Donald Trump: "Esta não é uma questão de armas", insistiu, antes de citar um "problema de saúde mental no mais alto nível" (Shizuo Kambayashi/Pool/Reuters)
AFP
Publicado em 6 de novembro de 2017 às 14h39.
Os Estados Unidos estavam de luto nesta segunda-feira (6), após o assassinato de 26 pessoas em uma igreja no Texas, massacre que o presidente Donald Trump pediu para não ser considerado erro da legislação das armas.
O massacre aconteceu apenas cinco semanas depois do ataque em Las Vegas, o tiroteio com o maior número de mortos registrado no país com 58 vítimas fatais, o que reativou mais uma vez o debate sobre a legislação do porte de armas nos Estados Unidos.
Donald Trump, atualmente em uma visita pela Ásia, chamou o ataque de "tiroteio assustador" e um "ato de maldade", mas voltou a descartar que o acesso às armas nos Estados Unidos represente um problema.
"Eu penso que a saúde mental é o problema aqui. Este era - baseado em informações preliminares - um indivíduo muito perturbado", afirmou durante uma entrevista coletiva em Tóquio, primeira escala de sua viagem à Ásia.
"Esta não é uma questão de armas", insistiu, antes de citar um "problema de saúde mental no mais alto nível".
As vítimas, com idades entre cinco e 72 anos, participavam do serviço religioso na Primeira Igreja Batista de Sutherland Springs, uma cidade rural de cerca de 400 habitantes localizada 50 quilômetros a sudeste de San Antonio.
O atirador, identificado como Devin Kelley, de 26 anos, foi descrito pelas autoridades como um jovem branco que foi encontrado morto em seu carro após uma perseguiçãp.
A Força Aérea informou que Kelley serviu em uma base no Novo México desde 2010, antes de ser julgado por uma corte marcial em 2012 por agredir sua esposa e filho.
Sentenciado a 12 meses de prisão, sofreu uma baixa desonrosa por má conduta, segundo indicou à AFP Ann Stefanek, porta-voz da Força Aérea.
No domingo às 11h20 locais (15h20 de Brasília), o jovem, vestido totalmente com roupas pretas, abriu fogo em frente à igreja antes de entrar no recinto e seguir atirando, afirmou Freeman Martin, diretor regional do Departamento de Segurança Pública do Texas.
"Quando deixava a igreja, um morador conseguiu pegar o fuzil e enfrentou o suspeito, que fugiu. O cidadão perseguiu então o suspeito", indicou Martin.
Segundo o xerife Joe Tackitt falando à cadeia CBS, Kelley teria cometido suicídio durante a perseguição que se seguiu a sua fuga.
Kelley foi perseguido por dois homens em uma caminhonete quando seu carro bateu na beira da estrada e o xerife acredita que foi nesse momento que o indivíduo se suicidou com uma arma de fogo.
Um cidadão armado o viu sair da igreja depois do tiroteio e parou uma caminhonete para pedir ajuda ao motorista. "Preciso de ajuda, aquele homem atirou na igreja. Vamos segui-lo", contou Tackitt.
Várias armas foram encontradas em seu veículo, que foi periciado por especialistas.
"Temos várias cenas de crime. Temos a igreja, a parte externa da igreja. Temos o local onde o veículo do suspeito foi encontrado", afirmou Martin.
"A tragédia é maior por ter acontecido em uma igreja, um lugar de adoração", declarou o governador do Texas, Greg Abbott, alertando que o número de vítimas fatais poderia aumentar.
Os feridos foram levados a vários hospitais com "ferimentos que vão de menor gravidade até muito severos", explicou Martin.
Entre os mortos está a filha de 14 anos do pastor Frank Pomeroy, segundo indicou o líder da igreja à ABC News.
Annabelle Renee Pomeroy "era uma menina muito especial", declarou seu pai, que não estava no momento do massacre.
Entre as vítimas, um menino de seis anos chamado Rylan passava por uma cirurgia após receber quatro tiros, informou seu tio à CBS News. Outro menino de dois anos também foi ferido, de acordo com um jornal local.
Favorável ao porte de armas de fogo, Trump não se arriscou nesta segunda-feira a debater o tema, limitando-se a prometer "total apoio" de seu governo ao "grande estado do Texas e a todas as autoridades locais que investigam este crime horrível".
"Estamos com o coração partido. Nos reunimos, unimos nossas forças (...) Através das lágrimas e nossa tristeza permanecemos fortes", disse o presidente em Tóquio.
"Nos faltam palavras para expressar a pena e a dor que sentimos", completou.
Mais cedo, já havia se manifestado pelo Twitter: "Que Deus esteja com o povo de Sutherland Springs, Texas. O FBI & agências da lei estão na cena. Estou monitorando a situação do Japão".
Como em tiroteios anteriores, os democratas renovaram os pedidos por um controle e uma legislação das armas de fogo, uma tema complexo em um país que considera quase sagrado o direito ao porte de armas.
Denunciando um "ato de ódio", o ex-presidente Barack Obama declarou: "Que Deus conceda a todos nós a sabedoria para perguntar que medidas concretas podemos tomar para reduzir a violência e as armas entre nós".
Em 1º de outubro, os Estados Unidos tiveram o pior tiroteio de sua história recente, quando o aposentado Stephen Paddock de 64 anos atirou a esmo de um quarto de hotel de Las Vegas, Nevada. Matou 58 pessoas e feriu cerca de 550 das 22 mil que assistiam a um show de música country ao ar livre.
O tiroteio no Texas não foi o primeiro em um templo religioso. Em junho de 2015, Dylann Roof, um supremacista branco, matou nove pessoas na igreja de Emanuel, em Charleston (Carolina do Sul), símbolo da luta dos negros contra a escravidão. Em janeiro deste ano, ele foi condenado à pena de morte em janeiro.