EUA: a Rússia não quis se pronunciar da decisão do país participar das negociações (foto/Getty Images)
AFP
Publicado em 13 de janeiro de 2017 às 14h36.
Os Estados Unidos participarão das negociações sobre o conflito sírio, informou Ancara, que junto a Moscou organiza esta reunião, prevista para o dia 23 de janeiro no Cazaquistão, mas nesta sexta-feira a Rússia não quis se pronunciar sobre esta decisão.
A trégua entre o exército sírio e os insurgentes, em vigor desde 30 de setembro, persistia, de forma frágil, na maior parte das frentes.
Este cessar-fogo é considerado um prelúdio das negociações em Astana, capital do Cazaquistão, que começarão três dias depois da posse do novo presidente americano, Donald Trump.
Esta suspensão das hostilidades, seguida pelas negociações inter-sírias, foi auspiciada pela Rússia, aliada do presidente Bashar al-Assad, e pela Turquia, que apoia os rebeldes, após a vitória do regime em Aleppo no dia 22 de dezembro.
A administração de Barack Obama foi, então, deixada à margem.
Na noite de quinta-feira, em Genebra, o chefe da diplomacia turca, Mevlut Cavusoglu, anunciou que seu sócio russo estava de acordo para que os Estados Unidos entrassem no processo de negociações.
"Os Estados Unidos definitivamente devem ser convidados e isso é o que acordamos com a Rússia", disse em alusão ao encontro em Astana, onde se reunirão representantes do regime e dos grupos rebeldes.
"Precisamos manter o cessar-fogo. É essencial para as negociações de Astana", indicou Cavusoglu, acrescentando que os convites para a reunião serão enviados na próxima semana.
"Ninguém pode ignorar o papel dos Estados Unidos. E isto é uma posição de princípios para a Turquia", afirmou.
Segundo uma fonte síria, no dia 23 de janeiro pode ser realizada uma reunião inaugural e protocolar com vários países convidados, entre eles Estados Unidos, como aconteceu em 2014 em Montreux (Suíça).
Depois deste encontro, serão iniciadas as negociações entre o regime e os rebeldes sob a supervisão única de Rússia e Turquia.
Perguntado em Moscou sobre o convite aos Estados Unidos anunciado pela Turquia, o ministério das Relações Exteriores não reagiu rapidamente.
O porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, declarou, no entanto: "Não posso me pronunciar. Evidentemente, somos favoráveis a uma representação o mais ampla possível de todas as partes" envolvidas no conflito sírio.
"Mas não posso responder concretamente no momento", acrescentou.
No dia 29 de dezembro, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, disse que "esperava que quando a administração de Donald Trump entrar em funções, (os Estados Unidos) poderão se associar também a estes esforços, para poder trabalhar em uma mesma direção de forma harmoniosa e coletiva".
Mas não informou se estava se referindo aos encontros de Astana ou ao processo em geral.
"Para a nova administração americana, não é uma prioridade ter um papel na resolução da crise síria", estimou o responsável do departamento de ciência política da Lebanese American University (LAU) de Beirute, Imad Salamey.
"Acredito que, quando Trump estiver na Casa Branca, a liderança seguirá nas mãos dos russos, mas (o presidente americano) exigirá garantias, principalmente de segurança para Israel e também sobre a redução do papel do Irã", outro apoio do regime sírio, disse à AFP.
O Irã e seu aliado, o Hezbollah libanês, que ajudam em nível militar o regime na Síria, são os inimigos jurados de Israel.
Em terra, as autoridades sírias acusaram Israel de ter bombardeado nesta sexta-feira com mísseis seu aeroporto militar na região de Mazzé, perto de Damasco.
Além disso, os combates entre rebeldes e as tropas do regime persistiam em Wadi Barada, a 15 km da capital síria, uma região onde se encontram as principais fontes de fornecimento de água de Damasco.
Nesta sexta-feira, funcionários do governo sírio entraram em uma área rebelde perto de Damasco para restabelecer o abastecimento de água da capital, cortado há três semanas, afirmou o governo da província citada pela imprensa estatal.
Cerca de 5,5 milhões de habitantes de Damasco sofrem com a escassez devido aos danos causados à rede de água pelos combates entre rebeldes e o regime na região de Wadi Barada.