Donald Trump, durante audiência na Suprema Corte de Nova York (Seth Wenig/AFP)
Redação Exame
Publicado em 11 de janeiro de 2024 às 17h57.
Última atualização em 11 de janeiro de 2024 às 19h12.
O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ignorou os avisos do juiz em seu julgamento de fraude civil em Nova York nesta quinta-feira e transformou a audiência de apresentação dos argumentos finais em um palanque eleitoral, alegando que os promotores estão tentando impedir seu retorno político.
A Suprema Corte de Nova York exige US$ 370 milhões (R$ 1,8 bilhão) de Trump por causa das alegações de fraude — e para impedi-lo de conduzir negócios no estado onde ele fez seu nome como um magnata imobiliário famoso.
Trump havia tentado apresentar ele mesmo todas as alegações finais, mas a permissão foi negada quando ele não assinou as restrições destinadas a impedi-lo de usar o tribunal como plataforma eleitoral.
O juiz Arthur Engoron, então, permitiu que Trump fizesse breves comentários adicionais após a fala de seu advogado — novamente insistindo para que o candidato presidencial republicano e ex-presidente respeitasse as regras do tribunal.
Trump quase que imediatamente se lançou em um duro ataque contra o procurador-geral do estado de Nova York.
"Eles querem garantir que eu nunca mais ganhe [uma eleição]. Ele [o procurador-geral] odeia Trump e se eu não puder falar sobre isso, é um desserviço", disparou.
Engoron tentou interromper Trump com um aviso para encerrar sua declaração, mas o ex-presidente rebateu dizendo que o juiz tinha “um roteiro pronto” e, por isso, não queria escutá-lo.
Engoron disse ao advogado de Trump para "controlar seu cliente".
O julgamento é um dos vários casos criminais e civis que Trump enfrenta ao tentar retornar à Casa Branca, que vão desde uma alegação de estupro até a conspiração para anular o resultado da eleição de 2020. Ele também é acusado de inflar fraudulentamente o valor de suas propriedades a fim de obter empréstimos bancários favoráveis.
"Os inúmeros esquemas enganosos que eles empregaram para inflar os valores dos ativos e ocultar fatos foram tão ultrajantes que desmentem uma explicação inocente", disse o gabinete da procuradora-geral de Nova York, Letitia James, em um documento.
Se for considerado culpado, o valor a ser pago por Trump e suas empresas será revelado na decisão final do juiz, cuja data não foi confirmada. Como o caso é civil e não criminal, não há ameaça de pena de prisão.
Em um exemplo dado ao tribunal, a equipe de James alegou que Trump avaliou Mar-a-Lago, seu clube exclusivo na Flórida, usando "preços sugeridos", em vez de preços de venda reais, para uma comparação.
"De 2011 a 2015, os réus aumentaram em 30% o preço porque a propriedade era uma 'instalação [comercial] concluída'", diz o processo.
Mas o advogado de Trump, Chris Kise, disse que "não há nenhuma evidência clara e presente que estabeleça a intenção de Donald Trump". "O caso deles não é razoável", afirmou.
Kise reconheceu que poderia haver erros nas demonstrações financeiras corporativas de Trump, mas nenhum "leva à conclusão de que houve fraude".
"Não se pode permitir que o procurador-geral persiga uma fraude sem vítimas e busque uma 'pena de morte corporativa'", declarou Kise, chamando a soma buscada de "especulação".
Um helicóptero de uma emissora de TV sobrevoou o tribunal lotado e um pequeno grupo de manifestantes anti-Trump se reuniu do lado de fora, gritando "sem ditadores nos EUA".
Trump, como de costume, aproveitando ao máximo o grande interesse da mídia, disse aos repórteres que estava sendo submetido a uma "caça às bruxas". No tribunal, afirmou que era um "homem inocente" que estava sendo "perseguido".
Trump deve ser julgado em Washington em março por conspirar para anular os resultados da eleição de 2020, e na Flórida, em maio sob a acusação de ter levado uma grande quantidade de documentos altamente secretos em seus pertences pessoais quando deixou a Presidência.
O ex-presidente, que sofreu dois processos de impeachment durante seu mandato, também enfrenta acusações de extorsão na Geórgia por supostamente conspirar para alterar os resultados das eleições no estado sulista após sua derrota em 2020 para o democrata Joe Biden.
Trump está recorrendo de uma decisão da mais alta corte do Colorado que o manteria fora da cédula das primárias presidenciais no estado por causa de seu papel na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 por seus apoiadores. O caso está sob análise da Suprema Corte.
Com Agência O Globo e AFP.