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Turquia promete revelar verdade sobre morte de jornalista no consulado

O homicídio tem muitos aspectos nebulosos e os ocidentais pediram mais explicações

. (April Brady/Project on Middle East Democracy/Flickr)

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AFP

Publicado em 21 de outubro de 2018 às 15h53.

A Turquia prometeu neste domingo revelar a "verdade nua e crua" sobre a morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado em 2 de outubro no consulado da Arábia Saudita em Istambul, depois que Riad admitiu o óbito.

"Estamos à procura de justiça aqui e isso será revelado em toda a sua verdade nua e crua, não através de alguns passos comuns, mas em toda a sua verdade nua e crua", disse o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que prometeu uma declaração sobre o tema na terça-feira.

O reino saudita admitiu no sábado que Khashoggi, colunista do jornal The Washington Post e crítico do regime de Riad, foi assassinado dentro do consulado. Durante duas semanas, o governo do país negou a morte e afirmou que o jornalista havia deixado o consulado.

Riad anunciou a demissão de cinco altos funcionários e a detenção de outros 18 como resultado de uma investigação preliminar.

Neste domingo, o ministro saudita das Relações Exteriores saudita, Adel al-Jubeir, afirmou ao canal americano Fox News que o governo não sabe onde está o corpo.

Al-Jubeir disse que os líderes sauditas acreditavam inicialmente que Khashoggi havia deixado o consulado em Istambul, onde foi visto pela última vez em 2 de outubro.

Mas depois dos "relatórios que recebíamos da Turquia", as autoridades sauditas começaram uma investigação que determinou que o jornalista foi assassinado na representação diplomática.

"Não sabemos, em termos de detalhes, como aconteceu. Não sabemos oide está o corpo", disse o chanceler.

A relação entre Washington e Riad "resistirá" a esta questão, disse o chefe da diplomacia saudita na entrevista à Fox News em Riad, antes completar que o príncipe Mohamed Bin Salman não havia sido informado sobre a operação, não autorizada pelo regime.

"As pessoas que fizeram isto, fizeram fora do alcance de sua autoridade. Obviamente, um grande erro foi cometido e o que agravou o erro foi a tentativa de acobertar", disse o diplomata.

"Isto é inaceitável em qualquer governo. Infelizmente, estas coisas acontecem. Queremos garantir que os responsáveis sejam punidos e queremos assegurar que temos procedimentos estabelecidos para evitar que vote acontecer", completou.

O homicídio tem muitos aspectos nebulosos e os ocidentais pediram mais explicações.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que "houve enganos e mentiras" por parte do governo saudita, mudando sua postura de dar o benefício da dúvida a Riad, embora tenha mencionado que o príncipe herdeiro poderia não estar a par.

"Há uma possibilidade de que (o príncipe Mohammed bin Salman) tenha descoberto mais tarde. Pode ser que algo no prédio tenha dado errado", disse Trump ao jornal Washington Post.

Grã-Bretanha, França e Alemanha afirmaram em umcomunicado conjunto que existe "uma necessidade urgente de esclarecimento" sobre as circunstâncias da morte "inaceitável" do jornalista.

- A história segundo os sauditas -

As autoridades sauditas admitiram no sábado que Khashoggi morreu dentro do consulado, ao qual compareceu por questões burocráticas.

"As conversas que aconteceram entre ele e as pessoas que o receberam no consulado saudita em Istambul resultaram em um confronto e uma briga de socos com o cidadão Jamal Khashoggi, o que provocou sua morte", afirmou o procurador-geral saudita, Saud al-Mojeb, segundo a agência oficial SPA.

O ministério saudita da Informação afirmou que as pessoas que interrogaram Khashoggi, que tinha 59 anos, tentaram "ocultar o que aconteceu", sem entrar em detalhes.

De acordo com fontes turcas, Khashoggi foi torturado e assassinado brutalmente por agentes sauditas que viajaram com este objetivo de Riad.

E segundo vários jornais turcos, o corpo do jornalista, colaborador do Washington Post, teria sido esquartejado.

O vice-diretor do serviço de inteligência saudita, Ahmad al-Asiri, e um importante conselheiro da corte real, Saud al Qahtani, ambos colaboradores próximos do príncipe herdeiro, foram destituídos, anunciou Riad.

Para alguns analistas ocidentais, as destituições e detenções são uma forma de apontar bodes expiatórios e de manter afastado do caso o príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman, considerado o homem forte do reino e para quem Khashoggi era um "inimigo".

- Imprensa oficial elogia -

Os principais aliados de Riad na região - Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Egito, Jordânia, Omã e a Autoridade Palestina - elogiaram os anúncios sauditas.

A imprensa oficial do reino celebra neste domingo as decisões e medidas adotadas pelas autoridades sauditas. "A justiça continua", os responsáveis "prestarão contas", afirma o jornal Okaz. "O reino da justiça e da firmeza", destaca o Al Riyadh.

As organizações de defesa dos direitos humanos seguem mobilizadas. A Anistia Internacional (AI) afirmou que as conclusões sauditas não são dignas de confiança e pediu uma investigação independente. A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) pediu a continuidade da pressão sobre Riad.

Além da crise de credibilidade, o escândalo internacional provocado pela morte de Khashoggi alimentou especulações de que o príncipe herdeiro poderia ser afastado do poder por membros da família real irritados com seus "abusos".

Mas entre os decretos de sábado, seu pai, o rei Salman, anunciou a formação de uma comissão ministerial dirigida por Mohamed bin Salman para reorganizar os serviços de inteligência, mostrando assim a intenção de mantê-lo como herdeiro.

Para Michael Stephens, analusta do Royal United Services Institute, esta crise é um dos "momentos mais sísmicos no Oriente Médio desde a Primavera Árabe", em 2011.

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