Luxemburgo - Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia (UE) se mostraram a favor nesta segunda-feira de esperar a reação da Rússia diante do plano de paz do presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, para o leste do país, antes de decidir se aplicam novas sanções a Moscou por seu papel na crise ucraniana.
"Para sexta-feira veremos como a Rússia está respondendo ao plano de paz, veremos como foram as reuniões nos próximos dias", declarou à imprensa o titular britânico, William Hague, em sua chegada a um Conselho de Ministros das Relações Exteriores no qual é abordada a situação na Ucrânia anterior à cúpula de líderes da UE prevista para o dia 27.
Hague afirmou em qualquer caso que o presidente russo, Vladimir Putin, não deve duvidar de que a UE "está preparada para adotar essas medidas", e lembrou que se trabalhou muito em sua preparação.
Na opinião de Hague, Poroshenko apresentou um plano de paz "muito forte" e "muito bom", e confiou em que "agora todo o mundo, incluindo a Rússia, trabalhe nisso" e que Putin "traduza em ações" o apoio que deu a essa estratégia.
Por sua vez, pediu à Rússia para deter o fluxo de armas rumo à Ucrânia através das fronteiras e a instar aos grupos separatistas armados no leste do país a depor as armas.
"Agora há uma oportunidade para todos. À revelia disso, a UE poderá aumentar as sanções. Estão preparadas", comentou.
O ministro austríaco, Sebastian Kurz, afirmou que, "à parte das sanções necessárias, é importante manter abertos os canais de diálogo", enquanto o sueco, Carl Bildt, indicou que o plano de paz de Poroshenko "é uma tentativa construtiva que merece nosso pleno apoio".
Por outro lado, lamentou que por sua vez a Rússia deu boas-vindas ao plano, "está levando a cabo propaganda de guerra" sem dar sinais que estejam fechando suas fronteiras à passagem de armamento.
A chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, disse que o plano de paz é "essencial para o futuro do país" e o titular alemão, Frank-Walter Steinmeier, considerou que "sem dúvida alguma esta semana é decisiva para a Ucrânia".
"Esperamos agora da Rússia que se mostre disposta a cooperar" para evitar o fornecimento de armas à Ucrânia e o cruzamento de combatentes ilegais e também para "que exerça sua potencial influência" sobre os rebeldes pró-Rússia.
Como convidado, participa do Conselho o novo ministro ucraniano das Relações Exteriores, Pavel Klimkin, que pediu apoio ao plano de paz e que haja um controle eficaz nas fronteiras.
Por sua vez, o ministro espanhol de Relações Exteriores, José Manuel García-Margallo, considerou que "os sinais não são claros, há sinais negativos", como os sequestros de pessoal da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), mas também "sinais positivos", como que Putin tenha reconhecido Poroshenko como líder de Ucrânia.
O chanceler espanhol destacou que hoje esteve em contato com seus colegas da Polônia e Suécia para abordar a situação na Ucrânia assim como com a OSCE, já que "temos um espanhol em uma situação complicada na Ucrânia", em referência a que um dos observadores dessa organização retidos pelas milícias pró-Rússia no leste desde 29 de maio é dessa nacionalidade.
Em sua reunião de hoje, os ministros deram sinal verde às atas legais que permitirão que a UE e a Ucrânia assinem no próximo dia 27, nas margens do Conselho Europeu previsto para essa data, os capítulos comerciais que ainda precisavam de um acordo de associação entre as duas partes.
García-Margallo disse que a Espanha está com os líderes europeus na "conveniência que Ucrânia firme o acordo de associação e o acordo de livre-comércio" com a UE, a fim de que conte com um "marco" que dê um "respiro à economia ucraniana".
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1. Terras em disputa
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São Paulo –
Vladimir Putin apoiou o referendo na
Crimeia sobre sua independência da
Ucrânia afirmando que, assim, protegia os ucranianos de origem russa que ali viviam. Disse, também, que a manobra corrigia um erro histórico da época da União Soviética, quando a Crimeia foi “dada” à Ucrânia. Para Putin, a região
sempre pertenceu à Rússia. Por essa lógica “histórica”, alguns outros países também poderiam reivindicar terras russas - que lhes foram tomadas décadas atrás após invasões, conquistas, guerras e negociações. Dessas regiões, algumas estão em franca disputa, outras são negociadas de maneira mais amena e, outras, estão sob total domínio russo e ninguém pensa em um conflito. Mas seus antigos donos
poderiam tentar pegá-las de volta, se assim quisessem. Veja quais são:
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2. 1. Ilhas Kuril
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País que as reivindica: Japão As Ilhas Kuril estão localizadas ao norte do Japão e ao sudeste russo. Um século atrás, japoneses e russos assinaram um acordo dizendo que as quatro ilhas eram território japonês. Contudo, depois da Segunda Guerra Mundial, a Rússia tomou a região de volta e expulsou os japoneses que moravam ali em 1949.
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3. Ilhas Kuril
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Em uma das ilhas, há uma base militar russa. Em outra, há uma comunidade de 30 mil russos. O governo japonês nunca desistiu de reivindicar a posse das ilhas e desde os anos 1940 tenta,
por vias diplomáticas, resolver o impasse. Tecnicamente, a Segunda Guerra Mundial não acabou para os dois países.
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4. 2. Ilha Bolshoi Ussuriysky
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País que a reivindica: China A ilha Bolshoi Ussuriysky fica no Rio Ussuri, na ponta do extremo leste chinês, na fronteira com a Rússia. Após um impasse de décadas, os dois países fizeram uma redefinição de fronteiras em 2008. A Rússia cedeu a ilha Tarabarov e metade da ilha Bolshoi Ussuriysky.
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5. Ilha Bolshoi Ussuriysky
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A União Soviética ocupara a região em 1929. Desde 1960, o governo chinês começou a pressionar o país para mudar as fronteiras. Ainda falta que metade da ilha vá par ao lado chinês.
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6. 3. "As 64 vilas do Rio Zeya"
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País que as reivindica: China O apelido das "64 vilas" se refere às moradias presentes na região. As vilas se localizam na margem direita do Rio Zeya. Do outro lado, está a cidade russa de Blagoveshchensk. A região era chinesa, mas durante o Império Qing, foi cedida aos russos em 1858, após um conflito.
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7. "As 64 vilas do Rio Zeya"
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Em 1991, o governo chinês decidiu que não reivindicaria mais as terras tomadas. Contudo, em Taiwan, a decisão nunca foi reconhecida e o governo chinês local continua a exigir a devolução da região. Há mapas em Taiwan que mostram a região como chinesa.
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8. 4. Distrito de Pytalovsky
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País de origem: Letônia A região da Letônia viveu séculos de ocupações, até definir suas fronteiras no começo dos anos 1920. Durante a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética anexou o país e ainda tirou parte de suas terras, Pytalovsky, dizendo que ali a maioria era russa e, portanto, deveria ser território russo.
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9. Distrito de Pytalovsky
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Mesmo com o fim da União Soviética e a independência da Letônia, o país não recebeu suas terras de volta.
Em 2007, a Letônia aceitou deixar as fronteiras como estão. Mas poderia reivindicar a região novamente, se quisesse. Muitos moradores locais se identificam com a cultura da Letônia, não russa, e protestam até hoje.
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10. 5. Ivangorod
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País de origem: Estônia Em 1945, a cidade de Ivangorod se separou da cidade de Narva, divididas pelo Rio Narva. Elas pertenceram à Estônia até a União Soviética tomar a região e considerar que o rio seria a fronteira entre eles. Assim, as duas cidades ficaram separadas, cada uma em um país.
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11. Ivangorod
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Após o fim da União Soviética, a Estônia tentou redefinir as fronteiras, como eram antes de 1945. Sem sucesso. Em 2010, os moradores de Ivangorod também tentaram voltar ao domínio estoniano, mas não conseguiram.
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12. 6. Karelia
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País de origem: Finlândia Antes de começar a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética reivindicou terras do sul da Finlândia, na região de Leningrado, cidade estratégica do império. A Finlândia recusou ceder as terras, que acabaram sendo invandidas e tomadas em 1939 - em uma guerra que matou milhares.
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13. Karelia
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A maior parte desse território perdido era a província de Karelia (Karjala). Junto, a segunda maior cidade finlandesa naquele tempo, Viipuri. Os russos batizaram Viipuri de Vyborg. Os finlandeses, com ajuda dos nazistas, até recuperam as terras, mas foram retomadas após o fim da guerra. Até hoje há grupos políticos que reivindicam as terras de volta.
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14. 7. Kaliningrado
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14/16 (Harry Engels/Getty Images)
País de origem: Prússia (Alemanha) A região de Kaliningrado não está conectada ao restante do território russo, cercada pelo Mar Báltico, a Lituânia e a Polônia. Por séculos, foi uma região prússia, de expressão alemã, chamada Königsberg. A região foi tomada pelas tropas russas dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial.
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15. Kaliningrado
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A região foi para os braços dos russos com o fim da guerra. Os residentes germânicos foram imediatamente expulsos. Ao mesmo tempo, imigrantes russos foram enviados para a cidade - rebatizada de Kaliningrado, em homenagem ao líder Mikhail Kalinin. Hoje, é uma ilha russa no meio da Europa.
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16. Agora veja o que Putin pensa sobre a Crimeia
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16/16 (REUTERS/Baz Ratner)