Corpos de peregrinos após tumulto nos arredores da cidade sagrada de Meca, na Arábia Saudita (Stringer/Reuters)
Da Redação
Publicado em 24 de setembro de 2015 às 16h17.
Riad - Um tumulto de fiéis muçulmanos nos arredores da cidade saudita de Meca deixou 717 mortos e 863 feridos nesta quinta-feira, a maior tragédia na peregrinação à cidade santa do islã (evento conhecido como "hajj") desde 1990, quando morreram 1.426 pessoas.
De acordo com um comunicado da Defesa Civil saudita, a avalanche de fiéis aconteceu pelo aumento no fluxo de peregrinos e pela entrada repentina de muitos à área onde estava prevista a realização do ritual de hoje, conhecido como "O apedrejamento do Diabo".
No mesmo caminho, os fiéis entravam e saíam para cumprir o rito do lançamento de pedras nas três colunas que simbolizam as tentações do diabo.
Em entrevista coletiva, o porta-voz do Ministério do Interior saudita, Manur al Turki, explicou que a tragédia ocorreu por "um tumulto que aconteceu em uma encruzilhada que une duas ruas de pedestres em uma só, que leva à cidade vizinha de Mina".
O ministro da Saúde saudita, Khaled Al Falah, culpou os peregrinos e ressaltou que "a aglomeração e o descumprimento das instruções (pelos fiéis) foram as causas do incidente".
Além disso, acrescentou que muitos peregrinos "caminham na direção contrária" e realizam os rituais "fora dos horários estabelecidos".
Com o objetivo de esclarecer detalhes, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Naif Abdelaziz, que é também ministro do Interior, ordenou a formação de uma comissão de investigação.
Uma testemunha identificada como Nabil disse à Agência Efe que "alguns peregrinos insistiram em voltar, após lançarem as pedras, pelo mesmo caminho da ida", o que provocou o aumento do número de pessoas e a confusão.
O espanhol Ahmed Amagnuy, que faz a peregrinação com a mãe, explicou por telefone que ambos saíram do local da correria momentos antes porque foram "espantar ao diabo" de madrugada, antes que tivesse muita gente.
"Éramos muitas pessoas, não dava para se movimentar, e além disso faz muito calor, é normal que tenha acontecido essa situação. O mais certo é que, de tanto empurrar, alguém caiu e iniciou as consequências", resumiu.
Amagnuy está no acampamento de Mina, aonde chegou na noite de ontem, e descreveu o ambiente atual como "tranquilo". Segundo ele, as pessoas "não estão preocupadas com o que aconteceu".
"Falar de morte aqui é normal, todos os dias rezamos por sete ou oito pessoas que morreram enquanto faziam a peregrinação. Na realidade é uma bênção morrer em Meca, temos o paraíso garantido e este é um lugar sagrado", exclamou.
O imã da mesquita de Riad, Ahmed al Gamedi, disse à Agência Efe que muitos peregrinos não sabem que o islã permite que "os fiéis atirem as pedras no lugar de mulheres, idosos e deficientes, o que teria diminuído o número de presentes ao rito".
Al Gamedi explicou que alguns peregrinos "insistem em atirar as pedras na mesma hora, sendo que esse rito pode ser cumprido durante o dia todo, até mesmo pela noite, caso seja necessário".
O ministro da Saúde informou que a pasta transferiria alguns dos feridos às cidades de Jidá e Taif, de modo a proporcionar "todos os serviços médicos".
O tumulto mais mortífero ocorrido nos últimos vinte e cinco anos não só em Meca, mas no mundo, aconteceu no dia 3 de julho de 1990, quando 1.426 pessoas morreram por asfixia e esmagamento no interior do túnel que liga Meca a Mina.
De acordo com o Ministério do Interior saudita, na ponte que leva ao túnel se concentraram bem mais peregrinos dos que a capacidade máxima da infraestrutura. A correria foi provocada pelos primeiros casos de asfixia devido a uma falha no sistema de ar condicionado.
Cerca de três milhões de pessoas participaram desde terça-feira do "hajj", que terminou hoje, com o início da realização do Eid al-Adha (Festa do Sacrifício), a mais importante para os muçulmanos.
A peregrinação a Meca constitui um dos cinco pilares do islã junto à "shahada" (profissão de fé), à esmola, à oração e ao jejum no mês do Ramadã.