Síria: exército turco enviou reforços, incluindo tanques, para vários pontos da fronteira (picture alliance / Colaborador/Getty Images)
AFP
Publicado em 8 de outubro de 2019 às 09h55.
A Turquia disse nesta terça-feira (8) que está pronta para lançar uma nova ofensiva na Síria contra uma milícia curda apoiada por Washington, apesar dos sinais contraditórios de Donald Trump, alimentando confusão sobre a posição dos Estados Unidos.
"Todos os preparativos para uma operação foram concluídos", declarou o Ministério turco da Defesa nesta terça, acrescentando que uma ofensiva de Ancara contra as Unidades de Proteção do Povo (YPGs) é iminente.
A tensão no nordeste da Síria aumentou depois que a Casa Branca anunciou, no domingo à noite, que os militares americanos estacionados na zona serão retirados em vista de uma operação turca.
Após ser acusado até por seu próprio campo de abandonar seus aliados, o presidente Trump reorientou seu discurso na segunda-feira, afirmando que "destruiria completamente a economia da Turquia", se ela "passasse dos limites".
Ignorando esse aviso, o vice-presidente turco, Fuat Oktay, disse hoje que a Turquia "não é um país que age em função de ameaças".
"Quando se trata de segurança (...), a Turquia traça seu próprio caminho", acrescentou.
Segundo o jornal turco "Hürriyet", uma operação poderá ser lançada nos próximos dias, com o Estado-Maior turco aguardando a retirada das forças americanas presentes na área.
A Turquia planeja controlar uma faixa de território de 120 quilômetros que vai da cidade de Tal Abyad a Ras al-Ain, completou o "Hürriyet".
Na segunda-feira à noite, o Exército turco enviou reforços, incluindo tanques, para vários pontos da fronteira com a Síria.
Ancara pretende criar uma "zona de segurança", de 30 quilômetros de profundidade, estendendo-se do Eufrates à fronteira iraquiana, cerca de 480 km.
Esta área, segundo Ancara, receberá cerca de 3,6 milhões de sírios refugiados na Turquia e vai separar a fronteira turca dos territórios conquistados pelas YPGs.
Apesar de os países ocidentais reconhecerem o papel das YPGs na derrota do Estado Islâmico (EI) na Síria, a Turquia as considera como "terroristas", em razão de seus laços com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Em agosto, Turquia e Estados Unidos concordaram com a criação desta "zona de segurança". Desde então, Ancara denuncia atrasos e ameaça realizar unilateralmente essa ação.
E foi após um telefonema entre Trump e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sobre esta questão que a Casa Branca anunciou a retirada americana da área.
Sob pressão e enquanto precisa de seus correligionários no processo de "impeachment", Trump disse ontem à Turquia que não "passe dos limites" que estabeleceu com sua "grande e inigualável sabedoria".
Ao mesmo tempo, autoridades americanas tentaram minimizar a retirada das tropas, citando uma mera redistribuição de 50 a 100 das forças especiais.
Ainda assim, essa confusão preocupa o restante da comunidade internacional. A ONU disse na segunda-feira "se preparar para o pior", em caso de uma nova crise humanitária na Síria. Desde 2011, a guerra neste país deixou milhões de deslocados e mais de 370.000 mortos.
Outra questão preocupante no caso de uma ofensiva turca diz respeito ao destino dos extremistas, especialmente europeus, prisioneiros das forças curdas.
Os curdos acusaram Washington de "destruir a confiança" e alertaram que uma operação turca trará o EI de volta.
Teerã, ator importante no conflito sírio e apoiador do governo Bashar al-Assad, também expressou sua oposição. O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, pediu "respeito à integridade territorial".