Ciências Políticas da Universidade Paris-VIII, seria um erro declarar o fim dos "coletes amarelos" simplemente por critérios numéricos.
"Não há dúvida de que houve uma perda de impulso na comparação com os protestos do ano passado. Mas os efeitos de um movimento smpre se ampliam além do momento da mobilização", disse em entrevista à AFP.
Segundo uma pesquisa da empresa Odoxa, para 43% dos franceses o movimento dos "coletes amarelos" não terminoue poderia ser reativado "a qualquer momento".