Ben Ali, ex-presidente da Tunísia, acusava os grupos islâmicos de ser uma ameaça a segurança do país (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2011 às 19h59.
Túnis - Espectadores passivos da chamada "Revolução do Jasmim", os islamitas tunisianos pensam em aproveitar a queda do regime de Ben Ali para voltar ao cenário político, tomando cuidado, tal como os islamitas turcos, no poder em Ancara, para não assustar a sociedade, amplamente leiga.
Invisíveis durante a revolta popular de reivindicações sociais, e depois políticas, que precipitou a queda do ex-ditador, participaram pela primeira vez de uma manifestação na Tunísia, com o ex-presidente do movimento islamita Ennahda Sadok Shuru na liderança.
Já um líder do Ennahda, ilegal durante o regime de Ben Ali, anunciou à AFP que seu movimento apresentará uma demanda de legalização, levando ao pé da letra o anúncio do primeiro-ministro de transição, que prometeu que todos os partidos que solicitarem serão legalizados.
"Até agora não o fizemos porque éramos perseguidos e não podíamos nos reunir, mas contamos em apresentar uma demanda neste sentido", declarou à AFP Alí Laraidh, que passou 14 anos nas prisões de Ben Ali, de 1990 a 2004.
"Se a democracia for instaurada, será uma parte (do jogo político) como as outras, exerceremos nossos deveres e direitos", destacou, pedindo uma "anistia geral" - prometida pelo primeiro-ministro - para que os numerosos membros de Ennahda no exílio possam voltar ao país. Começando por Rached Ghanuchi, chefe do partido no exílio em Londres.
Um porta-voz do Ennahda anunciou de Paris que o movimento não apresentaria candidado à eleição presidencial, mas que gostaria de participar das legislativas. As duas eleições estão previstas para daqui há seis meses.
"Houve na Tunísia uma revolução do povo que reivindicou direitos sociais e políticos. Não queremos aparecer recuperando este movimento. Estamos disponíveis para consultar todo o mundo, as forças políticas e as da sociedade civil", explicou.
E acrescentou: "Estamos muito atentos ao que aconteceu desde 11 de setembro de 2001, com a percepção do Islã ou dos conflitos entre Oriente e Ocidente. Não queremos nem a violência, nem o medo".
Mas os islamitas representam uma ameaça para a sociedade tunisiana, como alegava permanentemente o regime de Ben Ali para justificar seu controle da segurança do país?
"São islamitas do tipo AKP (o partido do primeiro-ministro turco Recep Tayip Erdogan). Alguns os veem como moderados, outros como o lobo islâmico que ronda", comentou Mouhieddin Cherbib, membro fundador do Comitê para o respeito das liberdades e dos direitos humanos na Tunísia (CRLDHT).
"Atualmente, não se pode dizer que representam muito em termos de movimento organizado" e "a priori" não há terreno fértil para eles na Tunísia: nas manifestações, as reivindicações não eram a favor dos islamitas, e sim da democracia e da liberdade (...) Não são conhecidos da juventude tunisiana", acrescentou.
"Desde que foi decretada a democracia, nada impede sua existência enquanto partido político reconhecido. Mas enquanto militante leigo tenho meus temores", comentou à AFP o cientista político Larbi Chauikha.
"Está o Ennahda disposto a respeitar as conquistas e o Pacto nacional assinado pelos demais em 1989, ou seja, o respeito dos direitos das mulheres, a separação entre religião e política, em resumo, os valores universais dos direitos humanos?", perguntou-se Chauikha.
Béatrice Hibou, autora de "La force de l'obéissance, économie politique de la répression en Tunisie" ("A força da obediência, economia política da repressão na Tunísia"), "não se sabe o que os partidos no exílio representam na Tunísia, já que as eleições menos controladas datam de 1989".
Nestas eleições, os islamitas, que se apresentaram como um partido "independente", haviam conquistado 17% dos votos.