A chanceler da Alemanha, Angela Merkel: "Se a Sra. Merkel investigar, verá que os que se metem com a Turquia não têm um final auspicioso", disse o ministro da Turquia na UE, Egemen Bagis. (REUTERS/Charles Platiau)
Da Redação
Publicado em 20 de junho de 2013 às 16h05.
Istambul - A Turquia advertiu nesta quinta-feira a chanceler alemã, Angela Merkel, a não fazer política com suas ambições para entrar na União Europeia, e disse que o fracasso em abrir um novo capítulo nas conversas de adesão na próxima semana seria um grande revés para as relações de Ancara com o bloco.
Várias capitais da UE querem dar o esperado passo que levaria a Turquia rumo à UE na próxima semana, argumentando que a Europa deveria capitalizar sobre a crescente influência de Ancara no Oriente Médio.
Mas a Alemanha criticou a resposta dura do primeiro-ministro Tayyip Erdogan a semanas de protestos antigoverno e, aparentemente, se recusa a abrir uma nova área de negociação, potencialmente a primeira medida do tipo em três anos.
Os conservadores de Merkel rejeitaram a adesão da Turquia na UE em seu programa eleitoral alemão, dizendo que o país iria "sobrecarregar" o bloco por causa do seu tamanho e economia, o que provocou fúria em Ancara.
"Se a Sra. Merkel está atrás de material político interno para suas eleições, esse material não deveria ser a Turquia", disse o ministro da Turquia na UE, Egemen Bagis, a repórteres na quinta-feira.
"Se a Sra. Merkel investigar, verá que os que se metem com a Turquia não têm um final auspicioso", disse.
Governos europeus adiaram uma decisão na quinta-feira de retomar as negociações de adesão por causa da relutância de Berlim, preparando o palco para discussões de última hora na segunda-feira.
"Nada foi decidido. Os alemães têm que se reportar internamente, mas parece que eles tendem a não abrir o capítulo", disse um diplomata do bloco, que falou sob condição de anonimato.
A oposição na Alemanha à adesão da Turquia na UE cresceu nos últimos anos, com dois terços se opondo, segundo uma nova pesquisa da Forsa para a edição de quinta-feira da revista semanal Stern.
Merkel disse na segunda-feira que ficou "chocada" com a repressão sobre os manifestantes em Istambul. Os protestos começaram por causa de um projeto de renovação em um parque, mas espiralaram em um show inédito de desafio contra o que críticos de Erdogan chamam de seu autoritarismo.
A polícia disparou gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar manifestantes que respondiam com pedras, noite após noite, em cidades que incluíram Istambul e Ancara. Os tumultos fizeram quatro mortos e cerca de 7.500 feridos, com ferimentos variando de cortes a dificuldades respiratórias, disse a Associação Médica Turca.
Erdogan e seu governo se enfureceram com as críticas externas ao modo como o premiê tratou dos protestos, dizendo que a resposta não foi diferente da ação policial no passado em países como Alemanha e Estados Unidos.
Na quinta-feira, o jornal turco Hurriyet citou um diplomata do país dizendo que Ancara poderia suspender as negociações com Bruxelas se o novo capítulo -que lida com questões de financiamentos regionais- não for aberto na próxima semana, embora outras autoridades tenham sido mais cautelosas.
"Uma decisão de não abrir esse capítulo iria definitivamente enviar o sinal errado e iria atrair uma forte reação da Turquia", disse uma autoridade sênior turca à Reuters.