O presidente americano afirmou que algumas organizações midiáticas são inimigas do povo (Yuri Gripas/Reuters)
Reuters
Publicado em 20 de agosto de 2018 às 15h29.
Genebra - O chefe de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) disse nesta segunda-feira que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem "uma enorme responsabilidade" pela maneira como a mídia é retratada e que seus comentários podem ter um efeito secundário que poderia prejudicar jornalistas em outros países.
Jornais dos EUA publicaram editoriais na última quinta-feira defendendo a liberdade de imprensa em reação ao fato de Trump ter classificado algumas organizações midiáticas de inimigas do povo norte-americano.
"Rotular a imprensa desta maneira é muito preocupante", disse o alto comissário dos Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra'ad al-Hussein, em uma entrevista abrangente concedida dias antes do final de seu mandato de quatro anos.
"O presidente deveria estar ciente de que tem uma enorme responsabilidade sobre seus ombros quando se trata da maneira como a mídia está sendo retratada", disse Zeid ao falar a Reuters, Associated Press e Agence France Presse em seu escritório em Genebra.
"Porque isso também tem um efeito de demonstração, outros líderes em conjunturas autoritárias farão a mesma coisa. Vimos agora como eles imitam o presidente Trump, e o que pode já ser uma situação difícil em outros países se torna ainda mais difícil para a imprensa operar, para os jornalistas descobrirem histórias, para os advogados fazerem seu trabalho e para os defensores dos direitos humanos fazerem seu trabalho", acrescentou.
Os comentários de Trump refletem a visão de muitos conservadores - a de que muitos veículos de mídia distorcem, inventam ou omitem fatos por causa de uma inclinação contrária a eles. O presidente republicano disse que apoia o princípio da liberdade de imprensa, mas descreveu muito do que a mídia publica como "notícias falsas".