EUA-China: Xi Jinping e Donald Trump (Mikhail Svetlov/Getty Images)
João Pedro Caleiro
Publicado em 17 de junho de 2020 às 17h48.
Última atualização em 17 de junho de 2020 às 19h18.
Um novo livro que está prestes a ser lançado faz novas alegações explosivas sobre a relação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com outras potências mundiais.
De acordo com o Washington Post e outros veículos de imprensa, a obra do ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton alega que Trump teria pedido ao presidente da China, Xi Jinping, que o ajudasse a vencer a reeleição em 2020.
O diálogo teria ocorrido durante o encontro do G-20 no Japão alguns meses em junho. Quando Xi citou os críticos americanos da China, Trump supôs que ele estaria falando do Partido Democrata
“Ele então, surpreendentemente, direcionou a conversa para a eleição presidencial americana vindoura, aludindo à capacidade econômica da China de afetar a campanha seguinte, suplicando com Xi para garantir que vencesse”, escreve Bolton.
A ajuda seria através de um aumento das compras chinesas de produtos agrícolas americanos como soja e trigo, importantes para estados rurais disputados e que foram uma das vítimas da guerra comercial que marcou o mandato de Trump.
O caso evoca o diálogo de Trump com o presidente da Ucrânia no qual sugeriu retomar suspeitas sobre seu rival democrata, Joe Biden, em troca de liberação de uma ajuda militar. A revelação levou à abertura do processo de impeachment por abuso de poder e obstrução de Justiça, aprovado pela Câmara dos Deputados de maioria democrata e barrado no Senado de maioria republicana. Bolton não colaborou.
Apesar de várias obras já terem exposto o caos da administração Trump, inclusive de dentro, o novo livro se destaca por Bolton ser um veterano linha-dura do Partido Republicano. Ele foi demitido por Trump em setembro em meio a divergências em uma série de questões de política externa.
Na segunda-feira (15), ao falar a jornalistas na Casa Branca, Trump afirmou que qualquer conversa com ele é confidencial. No dia seguinte, o Departamento de Justiça entrou com um processo para barrar a publicação do livro, prevista para o próximo dia 23.
Segunda a editora Simon and Schuster, há na obra detalhes sobre negociações de Trump com a Coreia do Norte, Irã, Reino Unido, França e Alemanha. Bolton alega que Trump foi manipulado várias vezes de forma simplória por líderes autoritários como Tayyip Erdogan, da Turquia, e Vladimir Putin, da Rússia.
A preferência dos oficiais chineses por uma reeleição de Trump parece contraintuitiva diante da guerra comercial, mas tem a lógica de que levaria a uma “erosão das alianças americanas” que superaria “qualquer dano causado à China decorrente de disputas comerciais e instabilidade geopolítica”.
“Se [Joe] Biden for eleito, acredito que isso poderia ser mais perigoso para a China, porque ele trabalhará com aliados para nos atingir, enquanto Trump está destruindo alianças dos EUA”, disse Zhou Xiaoming, um ex-negociador chinês e ex-representante em Genebra à Bloomberg. Outras quatro autoridades afirmaram ter o mesmo sentimento.
(Com Clara Cerioni)