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Trump não está tão atrás quanto parece. Veja por que ele ainda pode ganhar

Embora as pesquisas nacionais deem sete pontos de vantagem para Joe Biden, nos estados a intenção de voto está muito mais apertada

Donald Trump e Joe Biden: em 2016, as pesquisas acertaram nacionalmente, mas subestimaram as chances de Trump nos estados decisivos (Montagem/Exame)

Donald Trump e Joe Biden: em 2016, as pesquisas acertaram nacionalmente, mas subestimaram as chances de Trump nos estados decisivos (Montagem/Exame)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 2 de novembro de 2020 às 08h00.

Os números finais chegaram: foi neste fim de semana que a maior parte dos institutos de pesquisa divulgou seus últimos veredictos sobre a eleição americana. Falta um dia para o fim da votação nesta terça-feira, 3 de novembro, e mais de 60 milhões de pessoas já votaram antecipadamente.

Seguindo o padrão das últimas semanas, os números mostram Joe Biden à frente do presidente republicano Donald Trump, que disputa a reeleição. Mas não se engane: haverá um cenário muito mais disputado nos estados decisivos, que são os que de fato importam na eleição americana (veja no gráfico abaixo).

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Enquanto Biden tem sete pontos de vantagem na contagem nacional dos votos (51% a 44% na média das pesquisas feita pelo Real Clear Politics) e chega a ter até 11 pontos em algumas pesquisas, a briga é muito mais apertada na prática. Na Flórida, um dos estados mais importantes, o democrata perde, empata ou ganha por muito pouco a depender da pesquisa que se olha.

Na Pensilvânia, cotada para ser um estado divisor de águas nesta eleição, a vantagem de Biden é de quatro pontos. Parece muito, mas, com uma margem de erro de três pontos ou dois pontos, por exemplo, e algum erro nas pesquisas como em 2016, o democrata pode perder o estado. No Wisconsin, Hillary tinha a mesma vantagem que Biden tem hoje, de mais de seis pontos, mas terminou perdendo.

Assim, se Trump repetir o que aconteceu no último pleito e vencer em lugares como a Pensilvânia ou a Flórida, a reeleição do presidente passa a ser muito mais possível. Como mostrou um levantamento exclusivo da EXAME, no limite, é possível que um candidato vença nos EUA com só 23% dos votos válidos do país (no Brasil, é necessária uma maioria de 50% mais um voto).

Outro desafio é que Biden terá mais de seus votos vindos do correio do que Donald Trump. Alguns desses votos podem ser perdidos no meio do caminho, algo que sempre acontece -- a diferença é que, até então, havia uma proporção muito menor de votos à distância.

Por isso, esta eleição deve ser uma das mais disputadas, controversas e caóticas da história recente. O FiveThirtyEight calcula que Trump tem 10% de chances de vencer a eleição, ou uma chance em cada dez tentativas. É uma margem menor do que os cerca de 30% que ele tinha em 2016, mas ainda não necessariamente desprezível.

Há 14 estados com eleições mais apertadas e que podem decidir neste ano. Muitos deles são swing states clássicos, isto é, costumam ser decisivos em todos os pleitos americanos, como a Flórida ou a Pensilvânia.

Outros podem ser surpresas em 2020, como o Arizona e o Texas (historicamente republicanos, mas com possibilidade de vitória democrata neste ano) ou New Hampshire (historicamente democrata, mas com possibilidade de vitória republicana).

Nate Silver, fundador do FiveThirtyEight e um dos nomes mais respeitados sobre projeções eleitorais, escreveu em artigo nesta semana que, segundo seu modelo estatístico, para Trump conseguir uma reviravolta nos moldes de 2016, as pesquisas teriam de estar ainda mais erradas do que naquele ano.

O estatístico aponta que uma chance de 30% que Trump tinha em 2016 facilmente poderia virar vitória caso as pesquisas saíssem minimamente da margem de erro, o que de fato aconteceu naquela eleição. Mas desta vez, Silver calcula que, mesmo que as pesquisas nos estados decisivos saiam da margem na mesma proporção que saíram em 2016, Biden ainda ganharia.

Em 2016, as pesquisas acertaram a vitória nacional de Hillary Clinton, mas desfavoreceram Trump nos estados decisivos onde o republicano terminou ganhando

Os casos mais emblemáticos não previstos pelas pesquisas em 2016 foram no Wisconsin, na Pensilvânia e no Michigan, onde Hillary aparecia ganhando mas terminou perdendo por uma margem apertada, por apenas alguns milhares de votos.

Por causa do modelo eleitoral americano, que é diferente do brasileiro, Trump venceu a eleição de 2016 mesmo sem ter tido maioria dos votos. Nos EUA, cada estado tem alguns votos dos 538 que compõem o chamado colégio eleitoral. Os votos são distribuídos de acordo com a população, embora não haja uma proporção definida -- o que faz um eleitor em Ohio "valer" mais do que um em Nova York na prática.

Em quase todos os 50 estados, com exceção de dois, o candidato vencedor no estado leva todos os votos do colégio eleitoral. O estado com mais votos no colégio eleitoral é a Califórnia, com 55 votos, mas o estado é pouco importante na eleição porque costuma votar sempre nos democratas. Os estados mais relevantes são aqueles onde a disputa é mais apertada e os dois partidos têm chances de vencer (veja no gráfico).

Além da vantagem maior de Biden, há ainda outros motivos pelos quais a vitória dos democratas desta vez é mais provável: há mais pesquisas sendo feitas nos estados decisivos depois das surpresas de 2016, e a vantagem de Biden sofreu poucas variações negativas -- ao contrário de Clinton, que começou a cair na reta final da campanha.

Na Pensilvânia, por exemplo, Hillary tinha 2 pontos de vantagem a esta altura, metade do que tem Biden hoje (Trump venceu por lá com 0,7 ponto).

Ainda assim, as chances sempre existem, é claro. "Você não consideraria uma vitória do underdog em uma eleição como esta uma ocorrência rotineira. Mas, bem, é plausível, e não é difícil encontrar precedentes para isso", escreveu Silver.


Ouça o último episódio podcast EXAME Política, com análise sobre a reta final da eleição americana. 

 

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