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"Turismo catástrofe" é lucrativo, do Japão a Nova Orleans

Atrações para alguns é puramente mórbida, mas também há os que buscam compartilhar a dor e encarar o impensável


	O único pinheiro que resistiu ao tsunami, que atingiu o Japão e varreu uma floresta inteira na cidade de Rikuzentakata, é visto entre as ruínas: o tsunami e o terremoto que o precedeu deixaram ao menos 18 mil mortos
 (Chris McGrath/Getty Images)

O único pinheiro que resistiu ao tsunami, que atingiu o Japão e varreu uma floresta inteira na cidade de Rikuzentakata, é visto entre as ruínas: o tsunami e o terremoto que o precedeu deixaram ao menos 18 mil mortos (Chris McGrath/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 1 de agosto de 2013 às 16h18.

Rikuzentakata - Rikuzentakata era uma cidade famosa por sua praia e por seus pinheiros majestosos no Pacífico japonês. Mas desde o tsunami de 2011, converteu-se em um polo de "turismo catástrofe", uma atividade lucrativa em muitos pontos do planeta.

A atração para alguns é puramente mórbida - vontade de contemplar as desgraças alheias - mas também há os que buscam compartilhar a dor e encarar o impensável.

"A pessoa não consegue se dar conta da monstruosidade do tsunami sem vir aqui para vê-lo com seus próprios olhos", afirmou Akira Shindo, um japonês de 15 anos que mora em Nova York.

O jovem se inscreveu em um tour pelo litoral nordeste do arquipélago, onde uma onda gigantesca arrasou no dia 11 de março de 2011 tudo o que encontrou pela frente.

O tsunami e o terremoto que o precedeu, de magnitude 9, deixaram ao menos 18.000 mortos.

Um dos principais atrativos deste "Tsunamiland" é o único pinheiro que ficou de pé. Os outros 70.000 foram arrancados pelas forças da natureza.

O "pinheiro milagroso" também acabou morrendo, corroído pela água marinha, mas foram investidos 150 milhões de ienes (1,6 milhão de dólares) para reconstituí-lo. Os meios de comunicação seguiram passo a passo o processo e o tronco embalsamado se converteu em um totem contra o esquecimento.

"Era a árvore mais alta, de 27 metros", afirma Mitsuko Morinaga, um guia voluntário de 62 anos que leva os turistas pela cidade ainda desfigurada pela fúria da terra e dor mar.

"Queria impedir que a lembrança do desastre se apagasse", disse à AFP Shuichi Matsuda, o agente de viagem que organizou esta excursão de 24 pessoas. O ônibus para na frente de um pequeno altar, onde cada participante deixa uma flor, já incluída no valor do passeio.


Os turistas não demonstram nenhuma fascinação doentia. Parecem, principalmente, impactados pelo panorama da devastação e tentam expressar, quando são interrogados, o espanto pela quantidade de vítimas perdidas.

Apesar de tudo, as zonas atingidas fascinam, assim como fascinam as imagens de um domador atacado por suas feras ou de um equilibrista que cai no vazio.

Em Louisiana (sudeste dos Estados Unidos), muitos turistas seguem visitando os bairros de Nova Orleans que ficaram há sete anos sob as águas do furacão Katrina.

Os moradores de um bairro reconstruído, saturados pela curiosidade mórbida de muitos visitantes, obtiveram a proibição deste tipo de excursões.

Em um cruzamento, um cartaz afirma: "Turistas, se envergonhem. Sigam seu caminho. Estão pagando por minha dor. Aqui morreram 1.600 pessoas".

Uma porta-voz do gabinete de turismo, Lauren Cason, afirma que os visitantes são bem-vindos, mas que os habitantes gostariam que sejam vistas as coisas positivas, como os esforços para reconstruir sua vida e sua cidade.

"Tentamos destacar que (Nova Orleans) é novamente uma cidade florescente", disse Cason à AFP.

Os grandes ônibus já não vêm, mas os "voyeurs" seguem chegando.

Duas agências de turismo (das trinta que a cidade possui) propõem seus "Katrina tours". Outros curiosos vêm com seus carros ou de táxi, rastreando vestígios do desastre.


Na Nova Zelândia, os moradores de Christchurch precisaram se acostumar com estes turistas que não param de fotografar e filmar as ruínas da catedral anglicana, outrora símbolo da cidade destruída em fevereiro de 2011 por um terremoto que deixou 185 mortos.

Um estudo da universidade local indicou que os habitantes queriam, apesar de tudo, regulamentar os tours e exigiam uma atitude respeitosa de visitantes fascinados pela morte e pelas catástrofes.

No entanto, estes turistas, pouco importa suas motivações, fornecem receitas às zonas que precisam delas com urgência para os trabalhos de reconstrução.

Em Rikuzentakata, Akira Oikawa é ciente disso e vende peixe, algas e outros produtos marinhos aos turistas.

"Agradecemos que venham e comprem produtos locais", afirmou o vendedor, antes de acrescentar: "Mas dói quando nos perguntam quantas pessoas morreram aqui. Gostaríamos de receber um pouco mais de empatia", comenta.

Um total de 1.800 pessoas morreram em Rikuzentakata.

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