Navios da Ucrânia: Moscou justificou a ação afirmando que agiu "em estrita conformidade com o direito internacional" (Yevgeny Volokin/Reuters)
AFP
Publicado em 26 de novembro de 2018 às 18h03.
Ucrânia e Rússia enfrentam sua pior crise nos últimos anos após a captura, no domingo, 25, de navios da Marinha ucraniana, um incidente que representa uma "nova etapa" no "ataque russo" contra a Ucrânia, declarou o presidente ucraniano. "Ao atacar embarcações militares ucranianas, lança uma nova etapa de sua agressão", assegurou o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, durante uma declaração televisionada.
Moscou justificou a ação afirmando que agiu "em estrita conformidade" com "o direito internacional", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitiri Peskov, que denunciou uma "intrusão" de embarcações ucranianas nas "águas internacionais" russas.
A tensão entre Ucrânia e Rússia aumentou no domingo, quando as forças navais russas capturaram, após disparar, três navios militares ucranianos (dois navios patrulheiros e um rebocador, com aproximadamente 20 fuzileiros navais a bordo).
Tanto Kiev quanto Moscou pediram uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, que será realizada ainda nesta segunda. A Otan também convocou uma reunião de emergência em Bruxelas nesta segunda com representantes ucranianos, depois de uma conversa telefônica entre o secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, e o presidente ucraniano, Petro Poroshenko.
As relações entre os dois países atravessa uma profunda crise desde 2014, após a anexação da Crimeia por parte da Rússia, e a guerra separatista no leste da Ucrânia. Kiev "exige" que Moscou libere os fuzileiros e "devolva os navios militares capturados", declarou o Ministério de Relações Exteriores ucraniano em um comunicado publicado no domingo à noite. "A Ucrânia pede a seus aliados e sócios que tomem todas as medidas necessárias para conter o agressor, em particular impondo novas sanções" à Rússia, ressalta.
O inédito incidente deixou seis feridos entre os fuzileiros ucranianos, dois deles em estado grave, segundo Kiev. Moscou garante que foram somente três feridos. O Parlamento ucraniano se reúne nesta segunda-feira em uma sessão extraordinária na qual poderá declarar a lei marcial por 60 dias, como pediu Poroshenko.
O incidente aconteceu quando barcos ucranianos tentavam entrar no Estreito de Kerch do Mar Negro, que separa a Crimeia da Rússia e é o ponto de acesso ao Mar de Azov. Segundo Kiev, os barcos russos se chocaram primeiro contra o rebocador ucraniano e bloquearam o acesso ao mar de Azov.
Moscou confirmou a captura e o "uso de armas", acusando os barcos ucranianos de "violarem a fronteira russa" e de "realizar ações ilegais em águas territoriais russas".
O chanceler russo, Serguei Lavrov, acusou nesta segunda-feira a Ucrânia de violar normas internacionais com "métodos perigosos que criaram ameaças e riscos para o movimento normal dos barcos". Lavrov acrescentou que se tratou de uma provocação.
A União Europeia e a Otan pediram uma "desescalada" nas tensões na região e que Moscou tente "restaurar a liberdade de passagem" no Estreito de Kerch.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, condenou, por sua vez, o "uso da força" por parte da Rússia no Mar de Azov.
Os Estados Unidos denunciaram na ONU a ação "ilegal" da Rússia, ressaltando que essa conduta torna "impossível" uma "relação normal" entre Washington e Moscou.
A embaixadora americana, Nikki Haley, reiterou em uma reunião de emergência do Conselho de Segurança que os "Estados Unidos daria boas-vindas a uma relação normal com a Rússia. No entanto, ações ilegais como esta continuam tornando isso impossível".
Vários países aliados de Kiev, entre eles Canadá e Lituânia, condenaram a "agressão russa".
"Condenamos o ato de agressão da Rússia ao capturar três barcos ucranianos e a sua tripulação", disse aos jornalistas um porta-voz da primeira-ministra britânica, Theresa May.
A Turquia se declarou "preocupada" e pediu o fim da "escalada", enquanto a China pediu a Moscou e Kiev que "resolvam suas diferenças por meio do diálogo e de consultas". A Alemanha também denunciou um "bloqueio inaceitável" do Mar de Azov.
A atual crise entre a Ucrânia e a Rússia começou com protestos pró-europeus, assim como com a fuga para a Rússia e a destituição em fevereiro de 2014 do presidente pró-russo Viktor Yanukovich. Um mês depois, a Rússia anexou a península da Crimeia. Em abril daquele ano, explodiu o conflito armado no leste ucraniano entre as tropas de Kiev e os separatistas, o que deixou mais de 10.000 mortos.
Kiev e países ocidentais acusam a Rússia de apoiar militarmente os separatistas, o que Moscou nega. O Ocidente impôs sanções econômicas significativas à Rússia pela anexação da Crimeia e seu suposto papel na guerra no leste da Ucrânia.
A Rússia reivindica o controle do Estreito de Kerch desde a anexação da Crimeia e construiu uma ponte que liga a península ao território russo. Kiev e as potências ocidentais acusam Moscou de "obstruir" deliberadamente a navegação de embarcações comerciais entre o Mar Negro e o Mar de Azov pelo estreito.
A Ucrânia e a Rússia reforçaram sua presença militar nessa área sensível. Nos últimos meses, deslocaram navios militares para a zona.