Manifestante carrega bandeiras da Grécia e da União Europeia (Yannis Behrakis/Reuters)
Da Redação
Publicado em 4 de julho de 2015 às 11h08.
Bruxelas - Os líderes europeus estão à espera de o povo grego se pronunciar amanhã no referendo de domingo sobre propostas que já não estão na mesa, para lidar com um resultado que coloca tanto a União Europeia (UE) como a Grécia em território desconhecido.
A queda de braço entre o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras com a Comissão Europeia (CE) e o resto dos sócios da UE, especialmente os membros da zona do euro, está teoricamente a horas de ser resolvida respondendo com simples "sim" ou "não" a uma complexa situação que tem impacto político e econômico profundo de longo prazo para todos.
Amanhã o referendo debaterá a última oferta do Eurogrupo e dos credores gregos às medidas de austeridade associadas ao seu segundo resgate, que expirou à meia-noite de terça-feira, e que para os países da zona do euro já são irrelevantes.
Durante meses a Grécia e as instituições credoras internacionais, Banco Central Europeu (BCE), Fundo Monetário Internacional (FMI), com a CE como mediadora, e os demais membros do euro, mantiveram um debate cada vez mais áspero, sem resultados, e infestado de críticas mútuas aos conteúdos e às formas de negociação de cada uma das partes.
Por enquanto a confusão e a perplexidade generalizada são a nota predominante já que ainda não foi explicado nem aos gregos nem ao resto dos europeus o que acontecerá na vida real dos cidadãos com a vitória do "sim" ou do "não".
Da Comissão Europeia o presidente, Jean-Claude Juncker, colocou a consulta de amanhã em termos que um "sim" representa continuar contando com os gregos na família europeia, enquanto o "não" os levará a um território que ninguém soube definir.
"Peço aos gregos que votem "sim", seja qual for a pergunta, que votem que "sim" porque lançarão uma mensagem de que querem continuar com a zona do euro e a família da União Europeia", disse Juncker esta semana.
Perguntado pelo significado do "não", o presidente da CE disse que "significaria que a Grécia diz não à Europa".
Tsipras e seu governo, por sua vez, colocaram a convocação do referendo como uma maneira de conseguir uma posição negociadora mais sólida, para introduzir a questão da reestruturação da dívida de seu país.
No entanto, o presidente do Eurogrupo (o fórum informal que reúne os 19 membros da zona do euro), o holandês Jeroen Dijsselbloem, disse ao parlamento holandês que um não abrirá o debate sobre a permanência da Grécia no euro.
"Estou disposto a ajudar os gregos, se os políticos gregos e o povo disserem que estão preparados para aceitar algumas medidas. Se dizem que não querem, então a questão é se ainda há lugar dentro da zona do euro para a Grécia", assinalou.
Esse cenário, no entanto, leva a um limbo, já que, apesar dos tratados de 2009 preverem que um país pode sair da UE a pedido próprio, o projeto político e econômico que significa ter uma moeda única já parece irreversível.
As autoridades gregas já avançaram que estudam medidas legais contra as instituições europeias, incluindo levar o caso ao Tribunal de Justiça da União Europeia (UE), se o temido grexit acontecer.
As últimas pesquisas revelam que o 'sim' e o 'não' estão praticamente empatados, com diferença de décimos.
Segundo uma pesquisa do instituto Public Issue para o jornal "Avgi", o órgão do Syriza, 43% dos gregos diz 'não' e 42,5% 'sim'.
O total de indecisos ronda os 9%.
Um resultado semelhante, embora com uma ligeira vantagem do 'sim' apareceu na pesquisa da empresa Alco para o jornal "Proto Thema", com 41,7% de apoio ao acordo e 41,1% conta.
Nesta pesquisa, 10,7% se declararam indeciso.
No plano econômico, os analistas de Standard and Poors estimaram que um grexit danificaria fundamentalmente a economia, os bancos e as empresas gregas, enquanto para o resto da zona do euro o impacto seria mais contido.
Os analistas dessa agência estimam que o PIB da Grécia cairia 25% nos próximos dois anos a sua saída, a inflação chegaria aos 6% e o desemprego aos 29% no mesmo período, em um entorno totalmente degradado para a economia grega, e no qual a nova moeda ficaria muito desvalorizada contra o euro, exacerbando a situação ainda mais.
Para o resto da zona do euro, levando em conta que a Grécia pesa 2% no PIB global europeu, o impacto do grexit seria de entre 0,2% e 0,3% desse indicador, embora as economias periféricas fossem mais afetadas, além do significado que teria o princípio de irrevogabilidade do euro, acrescentou Standard.