Turquia: "Esta nação tira sua força do povo, não dos tanques", insistiu Yildirim no Parlamento (Osman Orsal / Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de julho de 2016 às 10h45.
Quatro dias depois da tentativa de golpe na Turquia, o aparato judicial entrou em ação com a detenção provisória de 26 generais, entre eles o ex-comandante da Aeronáutica, ao mesmo tempo que o primeiro-ministro descartou uma vingança.
Em uma tentativa de tranquilizar a comunidade internacional, o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, negou nesta terça-feira a existência de um "espírito de vingança" contra os golpistas.
"Uma coisa assim é absolutamente inaceitável no Estado de direito", disse.
"Esta nação tira sua força do povo, não dos tanques", insistiu Yildirim no Parlamento.
As imagens que mostram agressões e humilhações contra os soldados golpistas que se renderam provocaram uma grande polêmica, sobretudo nas redes sociais.
"O nível de vigilância e de atenção será importante nos próximos dias", advertiu na segunda-feira o secretário de Estado americano, John Kerry.
Erdogan ameaçado
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, explicou em uma entrevista ao canal CNN que sua vida correu perigo durante a tentativa de golpe, mas os detalhes de seu retorno da cidade de Marmaris (oeste), onde estava de férias, continuam sendo confusos.
"Se tivesse ficado 10 ou 15 minutos a mais no hotel, teriam me matado, sequestrado ou transferido", disse na segunda-feira à noite à rede de televisão americana.
Erdogan também disse que aceitaria o retorno da pena de morte se o Parlamento turco decidir a favor da medida. Ao mesmo tempo, declarou que a reunião do conselho de segurança nacional de quarta-feira "vai adotar uma decisão importante".
Até o momento, ao menos 118 generais e almirantes foram detidos em todo o país por suposta participação no golpe, segundo a agência de notícias Anadolu.
Um tribunal de Ancara determinou a prisão preventiva de 26 generais e almirantes do exército, entre eles o ex-general Akin Ozturk, acusados, entre outros crimes, de tentativa de derrubar a ordem constitucional, de liderar um golpe armado, tentativa de assassinato do presidente Erdogan e formação de um grupo armado.
Informações sobre Gülen
No total, segundo Yildirim, 6.038 militares, 755 magistrados e 100 policiais foram detidos.
Quase 9.000 funcionários do ministério do Interior, incluindo policiais e oficiais, foram demitidos.
O general Ozturk, que segundo parte da imprensa teria sido o cérebro da intentona, nega as acusações.
"Não sou a pessoa que planejou ou liderou o golpe. Não sei quem o fez", afirmou o general em um texto apresentado ao tribunal, de acordo com a Anadolu
"Com base em minha experiência, acredito que a estrutura paralela (uma referência à rede do pregador Fetulhah Gülen) aplicou a tentativa de golpe de Estado militar", completou.
O tenente-coronel Erkan Kivrak, assistente militar de Erdogan, também foi detido, segundo a agência.
O Estado-Maior afirmou que "a grande maioria das Forças Armadas não teve absolutamente nada a ver" com a tentativa de golpe.
A respeito de Gülen, Ancara indicou ter enviado "informações" a Washington por seus supostos vínculos com a tentativa de golpe, anunciou Yildirim.
Mas o clérigo, exilado nos Estados Unidos desde 1999, nega qualquer envolvimento na intentona.
"Sempre fui contra a intervenção de militares na política interna", afirmou na segunda-feira em uma entrevista à AFP nos Estados Unidos.
"Em um panorama como este, já não é possível falar de democracia, de Constituição, de uma forma de governo republicano", acusou o líder opositor, ex-aliado de Erdogan e atualmente seu grande inimigo.
Além disso, o religioso afirmou que o governo pode ter desempenhado um papel na tentativa de golpe.
"Há informações da imprensa que indicam que membros do partido no poder estavam a par da tentativa oito, 10 ou 14 horas antes", disse.