Donald Trump: transferência da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém foi uma das principais promessas de campanha de Trump (Ronen Zvulun/Reuters)
AFP
Publicado em 6 de dezembro de 2017 às 07h06.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconhecerá nesta quarta-feira Jerusalém como a capital de Israel, ignorando décadas de uma diplomacia cautelosa de Washington sobre este tema sensível para o Oriente Médio e as advertências de líderes regionais.
Trump anunciará sua decisão às 18H00 GMT (16H00 Brasília) de quarta-feira, quando "dirá que o governo dos Estados Unidos reconhece Jerusalém como capital de Israel", revelou um alto funcionário, que pediu para não ser identificado.
O presidente também determinará que se prepare a transferência da embaixada dos Estados Unidos de Tel-Aviv para Jerusalém, mas este movimento poderá exigir "alguns anos".
"Exigirá algum tempo para se encontrar um local para atender as questões de segurança, projetar o prédio, financiá-lo e construí-lo", destacou o funcionário.
Trump não estabelecerá agora um calendário para a mudança da sede diplomática, acrescentou.
Mais cedo, durante uma série de telefonemas diplomáticos, Trump informou ao líder palestino, Mahmud Abbas, e ao rei da Jordânia, Abdullah II, que o projeto profundamente polêmico que representa o reconhecimento americano de Jerusalém como capital de Israel avançava, embora não tivesse uma data para concluí-lo.
O estatuto de Jerusalém é um tema-chave no conflito israelense-palestino, e ambas as partes reivindicam a cidade como sua capital.
A notícia sobre a intenção de Trump gerou reações de repúdio na comunidade árabe.
A Liga Árabe pediu que Washington reconsidere sua decisão, enquanto o rei Salman, da Arábia Saudita, aliado dos Estados Unidos na região, advertiu que a mudança poderia desatar "a ira dos muçulmanos em todo o mundo".
À noite, o presidente americano falou com o rei Salman e o presidente egípcio, Abdel Fattah Al-Sisi. Ambos advertiram-no a não avançar na mudança de embaixada.
"É uma iniciativa perigosa", disse o rei saudita, reportou de Riade a emissora de TV Al Ekhbariya.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse a Trump que o estatuto de Jerusalém é uma "linha vermelha para os muçulmanos" e ameaçou cortar os laços diplomáticos da Turquia com Israel.
O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abul Gheit, expressou que os membros da entidade decidiram se reunir no Cairo diante do "perigo desta questão e suas possíveis consequências negativas não só para a situação da Palestina, mas também na região árabe e islâmica".
As mesmas palavras foram usadas pelo líder do movimento islâmico palestino Hamas, Ismail Haniyeh, para quem "o reconhecimento da administração americana de Jerusalém ocupada como a capital da ocupação e a transferência da embaixada para Jerusalém ultrapassam todas as linhas vermelhas".
Em carta enviada a dirigentes árabes e muçulmanos, o movimento islâmico convocou os palestinos dos Territórios a se manifestarem na sexta-feira, proclamando, segundo uma expressão já consagrada, um "dia de cólera".
Em virtude do anúncio de manifestações anunciadas pelos palestinos, Washington decidiu restringir a seus funcionários qualquer deslocamento pessoal na Cidade Velha de Jerusalém.
A interdição vale também para a Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel e contíguo a Jerusalém, acrescentou o Departamento de Estado. Apenas deslocamentos oficiais "essenciais", seguidos de medidas de segurança suplementares, estão autorizados.
O Departamento de Estado advertiu, ainda, que "os cidadãos americanos devem evitar os locais onde se concentrem multidões e os lugares onde houver forte presença policial ou militar".
A transferência da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém foi uma das principais promessas de campanha de Trump.
Trump diz querer relançar os diálogos de paz congelados entre Israel e os palestinos em busca de um "acordo definitivo", mas seu reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel poderá destruir tal esforço, alertou um funcionário palestino.
"Não aceitaremos mais a mediação dos Estados Unidos, não aceitaremos a mediação de Trump. Será o fim do papel desempenhado pelos americanos neste processo", disse Nabil Chaath, alto conselheiro do presidente palestino, Mahmud Abbas.
A presidência palestina disse que Trump informou Abbas sobre "sua intenção de transferir a embaixada dos Estados Unidos" em Israel, durante uma conversa por telefone entre os dois dirigentes.
Durante a conversa, Abbas advertiu Trump das "perigosas consequências de tal decisão sobre o processo de paz, a segurança e a estabilidade na região e no mundo", acrescentou a Autoridade Palestina em um comunicado.
Abbas reafirmou sua "posição firme sobre que não pode ter Estado palestino sem Jerusalém leste como capital, conforme as resoluções e a lei internacionais e a iniciativa de paz árabe", destacou o texto.
O secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erakat, destacou que a mudança da embaixada americana a Jerusalém provocaria um desastre.
O presidente francês, Emmanuel Macron, advertiu Trump que o estatuto de Jerusalém deve ser decidido "no marco das negociações de paz entre israelenses e palestinos".
Em meio a desacordos internos na Casa Branca, vários funcionários americanos não puderam informar o que Trump vai decidir.
No entanto, o ministro israelense da Defesa, Avigdor Lieberman, solicitou ao presidente americano para aproveitar esta "oportunidade histórica".
Todas as embaixadas estrangeiras em Israel ficam em Tel Aviv, com representações consulares em Jerusalém.
Em 1995, o Congresso americano adotou uma lei prevendo a transferência da embaixada para Jerusalém. No entanto, uma cláusula permite aos presidentes adiar a mudança por seis meses renováveis, uma medida que foi utilizada por Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama.
Supunha-se que Trump assinaria na segunda-feira o decreto para adiar por mais seis meses a transferência da embaixada americana para a Cidade Santa.