Protesto de ativistas e amigos do jornalista saudita Jamal Khashoggi, na Turquia, dia 08/10/2018 (Murad Sezer/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de outubro de 2018 às 17h36.
Istambul - O governo turco obteve um áudio gravado pelo Apple Watch (relógio) do jornalista saudita Jamal Khashoggi, que ele usava quando foi ao consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, no dia 2 de outubro, que comprovaria a morte no local. A informação foi publicada neste sábado pelo jornal turco Sabah.
Há cerca de duas semanas, Khashoggi foi ao consulado para obter documentos para seu casamento e não saiu mais do edifício. Khashoggi era um crítico do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman.
Como colaborador do jornal norte-americano The Washington Post, escreveu diversas vezes sobre a Arábia Saudita, incluindo críticas à guerra do país no Iêmen, a recente disputa diplomática com o Canadá e a prisão de ativistas dos direitos das mulheres.
O reino saudita alega que as acusações sobre sua participação no desaparecimento do jornalista são infundadas.
A matéria publicada pelo Sabah relata que as autoridades turcas conseguiram recuperar o áudio do iPhone de Khashoggi e de sua conta no iCloud. O jornalista havia entregado o celular para sua noiva antes de entrar no consulado.
O jornal diz também que, no mesmo dia, os funcionários do consulado tentaram deletar as gravações, primeiro digitando incorretamente a senha de Khashoggi no relógio e, depois, usando suas digitais. A publicação não menciona, entretanto, que relógios da Apple não permitem o desbloqueio do aparelho por meio de digitais, como os celulares da marca.
Um Apple Watch pode gravar áudio e sincronizar o arquivo posteriormente com um iPhone por meio de conexão por Bluetooth. O veículo turco não esclarece como o relógio sincronizou a informação tanto para o iPhone como para a conta do iCloud.
Autoridades turcas dizem acreditar que 15 pessoas do consulado assassinaram Khashoggi e afirmam ter vídeos do crime. Mas não esclarecem como obtiveram a gravação. O governo turco não divulgou até o momento nenhuma evidência de que Khashoggi tenha sido assassinado.
Apesar disso, imagens de câmeras de vigilância instaladas ao redor do consulado mostram um comboio de veículos com matrículas diplomáticas saindo do local rumo à casa do cônsul em Istambul pouco menos de duas horas após a chegada de Khashoggi.
Um canal de notícias do reino saudita afirmou que os 15 homens eram "turistas", sem apresentar evidências da alegação.
Uma delegação da Arábia Saudita desembarcou na sexta-feira (12) na Turquia para investigar o desaparecimento do escritor. Neste sábado, a agência estatal de notícias publicou um comunicado do ministro do Interior saudita, o príncipe Abdulaziz bin Saud, novamente negando o envolvimento do reino. Desta vez, ele reconheceu que a Arábia Saudita está sendo acusada de assassinar Khashoggi. "O que vem circulando sobre ordens de matar (Khashoggi) são mentiras e alegações sem base contra o reino, que é comprometido com seus princípios, regras e tradições e está em acordo com leis e convenções internacionais", disse o príncipe Abdulaziz na nota.
O desaparecimento de Khashoggi vem pressionando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem mantido relações próximas com os sauditas desde que assumiu o cargo. Trump prometeu ligar pessoalmente para o rei Salman sobre "a terrível situação na Turquia". "Vamos descobrir o que aconteceu", disse Trump a jornalistas na sexta-feira. Em paralelo, o secretario de Estado Mike Pompeo conversou com a noiva de Khashoggi, Hatice Cengiz. Os detalhes da conversa não foram divulgados.
Fonte Associated Press.