Os EUA não serão um campo de imigrantes, e não serão um complexo para manter refugiados, disse Trump (Leah Millis/Reuters)
AFP
Publicado em 18 de junho de 2018 às 16h00.
Última atualização em 18 de junho de 2018 às 16h01.
Washington - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reafirmou nesta segunda-feira as controvertidas medidas contra famílias de migrantes na fronteira, apesar do crescente escândalo causado pelos milhares de casos de separação familiar.
"Os Estados Unidos não serão um campo de imigrantes, e não serão um complexo para manter refugiados", enfatizou, voltando a responsabilizar os congressistas democratas por uma legislação que considera "horrível".
Ele chegou a mencionar a crise política migratória na Europa para justificar suas criticadas medidas internas de tolerância zero.
Segundo ele, entre os migrantes que tentam entrar no país, há pessoas "que podem ser assassinos, ladrões e muitas coisas mais. Queremos um país seguro e isso começa na fronteira. E assim será".
Em apenas seis semanas, entre abril e final de maio, quase 2.000 crianças e menores de idade foram separados de suas famílias ao entrar clandestinamente no país, em uma medida que desatou uma onda de indignação generalizada no país.
A controvérsia é tamanha que Trump se referiu ao tema durante uma cerimônia na Casa Branca dedicada ao programa espacial americano.
Em seu discurso, Trump disse que "se olharmos o que acontece na Espanha, o que acontece em outros lugares... não podemos permitir que isso aconteça nos Estados Unidos. Não sob meu comando".
Pouco antes, em uma série de postagens no Twitter, Trump destacou o "grande erro cometido em toda a Europa ao permitir a entrada de milhões de pessoas que mudaram sua cultura de forma tão forte e violenta".
A secretária de Segurança Interna, Kirstjen Nielsen, afirmou nesta segunda-feira que os Estados Unidos não pedirão desculpas ou cederão por estar fazendo o trabalho que o povo americano espera do governo.
"Não se confundam: nossa fronteira (sul) está em crise. Está sendo explorada por criminosos e milhares de pessoas que não têm respeito por nossas leis", afirmou.
De acordo com a funcionária, o governo não tem outra opção a não ser separar as crianças das famílias imigrantes.
"Não podemos deter os menores com seus pais. Devemos liberar os pais e as crianças ou devemos separá-los para poder processar os adultos", justificou.
Por sua parte, o secretário da Justiça, Jeff Sessions, também assegurou que o governo não deseja continuar com a criticada separação das crianças, mas também concorda na falta de opção.
"Não queremos separar as crianças de seus pais (...) E não queremos trazer crianças para este país de forma clandestina, colocando-as em risco", acrescentou.
No entanto, Sessions reforçou que "esta é uma das razões pelas quais os americanos elegeram Trump". "Para por fim da ilegalidade na fronteira sul", destacou.
No entanto, Trump voltou a insistir que a responsabilidade por esta situação é dos legisladores do Partido Democrata, que se negama negociar uma lei migratória.
"Se os democratas decidirem negociar invés de criar obstáculos, poderíamos fazer algo muito rapidamente, algo de bom para as crianças, para o país e para o mundo. Isso poderá acontecer rapidamente", afirmou.
A insistência de Trump na polêmica lei que separa as famílias se apoia em uma legislação aprovada durante o governo de Barack Obama e já foi questionada por políticos democratas e republicanos.
A medida de separação de crianças de suas famílias já provocou iradas reações não apenas em solo americano como também no âmbito das Nações Unidas.
Em uma rara crítica ao governo dos Estados Unidos, o chefe da ONU, Antonio Guterres, afirmou que as crianças imigrantes não devem ser separadas de suas famílias na fronteira entre os Estados Unidos e o México.
"As crianças não podem ser traumatizadas sendo separadas de seus pais", afirmou.
"É preciso preservar a unidade familiar", afirmou o porta-voz de Guterres, Stephane Dujarric.
"Como regra geral, o secretário-geral acredita que os refugiados e migrantes devem ser tratados com respeito e dignidade", acrescentou.
O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeiz Ra'ad Al Hussein, destacou que a media é inadmissível e cruel.
"Pensar que um Estado busca dissuadir os pais, infligindo tal abuso às crianças, é inadmissível", afirmou Al Hussein na abertura de uma sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra.
Em uma nota, a líder do bloco democrata na Câmara Representantes, Nancy Pelosi, foi dura em relação à medida adotada pelo governo Trump.
"Esta política bárbara viola nossas leis de asilo e os direitos constitucionais dos pais", assegurou.
O coro de indignados também teve a voz de Laura Bush, esposa do ex-presidente George W. Bush, para quem "esta política de tolerância zero é cruel". "É imoral e faz doer meu coração", acrescentou.