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Ucrânia vai oferecer 'contratos lucrativos' aos EUA em troca de segurança, diz Zelensky

Exploração de terras raras e contratos na reconstrução da Ucrânia estão entre propostas que o presidente pretende apresentar a Donald Trump, segundo declarou ao Guardian

Zelensky: garantias para empresas americanas na reconstrução da Ucrânia (Drew ANGERER /AFP)

Zelensky: garantias para empresas americanas na reconstrução da Ucrânia (Drew ANGERER /AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 11 de fevereiro de 2025 às 18h33.

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O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou em entrevista ao jornal inglês The Guardian, publicada nesta terça-feira, 11, que pretende oferecer aos EUA uma garantia de que empresas americanas receberão contratos lucrativos para participarem da reconstrução do país no pós-guerra com a Rússia. As declarações foram publicadas em um momento em que a ajuda continuada a Kiev por parte do novo governo Donald Trump não parece garantida, e após o presidente americano dizer que a situação no Leste Europeu estava aberta e que parte da Ucrânia poderia “ser russa um dia”.

“As pessoas que estão nos ajudando a salvar a Ucrânia [terão a chance de] renová-la, com seus negócios junto com os negócios ucranianos. Estamos prontos para falar sobre todas essas coisas em detalhes”, afirmou Zelensky ao jornal britânico, garantindo que ofereceria às empresas americanas contratos lucrativos de reconstrução e concessões de investimento.

O retorno de Trump à Casa Branca provocou preocupação em Kiev e entre os aliados europeus da Otan, uma vez que o republicano repetiu durante sua campanha à Presidência que resolveria a guerra rapidamente. Ele também criticou a ajuda massiva enviada a Kiev pelo ex-presidente Joe Biden. Em uma declaração recente, Trump disse que condicionaria a ajuda aos ucranianos ao pagamento de cada dólar liberado por terras raras — metais amplamente utilizados em eletrônicos, matéria-prima que interessa aos EUA e é relativamente abundante na Ucrânia.

Investimento americano e terras raras

O líder ucraniano mencionou o tema durante a entrevista ao Guardian, afirmando ter sido ele quem apresentou a Trump o plano de pagar pelo investimento americano na defesa do país com terras raras. A ideia teria sido lançada ao republicano em setembro, quando os dois se encontraram em Nova York. Ele disse ainda que pretende apresentar um “projeto mais detalhado” quando retomar o contato com o presidente, citando a questão da exploração dos recursos naturais e da reconstrução do país.

Também afirmou textualmente que, sem os americanos, os aliados europeus não seriam capazes de oferecer as garantias de segurança necessárias contra a Rússia.

“Há vozes que dizem que os europeus poderiam oferecer garantias de segurança sem os americanos, e eu sempre disse que não”, afirmou.

Em uma aparente tentativa de criar um argumento válido dentro da lógica de realismo político adotada por Trump, Zelensky também declarou que não era do interesse americano que as maiores reservas de urânio e titânio da Europa, localizadas na Ucrânia, caíssem nas mãos dos russos e fossem potencialmente compartilhadas com China, Coreia do Norte e Irã.

“Estamos falando não apenas sobre segurança, mas também sobre dinheiro... Recursos naturais valiosos que podemos oferecer aos nossos parceiros, possibilidades que não existiam antes para investir neles... Para nós, isso criará empregos; para empresas americanas, isso criará lucros”, acrescentou Zelensky.

Disputa global por terras raras

O abastecimento de terras raras — minerais distintos, essenciais para a fabricação de uma infinidade de produtos, de telas de televisores a jatos de combate e turbinas eólicas — é um tema central nas tensões atuais entre China e Ocidente, seja por questões comerciais ou geopolíticas. Bruxelas e Washington têm uma necessidade urgente de diversificar o fornecimento desses insumos, uma vez que Pequim possui mais patentes relacionadas a terras raras do que o restante do planeta junto — um domínio alcançado ao custo de grandes danos ambientais.

Pouco depois da publicação da entrevista do líder ucraniano no The Guardian, Trump fez uma postagem na rede social Truth Social, afirmando que enviará o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, à Ucrânia para se encontrar com Zelensky.

“Essa guerra precisa e vai acabar em breve — muita morte e destruição. Os EUA gastaram bilhões de dólares ao todo, com pouco [resultado] para apresentar. Quando os EUA são fortes, o mundo está em paz”, escreveu Trump.

Em Moscou, a declaração de Trump sobre parte da Ucrânia virar russa foi rapidamente endossada pelo Kremlin, que saiu em defesa do posicionamento do presidente americano. O porta-voz Dmitry Peskov afirmou que a situação na Ucrânia “corresponde amplamente às palavras do presidente americano”.

“O fato de que uma parte significativa da Ucrânia quer se tornar Rússia, e já o fez, é um fato”, disse o porta-voz a repórteres, referindo-se à anexação de quatro regiões ucranianas por Moscou em 2022. “Qualquer fenômeno pode acontecer com 50% de probabilidade: sim ou não.”

 

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