União Europeia: relações com Cuba não são as melhores desde que o bloco impôs em 2003 sanções ao país por causa da prisão de 75 dissidentes (REUTERS/Jon Nazca)
Da Redação
Publicado em 30 de janeiro de 2014 às 08h01.
Bruxelas/Madri - A União Europeia (UE) vai fechar um acordo no mês que vem para aprofundar as relações com Cuba, na mais significativa aproximação com a ilha comunista desde que o bloco suspendeu as sanções diplomáticas em 2008, disseram à Reuters pessoas próximas às discussões.
Ministros das Relações Exteriores dos 28 países do bloco darão o sinal verde em 10 de fevereiro para o lançamento das negociações com Havana sobre um acordo especial de cooperação para aumentar o comércio, o investimento e o diálogo sobre direitos humanos. O acordo pode ser selado no fim de 2015.
"Cuba quer capital, e a UE quer influência", disse uma pessoa envolvida nas discussões, que pediu anonimato devido à sensibilidade do tema. "Essa cooperação pode ser o início de muito mais." Duas outras pessoas que sabem das negociações disseram à Reuters que um consenso foi alcançado em Bruxelas para dar apoio às reformas do presidente cubano, Raúl Castro, e para posicionar bem as empresas europeias no caso de uma transição a longo prazo para uma economia mais capitalista.
Se o impacto inicial do acordo de cooperação será limitado, o simbolismo dele é enorme para a UE, cujas relações com Cuba não são as melhores desde que o bloco impôs em 2003 sanções ao país por causa da prisão de 75 dissidentes.
Embora a UE tenha suspendido as sanções em 2008, a normalização das relações tem sido difícil por causa da resistência da Polônia e da República Tcheca, devido ao passado comunista dos dois países.
Havana tem rejeitado a "posição comum" do bloco sobre o país, adotada em 1996 para promover direitos humanos e democracia.
Mais ainda, os Estados Unidos, tradicional oponente de Cuba, que mantêm um embargo contra a ilha desde 1962, pressionavam Bruxelas para tentar isolar Havana.
Washington não tentou bloquear os recentes esforços do bloco, disseram pessoas próximas às negociações, enquanto que a Polônia e a República Tcheca agora dão apoio a um acordo.
Num sinal de impaciência com o atual status quo, a Holanda enviou o seu ministro do Exterior à Havana em janeiro. A Espanha também pressiona por mudanças nas relações, desde que Fidel Castro passou o poder para o irmão Raúl em 2008.
Alguns países veem a "posição comum" de 1996 como ultrapassada porque 18 governos do bloco têm acordos bilaterais com Cuba, tornando difícil para UE falar com uma voz só sobre o assunto.
O ministro do Exterior da Espanha, José Manuel García-Margallo, tem frisado que a "posição comum" vai permanecer enquanto a Comissão Europeia negocia o pacto de cooperação.
Um acordo de cooperação, mecanismo que a UE usou no passado para fortalecer relações com a América Central e com a Ásia, não deve aumentar muito o comércio porque Cuba vende pouco para a Europa.
Além de charutos e rum, as exportações cubanas não despertam muito interesse no bloco, mas Bruxelas acredita que o desenvolvimento de negócios comuns é a melhor maneira de promover mudanças em Cuba.
A UE é o maior investidor externo de Cuba e segundo parceiro comercial da ilha, depois da Venezuela. Um terço dos turistas que os cubanos recebem todos os anos vem do bloco.