Cidade de Irpin, perto de Kiev: Ucrânia pode paralisar gasoduto (Sergei Chuzavkov/SOPA Images/LightRocket via Getty Images/Getty Images)
Carla Aranha
Publicado em 11 de maio de 2022 às 10h23.
Pela primeira vez desde o início da guerra, a Ucrânia reduziu em 25% as operações do principal gasoduto que transporta gás natural russo para a Europa. O cenário ainda pode se agravar mais, já que a Gtsou, que opera o sistema de gás da Ucrânia, ameaçou suspender as atividades em um ponto da rota pela qual passa um terço de todo o combustível transportado para a União Europeia. A empresa revelou que poderia concretizar a ameaça nesta quarta, dia 11.
A estatal russa Gazprom, uma das maiores exportadoras de gás natural do mundo, confirmou ter recebido uma notificação da Ucrânia sobre a intenção de parar o transporte de gás para a Europa pelo interconector Sokhranivka. O gasoduto passa pela região de Luhansk, parcialmente em controle de grupos pró-separatistas russos.
Diante desse cenário, os preços do gás natural na Europa subiram para mais de 100 euros por megawatt hora nesta quarta, 250% a mais do que há um ano.
Países como a Alemanha e a Finlândia importam da Rússia mais de 60% de todo o gás que consomem. A dependência de Moscou para a geração de energia é ainda maior na República Checa, Hungria e Eslováquia, que adquirem da Rússia mais de 85% do gás do qual necessitam.
Em abril, a inflação na Europa bateu um recorde após seis meses consecutivos de alta, atingindo 7,5%. No mês passado, o banco central europeu chegou a prever que o aumento de preços estava próximo de atingir o pico, mas a evolução na guerra na Ucrânia pode mexer nesse cenário. Em março, a elevação de custos da energia na Europa chegou a 38% em comparação com o mesmo período do ano passado.
O banco central italiano estima que a União Europeia deve entrar em recessão este ano caso todo o fornecimento de gás russo para a Itália e outros países da região seja suspenso.
A Ucrânia pressiona a Europa por mais recursos e armas – a Alemanha e outros países europeus já direcionaram mais de 140 milhões de euros em ajuda militar e humanitária para Kiev. Os Estados Unidos, por sua vez, enviaram cerca de 3,8 bilhões de dólares em armamentos para a Ucrânia. A guerra chega ao terceiro mês essa semana.
O conflito corre o risco de escalar, com a decisão da Bielorrúsia de alocar tropas em áreas de fronteira com a Ucrânia e uma recente proposta do Congresso americano de disponibilizar um novo pacote de 40 bilhões de dólares em ajuda militar para a Ucrânia -- só falta o Senado aprovar a medida, o que deve acontecer até a semana que vem. Ao mesmo tempo, representantes do governo americano como Avril Haines, diretora de Inteligência Nacional, tem dito que Vladimir Putin se prepara para um guerra prolongada, da qual não estaria descartado o uso de armas nucleares.
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