Trump: (Kevin Lamarque//Reuters)
Reuters
Publicado em 5 de dezembro de 2017 às 18h51.
Washington/Jerusalém - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse a líderes árabes nesta terça-feira que pretende transferir a embaixada dos EUA em Israel para Jerusalém, medida que romperia com décadas de política norte-americana e que pode estimular novas instabilidades no Oriente Médio.
Autoridades seniores dos EUA disseram que Trump deve reconhecer na quarta-feira Jerusalém como capital de Israel, enquanto adia a realocação da embaixada por mais seis meses, ainda que ele deva ordenar a seus assistentes que comecem a planejar a mudança de Tel Aviv imediatamente.
O endosso dos EUA à reivindicação de Israel de que toda Jerusalém é considerada capital reverteria uma política norte-americana de longa data de que o status da cidade deve ser decidido em negociações com os palestinos, que querem o leste de Jerusalém como capital de seu futuro Estado. A comunidade internacional não reconhece a soberania de Israel sobre a cidade toda, que é casa de locais sagrados aos muçulmanos, judeus e cristãos.
O presidente palestino Mahmoud Abbas, rei Abdullah da Jordânia e o presidente do Egito Abdel Fattah al-Sisi, que receberam ligações de Trump na terça-feira, se juntaram a um coro de vozes que afirmam que qualquer medida unilateral dos EUA sobre Jerusalém pode desencadear tumultos.
Trump notificou Abbas "de sua intenção de mudar a embaixada norte-americana de Tel Aviv para Jerusalém", disse o porta-voz de Abbas, Nabil Abu Rdainah.
Abbas, em resposta, "alertou sobre as perigosas consequências que tal decisão teria para o processo de paz e para a paz, segurança e estabilidade da região e do mundo" e também apelou ao papa e líderes de Rússia, França e Jordânia para intervirem.
O monarca da Jordânia disse a Trump que mudar a embaixada teria "repercussões perigosas" para a região que obstruiriam os esforços dos EUA de promover as negociações de paz entre Israel e palestinos, de acordo com um comunicado do palácio.
Sisi, do Egito, alertou Trump contra "tomar medidas que prejudicariam as chances de paz" e complicariam questões no Oriente Médio, disse um comunicado presidencial divulgado no Cairo.
Nenhum dos comunicados dos líderes informou se Trump, que também deve negociar com o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu, especificou o tempo para a mudança da embaixada.
As autoridades norte-americanas, no entanto, falando sob condição de anonimato, disseram que Trump assinaria uma renúncia de segurança nacional - como fizeram seus predecessores - mantendo a embaixada em Tel Aviv por mais seis meses, mas que se comprometeria em acelerar a mudança. Não ficou claro, no entanto, se ele havia estipulado uma data.
Trump, que prometeu em sua campanha presidencial de 2016 mudar a embaixada para Jerusalém e que anunciará sua decisão em discurso na quarta-feira, segundo a Casa Branca, parece empenhado em satisfazer a base pró-Israel de direita, que o ajudou a vencer as eleições.
O Ministro da Inteligência de Israel, Israel Katz, que se encontrou na semana passada com autoridades norte-americanas em Washington, disse à rádio do Exército de Israel: "Minha impressão é a de que o presidente irá reconhecer Jerusalém, a eterna capital do povo judeu por 3 mil anos, como capital do Estado de Israel."
Perguntado se Israel estava se preparando para uma onda de violência caso Trump reconhecesse Jerusalém como capital israelense, ele disse: "Estamos nos preparando para todas as opções. Qualquer coisa desse tipo pode sempre explodir. Caso Abu Mazen (o presidente palestino Mahmoud Abbas) vá nessa direção, ele estará cometendo um grande erro."
A Turquia ameaçou nesta terça-feira romper laços diplomáticos com Israel caso Trump reconheça Jerusalém. "Sr. Trump, Jerusalém é linha vermelha para os muçulmanos", disse o presidente turco Tayyip Erdogan em reunião parlamentar de seu partido AK.
Autoridades seniores dos EUA disseram à Reuters que algumas autoridades no Departamento de Estado também estavam profundamente preocupadas e que a União Europeia, a Autoridade Palestina, a Arábia Saudita e a Liga Árabe todas alertaram que tal declaração teria repercussões pela região.