Refugiados nos balcãs caminham pela fronteira da Áustria depois de chegarem de trem à Eslovênia: ocorreram vários confrontos entre migrantes e policiais no maior campo de refugiados da Croácia (Leonhard Foeger/ Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de outubro de 2015 às 15h39.
A União Europeia anunciou nesta quarta-feira que realizará no domingo uma mini-cúpula sobre a crise de refugiados que chegam à Europa pelo oeste dos Bálcãs, onde a Eslovênia tenta lidar com a chegada de milhares de pessoas.
Os chefes de Estado ou de governo de Áustria, Bulgária, Croácia, Alemanha, Grécia, Hungria, Romênia e Eslovênia se reunirão com seus colegas, não integrantes da União Europeia, de Macedônia e Sérvia, disse o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
"Diante da situação de urgência nos países que se encontram na rota migratória dos Bálcãs ocidentais, é necessária uma maior cooperação, consultas mais profundas e ações operativas imediatas", indicou Juncker em um comunicado.
A UE é chamada a ajudar particularmente Ljubljana: com a instalação de cercas anti-imigrantes pela Hungria, a Eslovênia passou a ser, junto com a Sérvia e a Croácia, um dos principais países de trânsito para o norte da Europa.
Neste sentido, Junker reconheceu "os problemas enormes (...) quase existenciais" enfrentados "por um dos menores Estados membros", a Eslovênia, e seus dois milhões de habitantes que viram entrar quase 21.500 migrantes desde sábado.
Nesta quarta-feira, cerca de 11.000 aguardavam em campos, enquanto a afluência nos centros de acolhimento tornava a situação precária.
Em Brezice, perto da fronteira croata, um incêndio de origem desconhecida destruiu 27 tendas coletivas, a maioria dos abrigos do campo que tem capacidade para 400 migrantes, mas que recebeu até 4.000 nos últimos dias. O incêndio não causou feridos, mas provocou pânico.
Além disso, ocorreram vários confrontos entre migrantes e policiais no maior campo de refugiados do país, perto da fronteira com a Áustria.
No entanto, centenas de imigrantes enfrentavam o frio na Croácia, à espera de poder entrar na Eslovênia nesta quarta-feira, comprovou um repórter da AFP.
Embora Zagreb tenha enviado reforços policiais a sua fronteira para impedir que os refugiados cruzem a Eslovênia pelo campo, o primeiro-ministro esloveno criticou a falta de colaboração do país vizinho.
"Lamento muito a escassa, ou inclusive inexistente, comunicação e cooperação com as autoridades croatas", declarou Cerar. "A Croácia não respeita os acordos sobre as passagens fronteiriças e o número de refugiados que devem entrar na Eslovênia", acrescentou.
Europa que se mobiliza
A Europa tenta há semanas encontrar uma resposta comum para frear a maior crise de refugiados desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Mais de 600.000 migrantes, muitos dos quais fogem da violência em Síria, Iraque e Afeganistão, realizaram uma viagem repleta de obstáculos para a Europa durante o ano, segundo a ONU.
O objetivo da maioria das pessoas que passam pelos Bálcãs é chegar à Alemanha, a maior economia da UE, que prevê acolher um milhão de demandantes de asilo neste ano.
Desde o último sábado, quando a Hungria decidiu fechar sua fronteira com a Croácia, mais de 21.450 migrantes chegaram à Eslovênia, um país de dois milhões de habitantes.
O primeiro-ministro esloveno, Miro Cerar, pediu na terça-feira a Bruxelas ajuda da polícia de outros países da UE e material adicional para seus próprios agentes. O Parlamento esloveno também mudou nesta quarta-feira uma lei para permitir que seus soldados possam vigiar, junto à polícia, a fronteira de 670 km com a Croácia.
A medida autoriza os militares a deter as pessoas e a entregá-las à polícia.
Neste contexto, a UE fechou em setembro um difícil e controverso acordo sobre a divisão entre seus membros de 120.000 refugiados sírios, iraquianos e eritreus, que chegaram desde o fim de agosto à Grécia e à Itália.
Ilustração dessas divisões, os partidos conservadores da União Europeia reunidos em Madri nesta quarta e quinta-feira lançaram um apelo pelo reforço das fronteiras externas da UE.
"Não podemos aceitar toda a miséria do mundo", declarou Joseph Daul, presidente do Partido Popular Europeu que reúne esses partidos.
Ao mesmo tempo, Jean-Claude Juncker criticou "uma Europa que se auto-absorve (...) que acaba com as esperanças e as expectativas dos outros", mesmo que "quase chorando" vendo a "longa procissão de refugiados que faz lembrar as imagens do fim da Segunda Guerra".