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‘Trump Turco’: novo investidor de Trump

Steve Eder e Ben Protess © 2017 New York Times News Service Dallas – Antes de assumir a administração, Donald Trump afirmou que seu império ia evitar novos negócios no exterior enquanto fosse presidente, mas agora que a Organização Trump anuncia uma nova marca de hotéis, a promessa já não impede a empresa de trazer […]

DONALD TRUMP JR. E ERIC TRUMP: o grupo do presidente prometeu não investir no exterior, mas está trazendo estrangeiros para os EUA / Nancy Newberry/The New York Times

DONALD TRUMP JR. E ERIC TRUMP: o grupo do presidente prometeu não investir no exterior, mas está trazendo estrangeiros para os EUA / Nancy Newberry/The New York Times

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Da Redação

Publicado em 3 de abril de 2017 às 14h36.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h58.

Steve Eder e Ben Protess
© 2017 New York Times News Service

Dallas – Antes de assumir a administração, Donald Trump afirmou que seu império ia evitar novos negócios no exterior enquanto fosse presidente, mas agora que a Organização Trump anuncia uma nova marca de hotéis, a promessa já não impede a empresa de trazer negócios estrangeiros para o país.

A companhia, dirigida principalmente pelos filhos mais velhos de Trump, Eric e Donald Jr., trabalha no projeto de um hotel no centro de Dallas com uma empresa imobiliária com grande base turca. Caso seja construído, será controlado pela Scion, da Organização Trump, como uma alternativa mais acessível em sua linha cinco estrelas.

Um exame de documentos feito pelo New York Times, incluindo registros corporativos, e-mails privados e sites arquivados, descobriu que a Alterra Worldwide, imobiliária que será a proprietária do hotel e parceira dos Trump, tem ligações com negócios na Rússia, no Cazaquistão e em outras dezenas de países. Normalmente, uma experiência internacional como essa seria um apelo de venda, mas é fator complicador quando lida com as empresas de Trump, onde já existem preocupações internas sobre algumas das conexões estrangeiras da Alterra.

Essas revelações mostram que, enquanto a organização lança sua nova linha de hotéis em todo o país – propriedades administradas pela família, mas que pertencerão a seus parceiros –, uma ligação com a Alterra pode gerar envolvimentos estrangeiros e conflitos de interesse em potencial que a empresa disse que seriam evitados em suas relações internacionais.

O presidente da Alterra, Mukemmel Sarimsakci, é bem conhecido em Dallas, onde buscou investimento estrangeiro para outras incorporações, elogiadas por autoridades municipais. Além disso, o nome de Sarimsakci – que também é chamado de Mike, ou “Trump turco” – aparece em um site de consultoria especializada que cobra 465 dólares por hora por orientação para a realização de negócios em países como Irã, México e Nigéria. E já aconselhou os governos do Sri Lanka, Sudão, Azerbaijão e a Geórgia, entre outros, sobre energias renováveis, segundo ele mesmo confirmou ao Times.

Yusuf Sarimsakci, seu irmão e parceiro de negócios de longa data, ajudou a supervisionar o crescimento em todo o mundo, incluindo o Ritz-Carlton em Moscou, perto do Kremlin, hotel onde Trump ficou, em 2013, enquanto o concurso de Miss Universo foi realizado na cidade. Nesse projeto, Yusuf trabalhou com um rico empresário cazaque que tem laços com o líder linha-dura daquele país.

“Temos negócios de construção na Rússia, no Cazaquistão e no Iraque, e um grande escritório em Istambul. É lá que meu irmão e parceiro trabalha”, disse Mike Sarimsakci em 2015, em um evento de uma startup no Texas.

A análise dos negócios internacionais da Alterra feita pelo Times também descobriu que Yusuf havia trabalhado com um grupo de empresas anônimas e em paraísos fiscais, o que apareceu no grande vazamento de documentos jurídicos e financeiros conhecido como os Papéis do Panamá. Pelo menos três dessas companhias têm endereço nas Ilhas Virgens Britânicas, que o Departamento do Tesouro – independentemente de Yusuf, que nunca foi acusado de má fé – identificou como sede de uma entidade norte-coreana sancionada.

A pesquisa descobriu que a Alterra e seus associados fizeram negócios em países que têm relações tensas e complexas com os Estados Unidos, incluindo a Turquia, que se tornou um ponto fraco para a administração de Trump. (Sarimsakci não respondeu às perguntas sobre sua opinião em relação à política turca, embora posts de 2015 no Twitter mostrem algum apoio ao governo do presidente Recep Tayyip Erdogan.)

Em janeiro, Trump e seus advogados anunciaram seu plano de ética, que incluía colocar o negócio em um fundo gerido por seus dois filhos mais velhos e um executivo, além de nomear um consultor de ética externo e um conselheiro de conformidade para revisar potenciais negócios.

A possível parceria com a empresa de Sarimsakci não esclareceu ainda os obstáculos éticos; em particular, os advogados que examinam o negócio se mostraram preocupados com algumas das ligações estrangeiras, incluindo os laços de Yusuf com a Rússia, de acordo com uma pessoa com informações sobre o assunto, mas que não estava autorizada a falar publicamente.

É possível que a parceria prossiga apenas se Sarimsakci concordar com restrições a seus parceiros e com o financiamento do negócio. O processo de veto é iterativo, permitindo que a Organização Trump reestruture as negociações se o oficial de ética encontrar algum problema.

Em uma entrevista, Eric Danziger, o CEO da operação hoteleira na Organização Trump, disse que a empresa assinou cartas de intenção com Sarimsakci e cerca de 30 outros parceiros em todo o país, mas que não havia contratos ou garantias finais. De todos os sócios, Sarimsakci é o único que foi confirmado publicamente, pois alardeou o negócio na mídia local.

“Esse proprietário em particular saiu à frente por qualquer motivo”, afirmou Danziger, que disse também que havia quatro negócios da Scion em potencial na área de Dallas, chamando a cidade de “um mercado perfeito”. Ele contou que uma provável parceria com a Alterra ainda estava sendo estudada e que suas ligações internacionais não iriam desqualificá-la automaticamente.

Na elaboração de sua política de ética presidencial, Trump deu consideração extra às relações internacionais, graças à cláusula da constituição que impede que empregados federais aceitem presentes de líderes ou governos estrangeiros. Ele prometeu que os lucros obtidos de governos estrangeiros nos hotéis Trump já existentes seriam doados ao tesouro dos EUA.

Projetos nos Estados Unidos, mesmo os financiados com dinheiro estrangeiro, sem dúvida não representam uma ameaça à reputação e ética da empresa ou do presidente, porque todos estão sujeitos a regulamentações e leis locais. Mesmo assim, uma vez que há o envolvimento de dinheiro estrangeiro, pode ser difícil traçar suas origens.

Mike Sarimsakci foi citado no Dallas Business Journal dizendo que o negócio seria financiado por seus familiares e empresariais na Turquia e no Cazaquistão. Em declarações recentes ao Dallas Morning News, que já reportou suas dificuldades jurídicas e empresariais nos Estados Unidos, ele afastou essas alegações e disse que o dinheiro viria apenas de si mesmo e de dois parceiros dos Estados Unidos, e preferiu não dar mais detalhes.

Sarimsakci disse que espera trabalhar com os hotéis Scion em várias cidades, mas Dallas parece ser a primeira.

Com os projetos estrangeiros engavetados, a marca Scion, anunciada em setembro, é uma parte essencial dos planos de expansão da Organização Trump. Além de Dallas, ela busca locais em Austin, no Texas, Cincinnati, Nashville, no Tennessee, e Charlotte, na Carolina do Norte como parte de sua estratégia de abrir hotéis de quatro estrelas em mercados secundários.

Mas Danziger, responsável pela área hoteleira de Trump, advertiu que até metade dos potenciais de oferta da Scion pode ir por água abaixo e que possíveis parceiros não deveriam antecipar as divulgações.

“Pela minha experiência, a baleia que se exibe é a primeira a ser arpoada.”

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