Policiais próximos a quartel militar em Ancara, na Turquia (Tumay Berkin/Reuters)
Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2016 às 22h54.
A Turquia enfrentava uma situação de incerteza após um grupo de militares anunciar ter assumido o poder no país, enquanto o governo assegurava que a situação está "amplamente sob controle", em meio a confrontos que deixaram 17 policiais mortos e vários civis feridos, em Ancara e Istambul.
A agência oficial Anatólia informou que o Parlamento turco, em Ancara, foi bombardeado na madrugada de sábado, e o correspondente da AFP na capital turca ouviu uma violenta explosão e rajadas de metralhadora na mesma região.
Militares rebelados também ocuparam, na manhã de sábado, a sede do grupo de mídia Dogan em Istambul, segundo o canal de notícias CNN-Türk.
Apesar do ataque ao Parlamento e à tomada da sede do grupo Dogan, o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, afirmou que "esta iniciativa idiota fracassou" e a situação "está amplamente sob controle".
As declarações do premier ao canal NTV se seguiram a um comunicado dos serviços de Inteligência turcos sobre o "retorno à normalidade".
O presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, chegou de avião a Istambul ao amanhecer deste sábado, e foi recebido por uma multidão que agitava bandeiras da Turquia.
Segundo a imprensa oficial, o presidente turco estava passando alguns dias de férias com a família em um balneário no oeste do país, segundo a imprensa local.
Na noite de sexta-feira, após o anúncio dos militares, um funcionário da presidência havia anunciado a remoção de Erdogan para um local seguro.
Durante a noite em Istambul, os militares golpistas abriram fogo contra uma multidão em meio a um protesto contra a tentativa de golpe, ferindo vários civis, constatou um fotógrafo da AFP.
Os soldados atiraram contra a multidão em uma das pontes sobre o Bósforo, que une Europa à Ásia, onde vários civis feridos eram socorridos por ambulâncias.
Na capital Ancara, dezessete policiais foram mortos no quartel-general das forças especiais do Exército, revelou a agência oficial Anatólia, sem dar detalhes.
Ainda na capital turca, um caça F-16 da Força Aérea derrubou um helicóptero Sikorsky das forças "golpistas", informou uma fonte ligada à presidência.
Na noite de sexta-feira, vários tanques do Exército cercaram o Parlamento em Ancara e o aeroporto internacional Ataturk, em Istambul.
Violentas explosões foram ouvidas na capital, acompanhadas de troca de tiros no centro da cidade, enquanto aviões sobrevoavam a metrópole sem parar, a baixa altitude.
Momentos depois, Erdogan apareceu na TV com o rosto pálido e visivelmente preocupado, para denunciar "a sublevação de uma minoria do Exército", e exortou os turcos a "ocupar as praças públicas e aeroportos" para resistir à tentativa de golpe.
Em declarações por telefone à rede CNN-Turk, Erdogan afirmou que "de modo algum os golpistas terão sucesso", e pediu à população para se "reunir nas praças públicas e nos aeroportos" para resistir a uma "tentativa de golpe de Estado" lançada por "uma minoria dentro do Exército".
"Não acredito absolutamente que estes golpistas vencerão", declarou Erdogan, "prometendo uma resposta muito forte" aos insurgentes.
Segundo um comunicado dos militares lido no canal de televisão NTV, "o poder no país foi tomado em sua integralidade". A mesma informação constava do site do Estado-Maior do Exército.
"Não permitiremos que a ordem pública seja alterada na Turquia (...). Foi imposto o toque de recolher até nova ordem", segundo um comunicado firmado pelo "Conselho da Paz no país".
Logo após o anúncio dos militares, duas pontes sobre o estreito de Bósforo em Istambul foram fechadas parcialmente, e as forças de segurança controlaram as avenidas que levam à Praça Taksim, entre outros pontos.
Segundo os militares, a tomada do poder tem por objetivo "garantir e restaurar a ordem constitucional, a democracia, os direitos humanos, as liberdades e a prevalência da lei suprema" em todo território turco.
"Todos os nossos acordos e compromissos internacionais seguem vigentes. Esperamos que continuem nossas boas relações com os demais países", assinala o comunicado militar.
De acordo com a agência oficial Anatolia, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, "general Hulusi Akar, foi feito refém por um grupo de militares rebelados.
O grupo afiliado ao clérigo turco radicado nos Estados Unidos Fethullah Gulen, que foi acusado pelo presidente Recep Tayyip Erdogan de estar por trás de uma tentativa de golpe na Turquia, condenou o levante militar desta sexta-feira.
"Por mais de 40 anos, os participantes do Fethullah Gulen e Hizmet têm defendido e manifestado seu compromisso com a paz e a democracia", informou a Aliança por Valores Compartilhados em um comunicado.
"Temos denunciado consistentemente intervenções militares na política doméstica. Estes são valores centrais dos participantes do Hizmet. Condenamos qualquer intervenção militar na política doméstica da Turquia", acrescentou.